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'Curral' constrói drama político no Agreste de Pernambuco

Dirigido por Marcelo Brennand, o longa é estrelado por Thomas Aquino e Rodrigo García, fazendo sua estreia nesta quinta-feira na Mostra São Paulo, realizada virtualmente

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 22/10/2020 às 16:53
DANIELA NADER/DIVULGAÇÃO
EXCELÊNCIA Thomas e Rodrigo vivem Chico e Joel. Dupla mistura bem intensidade e sutileza, potencializando perfeitamente o drama proposto - FOTO: DANIELA NADER/DIVULGAÇÃO
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Mais de uma década depois de lançar Porta a Porta: A Política em dois tempos, documentário centrado em disputas políticas durante campanhas eleitorais no município de Gravatá, o cineasta Marcelo Brennand estreia Curral, que aborda…disputas políticas durante campanhas eleitorais no município de Gravatá. Agora sob a articulação de uma narrativa ficcional, seu novo longa nasce a partir do desejo de aprofundar as vivências que teve na construção de seu documentário, tendo a cidade do Agreste pernambucano como um microcosmo dos jogos de afetos e princípios da política nacional.

A produção está disponível na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, realizada virtualmente neste ano e que segue até o próximo dia 4 de novembro. O filme é centrado na figura de Chico Caixa (Thomas Aquino, de Bacurau), um motorista de caminhão-pipa que perde o emprego por levar água a um assentamento rural esquecido pela administração pública. Então surge a figura de Joel (Rodrigo García, Tatuagem e Amor de Mãe), um velho amigo advogado que decide se candidatar a vereador da cidade, sob um velho discurso que ganhou uma nova roupagem nos últimos anos: o do outsider, “sem rabo preso”, que vem de fora da política para renová-la.

O trabalho de Chico é usar a confiança que tem de uma parte das populações periféricas da cidade para angariar votos, trabalho que coloca em jogo princípios éticos e relações pessoais, entre esperanças e desilusões. "Queria fazer esse aprofundamento nas questões e personagens que estão no documentário, mas também transcender a lógica de uma realidade local. Uma abordagem que trata os aspectos psicológicos, a relação com a natureza e investigar raízes políticas brasileiras e seus traços que vêm desde a República Velha, como é o próprio curral eleitoral", relata Brennand.

A direção de Marcelo se empenhou em dar uma tônica documental ao contar dessa história. Sua câmera é mais solta e sua montagem não é tão fragmentada, com planos mais longos, que costumam acompanhar seus personagens pelos espaços, como mais um membro do comitê da campanha. Os atores puderam viver na cidade antes das gravações e até conhecer pessoas nas quais seus personagens foram inspirados. Nesse tom, a própria escolha de Gravatá como âncora dessa narrativa serve à esse propósito, levando em consideração o conhecimento do diretor sobre dinâmicas da cidade.

"Gravatá possui características que retratam muito bem um certo Brasil. É uma cidade que abriga zonas rurais e periferias. E há esse deslocamento das áreas rurais para as periferias na perspectiva de uma melhora que não acontece, elas deixam de passar fome lá para passar fome no centro. Há essa Gravatá que é desconhecida para as pessoas do Recife que têm casa lá e turistas. Há uma contradição muito grande em um lugar que quer ser chamada de 'Suíça brasileira', mas tem grandes problemas de falta d’água", elabora Marcelo.

Daniela Nader/DIVULGAÇÃO
MARCELO BRENNAND NAS FILMAGENS DE 'CURRAL' - Daniela Nader/DIVULGAÇÃO

E para dar conta dessas ambições realistas em seu filme, Marcelo contou com nomes de muita excelência em seu elenco, dos recorrentes aos secundários. A dupla Thomas Aquino e Rodrigo García vive Chico e Joel misturando bem intensidade e sutileza, potencializando muito bem o drama proposto. Em volta deles, vão aparecer nomes como os atores Giordano Castro e Pedro Wagner, do grupo de teatro Magiluth, a atriz Clébia Sousa que vem colecionando excelentes performances no cinema pernambucano e o veterano José Dumont, que segundo Marcelo, forneceu um grande aprendizado de improvisação durante as filmagens.

Agora o filme faz sua estreia em pleno momento de disputa eleitoral. Os principais candidatos do filme se utilizam do vermelho, amarelo e azul em suas campanhas, cores que foram escolhidas por serem “mais universais” na política, segundo Marcelo. Esse momento de chegada, em que o filme dialoga mais intensamente com a realidade não foi muito acaso.

"Sendo sincero, eu me esforcei ao máximo para filmá-lo em 2018 e ficar pronto no período das campanhas eleitorais municipais. Ele foi escrito em 2013, mas parece se tornar cada vez mais atual. Com a pandemia, eu cheguei a sugerir que segurar o filme, mesmo que perdendo o timing. Mas veio o convite da Mostra, onde exibi também Porta a Porta. Finalizamos o filme apenas no final de agosto e ele já saiu direto do forno para estrear faltando menos de um mês para as eleições", conclui o diretor.

Daniela Nader/DIVULGAÇÃO
CENA DE 'CURRAL', LONGA FILMADO EM GRAVATÁ - Daniela Nader/DIVULGAÇÃO

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CENA DE 'CURRAL', LONGA FILMADO EM GRAVATÁ - FOTO:Daniela Nader/DIVULGAÇÃO
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MARCELO BRENNAND NAS FILMAGENS DE 'CURRAL' - FOTO:Daniela Nader/DIVULGAÇÃO

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