Convenção fica mais bizarra

FANTASIA Diretor Robert Zemeckis erra na poção mágica dos efeitos especiais. Anne Hattaway também não convence como bruxa má

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 21/11/2020 às 2:00
WARNER BROS/DIVULGAÇÃO
NOVA VERSÃO Anne Hathaway foi escalada para representar a bruxa má que Angelica Houston tornou icônica no Convenção das Bruxas de 1990 - FOTO: WARNER BROS/DIVULGAÇÃO
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Chegou nesta semana aos cinemas do Recife a nova versão de um dos clássicos mais marcantes da Sessão da Tarde, o divertido, mas aterrorizante, Convenção das Bruxas.

Dirigido em 1990 pelo britânico Nicolas Roeg, o filme ficou famoso pela icônica rainha das bruxas interpretada por Anjelica Huston. Com um apelo visual comum à época, Roeg criou, talvez, a mais instigante adaptação de obras do escritor Roald Dahl. O que não deixa de ser um feito invejável quando temos um panteão composto por James e o Pêssego Gigante, Matilda e A Fantástica Fábrica de Chocolate.

Em 2020, foi a vez de Robert Zemeckis transfigurar o universo de Dahl para os cinemas, cedendo ou abraçando a algumas especificações de produção, como foi a escalação da atriz Anne Hathaway para viver a rainha das bruxas na trama (só fatores de distribuição externa podem justificar esta escolha).

Trata-se aqui de uma "batalha" entre dois autores, com assinaturas bem específicas. As intenções de Roeg com a obra de Dahl eram bem diferentes do que Zemeckis vem fazendo em seus filmes nestes últimos anos. A sutileza do drama infantil construído num universo verdadeiramente aterrorizante dão lugar agora a um abraço caricatural ao CGI (coisa que Zemeckis faz desde uma Cilada para Roger Rabbit, de 1988).

Aliando isso a bizarra escalação de Anne Hathaway como principal antagonista, todo universo imagético de Convenção das Bruxas é uma grande confusão que nunca nos entrega um sentimento específico. De elogiável fica a decupagem de espaços: composto quase todo por internas, as situações lidam bem com as possibilidades para construir tensão.

Para quem não é familiarizado, os protagonistas de Convenção das Bruxas são crianças transformadas em ratos. Na nova adaptação, há uma virada interessante que propõe algumas renovações de subtextos da obra original de Dahl ("as bruxas só atacam crianças que ninguém ligará para o desaparecimento"). Nosso personagem principal agora é um garotinho negro, assim como sua vó, vivida pela brilhante Octavia Spencer.

Na história, o menino de dez anos perde seus pais em um acidente de carro. Ele termina sendo abrigado por sua vó, com quem vai morar no Alabama, na década de 60, no sul dos Estados Unidos. Uma espécie de curandeira, ela termina sendo obrigada a levar o garoto para um prestigiado hotel, no intuito de se livrar de uma presença maligna que rondava o bairro.

O que eles não esperavam era que no local estaria sendo realizado uma convenção de bruxas. Em idas e vindas, nosso protagonista termina se enfiando no meio de uma reunião das vilãs, e é transformado em rato junto com seu amigo.

Esta é a trama basilar que parte do texto original de Dahl, e é ela que salva a nova adaptação de Zemeckis.

Convenção das Bruxas é, sobretudo, um filme sobre o luto - não acompanhamos, por exemplo, o garotinho com seus pais, só sentimos as suas ausências. É um filme também de aceitação da mudança, o abraço da realidade como ela se apresenta e como você é apresentado (1 Coríntios 13:11).

E com uma literatura tão tocante como esta, é até possível perdoar as bizarrices do CGI neste novo filme.

 

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