Obra de George Orwell entra em domínio público e ganha edições especiais
Interesse por livros como 1984 e A Revolução dos Bichos mostra força dos textos do escritor inglês
Sob o pseudônimo de George Orwell, Eric Arthur Blair, falecido há 71 anso, se consolidou como um dos escritores mais influentes dos últimos do século 20, com trabalhos com cunho político e social que ganham novos contornos com o passar do tempo, mantendo-se atuais e alicerçando outras obras em diferentes linguagens. E a tendência é que o fenômeno literário em torno do britânico aumenta em 2021, ano em que sua obra entra em domínio público. Com isso, várias edições especiais têm sido lançadas, com foco nos clássicos A Revolução dos Bichos e 1984.
Uma olhada rápida nas listas dos livros mais vendidos no Brasil é suficiente para perceber que, mesmo após décadas de seus lançamentos, as criações de Orwell continuam fascinando uma legião de leitores. De acordo com o levantamento da revista Veja, A Revolução dos Bichos e 1984 ocupam, respectivamente, a segunda e a terceira posição entre as obras de ficcção mais compradas no Brasil da última semana.
A tendência é que a presença no pódio se mantenha, mas com maior variedade em relação às edições. Até o ano passado, os direitos da obra do britânico pertenciam exclusivamente à Companhia das Letras. Em 2020, a editora promoveu uma série de lançamentos, como a seleção inedita de textos Sobre a Verdade; edição em quadrinhos de 1984, com ilustrações do artista paulistano Fido Nesti, e uma nova tradução de Paulo Henriques Britto para a Revolução dos Bichos, intitulada A Fazenda dos Animais, mais próxima do nome em inglês (Animal Farm).
Para este ano, a Cia. das Letras prepara ainda uma box com edições de colecionador com as duas obras, com capa em tecido, corte impresso e ensaio visual das artistas brasileiras Regina Silveira e Vânia Mignone, além de apresentação do crítico Marcelo Pen e de ensaios inéditos no Brasil de autores como Golo Mann, Irving Howe, Raymond Williams e Martha C. Nussbaum. A editora também publica, através do selo Penguin, Por Que Escrevo, uma breve coletânea com textos do autor sobre a importância da linguagem.
A Antofágica também vai colocar no mercado edições diferenciadas das duas principais obras de Orwell. Publicado originalmente em 1949 e um cânone entre as distopias que discutem opressão e totalitarismo, 1984 ganha uma nova tradução de Antônio Xerxenesky, além de 115 ilustrações de Rafael Coutinho e apresentação de Gregório Duvivier. O livro conta ainda com textos extras de Luiz Eduardo Soares, especialista em segurança pública, Débora Reis Tavares, estudiosa de Orwell, Ignácio Loyola Brandão, e do jornalista Eduardo Bueno. A edição também conta com três videoaulas exclusivas de Débora Reis Tavares, através de um QR Code.
A edição da Antofágica para A Revolução dos Bichos chega com tradução de Rogerio Galindo e mais de 60 artes assinadas por Talita Hoffmann. A publicação conta com o prefácio do próprio Orwell para a edição ucraniana de 1947, comentando a instrumentalização da obra como panfleto anticomunista, um ensaio do jornalista e escritor Xico Sá e posfácios do especialista em Revolução Russa Daniel Aarão Reis, que se aprofunda no contexto histórico da obra, e do tradutor Rogerio Galindo, que traça um panorama da vida e obra de Orwell.
"Orwell é um caso curioso porque seus livros vivenciaram um boom nos últimos 15 anos e, agora, temos um dos autores de ficção mais vendidos no Brasil entrando em domínio público. Tendo em vista que várias edições entrariam no mercado, pensamos o que poderíamos oferecer de diferente, com nossa assinatura. O primeiro passo foi decidir quem traduziria, porque levamos muita dé nessa escolha, que dá forma ao livro. a gente leva muita fé nessa escolha, porque mostra como o livro vai se formar - mais ousada, mais acadêmica. A outra foi a escolha dos artistas, como a gente interpreta essas obras, em especial 1984, tão presente nos últimos anos, imageticamente", explica Daniel Lameira, publisher da Antofágica.
A recepção das edições surpreendeu a editora: em menos de um mês, foram vendidas 12 mil cópias. Ele pontua que o interesse pela obra de Orwell é reflexo tanto da qualidade da escrita do britânico quanto da contemporaneidade dos temas abordados por ele. Para Daniel, o interesse geral em ficção científica, alimentado pela cultura pop, e a busca pelos clássicos para compreender o presente tem contribuído também para a renovação do público desses autores.
"Existe uma convergência interessante: ele pega esse elemento político, o novo autoritarismo que a gente vê no Brasil, na Inglaterra, e outros lugares, que talvez desde os anos 1970 a gente não tenha vivido em uma escala mundial, e também uma busca por clássicos de um público novo, que quer buscar referências que impactaram obras de diferentes linguagens", reflete. "Acho que as pessoas também estão com a percepção de que vivem um momento histórico delicado e querem saber o que outras pessoas, em outros momentos, pensaram e fizeram para enfrentar essas questões. E, na minha visão, Orwell é mais palatável em relação a outros autores de distopias, até por conta do histórico dele como jornalista."
OUTROS LANÇAMENTOS
Entre as editoras que também disponibilizam para venda novas versões de A Revolução dos Bichos estão A Biblioteca Azul, com tradução de Petê Rissatti, texto de apresentação de Orlando Calheiros; e o Selo Via Leitura, da Editora Edipro, que também lança 1984, com tradução direta dos originais por Alexandre Barbosa de Souza e capas e brindes assinados por Carlo Giovani.
A editora Temporalis reúne as duas obras em um volume único, enquanto a Novo Século lança o box O Horizonte de George Orwell, com os dois livros traduzidos por Luisa Geisler, pôster e um suplemento de leitura assinado por nomes como Samir Machado de Machado, Caroline Valada Becker e Paula Cruz.
A Nova Fronteira também aposta em um box com os dois romances, que contam com tradução de Adalgisa Campos da Silva e textos de Gabriela Prioli e José Roberto de Castro Neves. Na caixa, está incluso ainda o livro Um Pouco de Ar, Por Favor, com tradução de Regina Lyra e prefácio do filósofo Júlio Pompeu.