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'A Maldição da Mansão Bly' utiliza terror para tratar das relações humanas

SUCESSO Da Netflix, A Maldição da Mansão Bly, dirigida por Mike Flanagan, reúne elenco afiado e prende ao investigar medos e afetos

Márcio Bastos
Cadastrado por
Márcio Bastos
Publicado em 25/10/2020 às 15:23
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AFETO Dani (Victoria Pedretti) vive processo de cura e autoaceitação com o auxílio de Jamie (Amelia Eve) - FOTO: EIKE SCHROTER/NETFLIX/DIVULGAÇÃO
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O estadunidense Mike Flanagan tem se destacado como um dos principais diretores de obras inspiradas no terror e seus subgêneros, a exemplo dos filmes Hush e Ouija - Origem do Mal, ambos de 2016, e Doutor Sono (2019), adaptado do livro de Stephen King. Também de sua autoria, o projeto A Maldição (The Hauting), que já havia chamado a atenção com a ótima primeira temporada, intitulada Residência Hill, retorna igualmente afiado em novos episódios, desta vez em um novo cenário e com novos personagens em A Maldição da Mansão Bly.

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Aparentemente idílica, mansão centenária guarda segredos mortais - NETFLIX/DIVULGAÇÃO

Nestes novos episódios, Dani (Victoria Pedretti, que também participou da primeira temporada), uma professora americana que está em Londres para tentar fugir de um acidente do passado que ainda a atormente, aceita o emprego de babá de duas crianças órfãs residentes em uma mansão no interior britânico. Ela chega para substituir a antiga cuidadora, Rebecca Jessel (Tahirah Sharif), que suicidou-se no lago da propriedade.

Os irmãos Flora (Amelie Bea Smith) e Miles (Benjamin Evan Ainsworth) recebem a nova tutora de braços abertos, assim como os funcionários da mansão: a governanta Hannah Grose (T'Nia Miller), o cozinheiro Owen (Rahul Kohli) e a jardineira Jamie (Amelia Eve). Logo, no entanto, ela começa a perceber movimentações estranhas na casa, entre elas comportamentos adultizados do garoto e eventuais aparições de Peter (Oliver Jackson-Cohen), ex-funcionário acusado de roubar uma fortuna do tio das crianças, Henry (Henry Thomas), e que até então era dado como desaparecido.

Segue, portanto, uma tendência que ganha força nos últimos anos, a de um terror mais psicológico, em que o sobrenatural é usado como instrumento para falar de questões profundamente humanas e materiais, como os traumas e as relações interpessoais.

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SINTONIA Em meio a elenco de peso, atores mirins destacam-se - EIKE SCHROTER/NETFLIX

O roteiro, assim como na primeira temporada, é livremente inspirado em clássicos da literatura, neste caso, as obras de Henry James. Sem pressa em desvendar as questões de seus protagonistas, o diretor permite que todos, incluindo os coadjuvantes, brilhem e acrescentem nuances à trama, o que gera uma gradual afeição do público.

HISTÓRIA DE AMOR

Com exceção das assombrações presenciadas por Dani nos primeiros episódios (que a partir de certo momento ficam um pouco cansativas e, por sorte, são resolvidas ainda na metade da temporada), a presença dos fantasmas produz mais reflexões do que medo. Essas criaturas sobrenaturais não são necessariamente sinônimo de maldade e possuem profunda relação com as questões dos vivos.

O elenco afiado, incluindo as crianças, consegue criar momentos de profunda delicadeza, com destaque para as tramas envolvendo Dani e Jamie e Hannah e Owen. A história da governanta, inclusive, é responsável por um dos episódios mais instigantes e surpreendentes da temporada. Outro destaque é a trama envolvendo o grande mistério da temporada, relacionado à figura feminina que assombra a mansão, que é esclarecido em um episódio excelente, digno de ser lembrado nas premiações do ano que vem.

Como aponta uma das personagens, mais do que uma história de terror, a trama de A Maldição da Mansão Bly pode ser lida a partir de diferentes chaves, entre elas como uma história de amor, de família, pertencimento, (auto)aceitação e amizade.

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