Estreia

'Como Cães e Gatos: Peludos Unidos!' coloca bichinhos contra os celulares

Como Cães e Gatos 3: Peludos Unidos!, dirigido por Sean McNamara, é uma das estreias da semana no Moviemax Rosa e Silva; confira a análise

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 23/10/2020 às 18:48 | Atualizado em 03/11/2020 às 19:58
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DOGVERSO Animais se unem contra um inimigo comum: o vilão da tecnologia que quebrou a harmonia - FOTO: DIVULGAÇÃO

É interessante pensar uma historiografia a partir do que move filmes que colocam cães e gatos como protagonistas (o aqui chamado "dogverso"). Por mais bobo que seja, cada uma dessas obras são, por necessidade externas ou internas, obras dos seus respectivos tempos.

Ainda mais quando pensamos em um termo como "dogverso" para englobar uma gama de filmes do gênero. O que anuncia também um certo desgaste desses trabalhos, lançados aos montes anualmente.

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Uma reflexão possível é quantos "Beethovens" ou "Garfields" tivemos nesta última década de fluxo intenso. Até para um exótico fã desses tipos de filmes, chegar a uma resposta deve ser uma tarefa difícil.

Numa cultura "trending topics", de fluidez de figuras em evidência, o dogverso encara uma pulsão ficcional cada vez mais descentralizada. E isso serve também para o entretenimento infantil. Existem cada vez menos os grandes protagonistas caninos ou felinos que impactem e sejam impactados pela cultura pop no geral.

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Cena de 'Como Cães e Gatos 3: Peludos Unidos!' - Divulgação

Como Cães e Gatos 3: Peludos Unidos!, dirigido por Sean McNamara, consegue ser um reflexo e tentativa de resposta isso. O filme estreou na quinta-feira (22) no Moviemax Rosa e Silva, na reabertura dos cinemas do Recife.

O longa narra a história de Roger, um cão de um jovem jogador de tênis, e Gwen, uma gata de uma jovem aspirante a artista. Os dois unem forças, como agentes secretos de uma grande agência que mantém a paz entre as duas espécies, para investigar um vilão que quebrou justamente essa harmonia.

Não há muito de diferente que se esperar de Como Cães e Gatos 3, além da natural progressão pedagógica com gimmicks de catarse dramáticas localizadas. Tudo mesclado com pitadas de humor infantil relacionados aos animais, e o que diz interesse aos seus donos: o tênis e a música.

O que diferencia e aproxima Como Cães e Gatos 3 das várias obras do gênero é sua auto consciência do que muitos outros não queriam assumir. A grande potência desses longas não reside nas personalidades inventadas dos bichinhos, mas em uma pretensa mensagem que os filmes carregam.

Neste sentido, Como Cães e Gatos 3 se assume, basicamente, como um trabalho de postura reacionária em relação à modernidade dos celulares e sua inserção totalizante na vida das pessoas. O próprio mote inicial da trama dos animais se passa a partir da usurpação e eventual queda do sistema tecnológico que mantém a harmonia entre eles.

Sem todo o aparato, eles devem recorrer a métodos manuais e antigos então substituídos pela tecnologia. A mesma jornada serve para a progressão da estrutura dramática que abrange os seus donos. Em certo momento, são os bichinhos (que se sentem trocados pelos aparelhos) que agem para que na ausência dos celulares, eles se conheçam.

Cachorros, gatos, cacatuas e largatos se enfrentam pela atenção dos humanos, mas todos eles estão sob o reinado da tecnologia. É algo que o filme tentará combater e ao mesmo tempo entender sua resignação inevitável (o destino do largato, por exemplo, é algo bem definidor).

No final de tudo, pouco importa a personalidade dos bichinhos, a trama e suas metáforas diretas é que vão marcar toda duração do longa.

Para a criançada, a mensagem ficará clara: talvez por alguns dias depois de assistirem Cães e Gatos 3, elas larguem o Youtube para brincarem com seus pets. Mas para os pais também: nem eles, nem seus filhos, conseguem pensar em um futuro sem seus aparelhos.

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