CRÍTICA

'Verão de 85' abraça atmosferas do melodrama em romance juvenil

Dirigido por François Ozon, o filme é uma das principais obras do Festival Varilux, realizado em diversos cinemas do Recife

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 19/11/2020 às 17:28 | Atualizado em 19/11/2020 às 17:28
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OITENTISTA Ozon reconstitui atmosfera vibrante e intensa - FOTO: DIVULGAÇÃO

Com a chegada do Festival Varilux de Cinema Francês nesta quinta-feira pelos cinemas da Região Metropolitana, também chega um de seus mais aguardados filmes, a história de amor juvenil Verão de 85, dirigida por François Ozon. O diretor traz uma relação intensa entre dois rapazes que habitam uma pequena cidade no litoral francês e embarca em uma onda de filme sobre descobertas juvenis de afetos e sensualidade, que se fincam em territórios e tempos que se destacam tanto quanto as pessoas que ali habitam. Contudo, este projeto do cineasta francês parece muito mais interessado em se deter nos tons melodramáticos possíveis dessas histórias do que em outros aspectos. O que lhe dá força, mas também lhe rouba energia dramática.

Acompanhamos o adolescente Alexis, que vive as angústias dos 16 anos no clima solar da Normandia. Em um dia de marasmo, pega emprestado o barco de um amigo para velejar e acaba sofrendo um naufrágio. O resgate vem na figura de David, jovem um pouco mais velho que o resgata e ali se inicia uma enérgica amizade. Enquanto conhecemos essa história de amizade que logo se transforma em um romance, também avançamos no tempo para descobrir que haverá algo sórdido nesse relacionamento, que colocou o protagonista em uma situação de melancolia e em problemas com a justiça.

Se discute muito como a representação de relacionamentos homossexuais tendem a cair em histórias fatalistas e densas. Não dá pra saber até que ponto Ozon é consciente dessa discussão enquanto uma crítica, mas certamente ele é consciente de que esses caminhos existem, assim como os mais doces e é na flutuação entre ambos que o diretor investe sua energia. Ele se utiliza de uma paisagem solar, de uma granulação nostálgica e da plástica vibrante dos anos 1980, mas também faz questão de adentrar em um território mais sombrio e melancólico. Ambos compartilham um mesmo apelo melodramático que pode até ser considerado estridente e simplista.

Nesse sentido, Ozon parece brincar com essas duas atmosferas, experimentando até que ponto, a partir de um melodrama básico, uma consegue ou não contaminar a outra. Ele tem uma mão intensa nas imagens e momentos de encanto pueril, seja em relação ao amor, ao sexo e ao futuro. Nesse campo, ao mesmo tempo em que adota uma postura vibrante, impulsionada pela textura oitentista, se permite sutilezas, em especial ao lidar com a proximidade dos corpos dos dois rapazes no espaço, sugestiva, mas orgânica. São duas personagens que parecem ser incorporações de tipos consolidados no imaginário do amor juvenil, seja no jovem ingênuo que está descobrindo tudo ou no outro que é intenso e volátil, extravagante em sua vontade de viver.

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DESTAQUE Verão de 85, de Ozon, foi selecionado para o Festival de Cannes que seria realizado este ano - DIVULGAÇÃO

Já seu segmento mais sombrio, esse apelo ao simplismo melodramático é menos eficiente do que na porção solar do filme. Há sim um impacto que a montagem consegue atingir com a mudança de tom, mas o desbravamento desse eixo mais denso é um pouco menos cativante, tanto em seu pretenso mistério quanto em sua próprio peso dramático. Mas ainda assim, é a flutuação entre os tons acaba por si só minimizando o pouco apelo desse segmento. A impressão geral é de que estamos lidando com sensações que ao mesmo tempo pulsam vida e morte e em como elas se portam dentro do espectro da percepção juvenil.

 Ozon pode contar com atuações que embarcam nessa proposta que apenas trisca em um naturalismo. Félix Lefebvre e Benjamin Voisin mergulham de cabeça na intensidade dos seus citados tipos, seja na inocência ou na extravagância. O que acaba servindo muito bem ao propósito de Ozon em mais deixar uma marca de clima e imagem do melodrama juvenil nostálgico do que se prender a outros apelos narrativos mais realistas ou políticos.

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DESTAQUE Verão de 85, de Ozon, foi selecionado para o Festival de Cannes que seria realizado este ano - FOTO:DIVULGAÇÃO

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