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Exposição que aborda o racismo toma conta dos ônibus da RMR

Iniciativa do Centro Cultural Daruê Mulengo com o Instituto Luz Natural ganha destaque no transporte público do Grande Recife

Daniel Ferreira
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Daniel Ferreira
Publicado em 16/10/2020 às 14:15
Andréa Leal
Crianças e adolescentes protagonizam sua própria existência por meio de imagens - FOTO: Andréa Leal

"Eu já sofri preconceito na escola porque danço afoxé. Me sinto livre e aprendi a respeitar as religiões africanas. Para quem também já sofreu preconceito, eu digo: 'levante a cabeça.'". O trecho foi retirado de um relato do jovem Rian Lucas da Silva Carvalho, 10 anos. Ele e alguns outros garotos e garotas farão parte da rotina dos usuários do transporte público no Grande Recife, a partir de hoje, com o lançamento do fotolivro Por Uma Infância Sem Racismo. O projeto do Instituto Luz Natural, instituição sem fins lucrativos que utiliza a fotografia como ferramenta de mudança social, ganha destaque nos ônibus da RMR e traz à tona um tópico bastante abordado nos últimos tempos, o preconceito racial.


A campanha, que também vem como uma homenagem ao menino Miguel Otávio Santana da Silva, 5, morto no dia 9 de junho, é uma iniciativa do Centro Cultural Daruê Malungo, que trabalha com arte e cultura negra, atende crianças e adolescentes e atua há 30 anos no bairro de Chão de Estrelas, na zona norte do Recife.

No espaço, que alcança 40 crianças e famílias, os jovens são contemplados com aulas de capoeira, canto, cidadania, hip hop, dança afro e popular, percussão, leitura e artes visuais. Idealizadora do Instituo Luz Natural, a fotógrafa Andréa Leal assina as imagens e comenta como foi trabalhar, em cima de um tópico tão relevante, com quem tem vivência com a problemática. "São crianças orgulhosas de sua cultura, seu grupo, das roupas que vestem e de sua história. E isso tornou o momento ainda mais especial, porque percebi a entrega delas e a vontade de se fazer notar, de se mostrar, trazendo verdade e beleza", afirmou. Com isso, ela conseguiu representar um tema tão pesado por meio de imagens leves e agradáveis. "Estou aqui, existo e quero respeito" é a mensagem encontrada nelas.


GRATIFICAÇÃO


Especializada em fotografia de gestantes, nascimentos, crianças e família, Andréa Leal revelou que a cautela foi essencial no processo, principalmente por estar lidando com garotos e garotas que já foram vítimas de preconceito. "A criança chega com olhar desconfiado, observando, e aos poucos o ensaio flui. Ficam tão felizes quando percebem que estão sendo valorizadas, que estamos ali por elas, pela sua arte e sua cor, que o resultado das fotos foi um verdadeiro presente", comemora Andréa.


A fotógrafa se sente realizada com os projetos sociais com os quais tem trabalhado. "Me sinto extremamente feliz em poder fazer com que meu ofício tenha um propósito maior. Ter esse privilégio de ressignificar algumas questões através da minha arte é muito gratificante."


O local escolhido para a exposição das fotos pode parecer inusitado. Só que não. O grande fluxo de passageiros diários nos ônibus foi determinante, além da variedade de perfis que utilizam o sistema de transporte público no Grande Recife. Isso faz com que muitos se sintam representados pelas imagens. "Como não podemos fazer uma exposição em local fechado por conta da pandemia, essa também foi uma solução, ao lado da exposição virtual, que todos podem ver apontando o celular para o QR Code que está no cartaz ou pelo site", explica Andréa.


Vilma Carijós, presidenta, coordenadora geral e coreógrafa da Daruê Malungo enxerga a campanha como um ótimo caminho para levar representatividade, além de propagar o movimento e a luta antirracista. "O dia dia nos mostra a camada de racismo que existe na sociedade. Como pessoa negra, vejo como de grande importância para os 32 anos de Daruê Malungo, em ouvir e ler depoimentos de crianças que se reconhecem pretas e pretos. É o início de um empoderamento sem retorno", ressalta com convicção.


O fotolivro, que está sendo vendido por R$ 155, conta com 62 páginas de imagens, depoimentos e orientações para o combate ao racismo na infância encartados em material de fino acabamento, em papel couchê fosco, impressão fotográfica e capa dura. Sobrevivendo com ajuda de voluntários e doações, a entidade receberá os lucros da venda do material do projeto para dar continuidade ao trabalho.


As fotos também podem ser vistas em uma exposição virtual no link ou pelo QR Code dos banners nos ônibus. https://todacriancaeespecial.andrealealfotografia.com

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