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Genival Lacerda morre aos 89 anos no Recife após contrair covid-19

O cantor paraibano estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e foi diagnosticado com pneumonia no dia 10 de dezembro

João Rêgo
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Publicado em 07/01/2021 às 8:14
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DESPEDIDA Genival Lacerda construiu longa carreira de mais de seis décadas e se tornou um forrozeiro festejado - FOTO: CHICO PORTO/ACREVO JC IMAGEM
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O cantor e compositor Genival Lacerda faleceu nesta quinta-feira (7) aos 89 anos. O paraibano deu entrada no Hospital Unimed I, na Ilha do Leite, no dia 30 de novembro para se tratar da covid-19. Desde então, estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

No dia 10 de dezembro do ano passado, Genival foi diagnosticado com pneumonia. Na época, foi necessário realizar um ajuste de antibiótico para controlar a pressão do cantor com medicação.

> Relembre entrevista de Genival Lacerda ao JC

No último boletim médico divulgado, o quadro clínico era considerado gravíssimo, com o artista respirando por ventilação mecânica e auxílio de remédios.

Genival Lacerda não resistiu e faleceu na manhã desta quinta. O corpo do artista será enterrado no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em Campina Grande.

Em maio deste ano, o artista já havia sido internado quando sofreu um AVC. O cantor passou três dias internado no Hospital D'Ávila, localizado na Zona Oeste do Recife.

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Veterano na cena musical com uma carreira de mais de seis décadas, Genival Lacerda havia gravado um DVD ao vivo em 2019. O show foi filmado no Teatro Boa Vista, com participações de Waldonys, Caju e Castanha, Flávio Leandro, Jorge de Altinho, Nando Cordel e João Lacerda, filho de Genival, que também atuou na direção musical.

Paraibano de Pernambuco

Não é por acaso que a última gravação do paraibano tenha sido feita no Recife. Nascido em Campina Grande, Genival Lacerda rumou para Pernambuco na década de 50. Em 1955, foi no estado que ele gravou seu primeiro disco de 78 rotações, que traz o sucesso Coco de 56.

Severina, irmã da lenda Jackson do Pandeiro, foi casada com dois irmãos do compositor. Foi seu concunhado, contemporâneo mais velho, que o incentivou a ir até o Rio de Janeiro, onde trabalhou em várias casas de forró e chegou a gravar um LP.

Na época, o forró vivia seu tempo áureo com nomes ativos como Dominguinhos, o próprio Jackson do Pandeiro, Marinês, Abdias, Zé Calixto, Geraldo Corrêa e Luiz Gonzaga.

Com este último, em entrevista ao Jornal do Commercio no ano passado, Genival contou que viveu um relacionamento de pequenas rusgas.

"Chegamos numa rádio no Espírito Santo, ele olhou pra mim e disse que eu procurasse um sanfoneiro, porque ele não ia me acompanhar não. Ela era, como se diz no Nordeste, meio intufado, afobado. Nós tivemos oito brigas, eu e Gonzaga", contou o forrozeiro.

"A maior foi num programa na Rádio Jornal do Commercio. Éramos eu, Marinês, Abdias, Zé Gonzaga. Aí ele disse que eu não ia entrar. Marinês foi em cima dele, ‘compadre faça isso não, bote Genival, ele é bom’. Eu fiquei lá, com raiva dele. Aí Gonzaga chega e diz que eu ia entrar naquela hora. Eu nem estava preparado, aí disse pra ele: Vou entrar não, chama tua mãe. Ele era grosso, e eu era grosso e meio”.

Obra única e de sucesso

Dono de uma lírica bem construída, humorada e cheia de duplos sentidos, o sucesso de Genival veio apenas em 1975 com o hit Severina Xique-Xique, parceria com o conterrâneo João Gonçalves. O refrão "Ele tá de olho é na butique dela" colou na mente do público e permanece até os dias atuais.

Mas a qualidade de Genival Lacerda não está limitada aos seus hits. Muito dos seus trabalhos, até mesmo antes do disco de sucesso Vamos Mariquinha (1976), são verdadeiras joias raras do Forró.

Seu LP O Senador do Rojão (1968) – que rendeu um dos seus vários apelidos – é um aceno ao coco dentro das raízes negras do forró. O disco, aliás, é acompanhado por um interessante texto que é uma ode a Bahia como berço de ritmos de matrizes africanas.

"O batuque rude do negro transformou-se. Hoje, no século XX – baião, forró, arrasta-pé, não passam de reminiscências exatas daquela música gostosa. O maestro, o compositor, o intérprete, a trouxeram para outros moldes de uma outra civilização", diz trecho do escrito na contra-capa, disponibilizado pelo blog Musica em Prosa.

"O “Rei do Munganga” puro cantor desse gênero que bem transmite com excentricidade, além de ser o criador de uma série de passos e trejeitos, formando com isso um todo harmônico e agradável, é um artista ímpar na beleza de representar [...] Por isso, tornou-se o espelho de quase todos os artistas do Gênero. Dançar coco, é Genival; Baião, é Genival; Forró, é Genival. Dizer o que ele faz não é possível. É preciso assisti-lo. Ver e ouvir o excepcional astro, é um momento de terapia".

Reinvenção

Último forrozeiro da geração surgida logo depois de Luiz Gonzaga, Genival Lacerda se manteve na ativa como poucos. Em 2016, ele levou sua lírica bem-humorada para o mundo da internet. Lançou o single Me Dê Seu Wi-fi nas plataformas digitais com direito a videoclipe.

Em julho ao ano passado, na época do boom das lives, seu Vavá (como também é conhecido) se aventurou nas possibilidades e fez sua apresentação online. Sentado, cantou vários dos seus sucessos acompanhado por uma banda.

Nascido em 1931, Genival Lacerda nos deixa aos 89 anos com uma obra de mais de 70 discos, entre raridades e clássicos esperando para serem ouvidos e redescobertos por uma nova geração.

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O paraibano deu entrada no Hospital Unimed I, na Ilha do Leite, no dia 30 de novembro para se tratar da covid-19 - FOTO:Divulgação

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