Artes Visuais

Arte feita por mulheres tem mostra na sala da vice-prefeita do Recife

Mostra coletiva 'Elas Pintam o 7' estreia nesta sexta-feira (22) expondo obras de sete artistas femininas no gabinete de Isabella de Roldão

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 22/01/2021 às 6:37
FOTOS: BRENDA ALCÂNTARA/DIVULGAÇÃO
A artista Ana Veloso é curadora da mostra coletiva 'Elas Pintam o 7' e também expõe no gabinete da vice-prefeita do Recife - FOTO: FOTOS: BRENDA ALCÂNTARA/DIVULGAÇÃO
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Por trás do número sete há diversos significados. Para a numerologia, por exemplo, representa a totalidade, a perfeição, a consciência, o sagrado e a espiritualidade. Já aqui no Recife, para a arte pernambucana produzida por mulheres, o número ganha uma simbologia. No sétimo andar do prédio da Prefeitura — localizado no Cais do Apolo, Bairro do Recife —, onde fica o gabinete da vice-prefeita, Isabella de Roldão, a partir desta sexta-feira (22), sete obras de sete artistas pernambucanas compõem uma mostra coletiva intitulada Elas Pintam o 7.

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O projeto nasceu do desejo de abrir as janelas da arte produzida pelas pernambucanas para que inspirem e lancem luzes sobre os temas diversos representados em suas telas. Serão sete mulheres, sete histórias de vida, sete perspectivas artísticas. Por meio de traços e olhares de distintas escolas, a ideia é incentivar o debate sobre a pluralidade das existências femininas, o papel da mulher na sociedade, o desafio a padrões estéticos, o enfrentamento ao machismo e o que desejam as mulheres.

A exposição coletiva tem a curadoria da artista plástica Ana Veloso, responsável pela seleção das artistas e das obras. Para ela, mais do que evidenciar as artistas pernambucanas, a mostra promoverá um encontro de gerações. "Eu tentei juntar exatamente por épocas. Tereza Costa Rêgo, Maria Carmen e Marisa Lacerda surgiram na mesma época. Já Ana Vaz, eu, Thina Cunha e Margot Monteiro, somos outra geração de artistas. Com isso, unimos gerações. A proposta, no geral, é colocar a obra dessas mulheres pernambucanas em foco. Porque tem muita gente nova, surgindo no mercado, que não sabe, por exemplo, quem é Maria Carmen. Então, a ideia é divulgar a produção feminina pernambucana de arte", explica Ana, que também tem uma de suas obras expostas.

Nesta primeira mostra, Ana faz uma homenagem a Tereza Costa Rêgo e Maria Carmen, que já partiram. Segundo a curadora, sempre haverá espaço para exaltar o legado destas mulheres que também contribuíram nas artes plásticas de Pernambuco: "Isso é um ponto fortíssimo para o meu conceito: poder trazer essas artistas de volta à divulgação. O objetivo maior não é vender, mas sim as tornar ainda mais conhecidas".

Neta de Tereza Costa Rêgo, que faleceu em julho do ano passado, Joana Rozowykwiat aplaude a iniciativa e leva à mostra coletiva uma obra inédita de sua avó. "Por ser uma mostra feminina, escolhemos uma obra muito representativa do trabalho dela. E a mulher nua em seu repertório, mais do que uma questão de erotismo, tem um olhar político sobre a afirmação da liberdade da mulher — mais do que qualquer coisa. Era nessa perspectiva que minha avó pintava, e esta obra tem traços diferentes das outras dela, ou seja, mais simples. E sabemos que é difícil deixar o simples bonito, e ela fez isso muito bem nesse quadro", detalha.

Jorge Bastos, que representa Maria Carmen na exposição, fala sobre a arte de sua mãe, falecida em 2014: "O quadro Menina com Jarro de Flores foi realizado em 2006. Nessa época, Maria Carmen já estava totalmente consagrada como escultora, desenhista, gravurista e agora como pintora. Essa sua pintura de caráter figurativo [selecionada para a mostra] representa muito bem o lirismo e a poesia que emanava dos seus quadros".

A artista Ana Vaz escolheu para o gabinete da vice-prefeita uma obra da série intitulada Favelas do Recife, já exposta em 1996. "É um quadro de que eu gosto muito, tanto que ele faz parte do meu acervo pessoal. E eu aproveitei o convite para mostrá-lo mais uma vez ao povo pernambucano. Retrata, de certa maneira, uma parte da realidade desse Estado tão sofrido, mas tem uma dimensão poética, através de uma leitura pessoal e predominantemente estética", declara.

O olhar pessoal está também na obra As Primas, exposta por Marisa Lacerda. "Eu escolhi duas meninas que eu tinha, porque comecei a pensar numa sobrinha que tenho, muita linda, e pensei numa representação dela, brincando com uma prima. Ficou uma obra bem interessante."

A força feminina é ressaltada pela artista Thina Cunha. "Como são sete mulheres, eu mandei uma peça que fala sobre as heroínas de Tejucupapo, no município de Goiana, que são nossas heroínas. Em 1946, elas expulsavam os soldados com uma técnica de pimenta na água quente enquanto os maridos estavam na feira", explana.

Trazendo um olhar mais sensível para o meio ambiente, Margot Monteiro expõe uma marinha pernambucana na mostra coletiva. A veterana destacou a importância da iniciativa: "Essa troca de informações é muito importante. Porque não é só uma exposição de mulheres, simplesmente. São pessoas que continuam trabalhando dentro de suas áreas, promovendo a cultura, e circulando dentro de ambientes que não devem deixar de existir. E sempre promovendo o que é nosso".

OCUPANDO ESPAÇOS

De acordo com a vice-prefeita, Isabella de Roldão, seu maior intuito com a mostra coletiva Elas Pintam o 7 é dar visibilidade. "São muitas mulheres cheias de potencial, de cores, de arte, de criatividade, e que muitas vezes vivem até na invisibilidade", afirma. E, no que depender dela, a exposição em seu gabinete dura até o final de seu mandato, sempre colocando mais sete mulheres, de tempos e escolas distintas, para "pintar o sete" em sua sala a cada três meses.

Para Isabella, arte e política andam de mãos dadas na ocupação de novos espaços, começando por ela mesma em seu cargo. "De certa forma, a arte está totalmente ligada com a questão da política. Elas não são dissociadas. […] [Nós] puxamos essa temática política, a questão da visibilidade da mulher, fazendo esse recorte de gênero, do machismo, da dificuldade que a mulher artista tem de produção, de se permitir, e ser permitida, de viver de sua arte intensamente. Essas questões muito intrínsecas serão retratadas nas telas, trazendo representações femininas de diversas esferas e formas", completa.

No lançamento da mostra coletiva nesta sexta-feira (22), a vice-prefeita fará um bate-papo virtual com as artistas às 11h via Google Meet. Já que, por ora, devido à pandemia, a exposição só poderá ser conferida por vídeo. A conversa e o passeio virtual serão disponibilizados no seu canal no YouTube e nas suas redes sociais.

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ACERVO Quadro da série Favelas do Recife (1996), de Ana Vaz - FOTO:BRENDA ALCÂNTARA/DIVULGAÇÃO
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Exposição "Elas Pintam o Sete" - FOTO:BRENDA ALCÂNTARA/DIVULGAÇÃO
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Elas Pintam o 7 - Marisa Lacerda - FOTO:BRENDA ALCÂNTARA/DIVULGAÇÃO
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Elas Pintam o 7 - Jorge Bastos, representante de Maria Carmen - FOTO:BRENDA ALCÂNTARA/DIVULGAÇÃO
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FORÇA FEMININA Thina Cunha expõe tela sobre heroínas do Tejucupapo - FOTO:BRENDA ALCÂNTARA/DIVULGAÇÃO

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