NATAL

Por causa da pandemia, Baile do Menino Deus vai virar telefilme

Espetáculo marca o período natalino, e já reuniu milhares de turistas e conterrâneos no Marco Zero do Recife

Thalis Araújo
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Thalis Araújo
Publicado em 11/11/2020 às 21:25 | Atualizado em 11/11/2020 às 21:35
HANS VOU MANTEUFELL
Espetáculo marca o período natalino - FOTO: HANS VOU MANTEUFELL

Em um período pandêmico, o Baile do Menino Deus convida os brasileiros para “abrirem suas portas” para a chegada do “Menino Divino”. O espetáculo natalino que reúne milhares de turistas e conterrâneos no Marco Zero do Recife, se prepara para contar a história mais famosa do mundo, de uma forma desafiadora. É que neste ano, o Baile que faz uma leitura irreverente do nascimento de Jesus Cristo, vai chegar até às casas dos brasileiros através de um filme.

A proposta desse telefilme é encenar a apresentação da mesma forma que ela é todos os anos no Marco Zero, usando a linguagem do cinema, mas sem perder qualquer característica própria da montagem.

O longa inédito da grande ópera popular nordestina, que se orienta nas tradições de festas e representações teatrais do ciclo natalino, incorporadas às mais diversas culturas do Brasil, começa a ser gravado nesta quinta-feira (12), e conta com direção geral de Tuca Siqueira (Amores de Chumbo e Fashion Girl) e direção de fotografia de Pedro Sotero (premiado em Cannes com o filme Bacurau).

Produtora, roteirista e diretora de cinema, a pernambucana Tuca Siqueira iniciou sua carreira em 2003. Sua trajetória conta com diversas séries, filmes e documentários premiados. Entre eles, Amores de Chumbo, seu primeiro longa de ficção, considerado uma verdadeira pérola cinematográfica, pela crítica. Ela conta sua expectativa sobre a sua participação no espetáculo deste ano.

“Eu tive a sorte de ter pais que sempre me levaram ao teatro, e minha relação com a consciência do coletivo sempre foi muito forte por causa do meu envolvimento com a dança e o teatro, desde pequena. Acho que isso foi o que me levou para o audiovisual que é uma arte tão coletiva. Assisti o Baile pela primeira vez no ano passado. Me emocionou muito pela ousadia e coragem política de se apresentar uma Maria negra e um José rastafari. Tudo isso me dá muito mais orgulho de ter recebido o convite para dirigir o espetáculo. Foi um presente pra mim e será uma grande surpresa para o público.“

Diretor de fotografia desde 2006 no Recife, lugar onde desenvolveu uma consistente filmografia de curtas e longas-metragens, Pedro Sotero fotografou filmes que incluem três seleções oficiais no festival Cannes, à exemplo de Aquarius, Bacurau e O Som ao Redor. Em 2018, ele ganhou o prêmio de melhor fotografia no SSIFF, com longa argentino Rojo e em 2019, trabalhou na pesquisa, roteiro e fotografia do filme instalação SWINGUERRA, obra selecionada pra representar o Brasil na Bienal de Veneza e finalista do prêmio ABC 2020.

A diretora de produção, Carla Valença, e Ronaldo Correia de Brito, criador e roteirista do Baile, oficializaram a ideia de transformar o espetáculo em filme, no mês de agosto. “Estremecemos só em pensar, mas partimos para o desafio de realizar três produções, dentro de uma mesma e gigante produção, que é a do Baile”, para não deixar o público sem o espetáculo”, comenta Ronaldo.

Proteção à covid-19

Preocupados com a segurança dos artistas e de todos os profissionais envolvidos na produção, as gravações do Baile contam com todos os critérios de segurança, exigidos em tempos de pandemia e uma equipe médica formada por cinco profissionais e dois consultores foi contratada para criar um protocolo de segurança e prevenção à covid-19.

“Quebramos a cabeça, pensamos muito com toda a nossa equipe, para que a consagração de um trabalho que começou há 37 anos não fosse interrompida e que fosse realizada de forma segura para os mais de 300 artistas e profissionais envolvidos em sua realização” reforça Ronaldo.

Na edição do ano passado, o Baile do Menino Deus quebrou mais um recorde de público levando mais de 70 mil pessoas, de todos os lugares do Brasil, para a Praça do Marco Zero do Recife.

“Era um desejo mais antigo de fazer o espetáculo num formato de filme, estamos felizes e ansiosos pois a oportunidade de realização chegou. Quando se deu a pandemia, eu e Ronaldo nos reunimos com muitas pessoas com o objetivo de vislumbrar caminhos e agregar profissionais com a expertise do teatro e do audiovisual, já prevíamos a possibilidade de não poder acontecer presencialmente”, revela a produtora Carla Valença.

Parte da Trilogia das Festas Brasileiras, que retratam manifestações populares nordestinas como, a Bandeira de São João e Arlequim de Carnaval, no Baile do Menino Deus, a dupla de “Mateus” (personagens principais) é interpretada pelos atores Sóstenes Vidal e Arilson Lopes, que se revezam com Paulo de Pontes e Daniel Barros. Juntos, eles buscam uma forma de abrir a porta da casa onde estão José, Maria e o recém-nascido Jesus, para celebrar a vida em clima de festa.

Uma saga que recorre a sortilégios, brincadeiras e invocação de criaturas fantásticas, como a Burrinha Zabilin, o Jaraguá e o Boi. Tudo com muita música e dança.

O que faz o Baile do Menino Deus ser único na cena natalina brasileira é o seu projeto de resgatar várias formas de celebração do Natal, que sobreviveram e se guardaram apenas no Nordeste brasileiro. Reisado, lapinha, pastoril, cavalo marinho, guerreiro, chegança, boi de reis e outras manifestações.

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