Quando conhecemos Sofia (Natália Lage) na primeira temporada de Hard, sua vida está de ponta-cabeça. Após seu marido falecer, ela descobre que, ao invés de trabalhar com tecnologia, ele gerenciava uma produtora de filmes pornográficos. Para sustentar seus dois filhos, ela assume a empresa em decadência e tenta navegar por este novo mundo. Nos novos episódios da minissérie, que estreiam no dia 21 de fevereiro, às 22h30, na HBO, sua perspectiva já está transformada pela nova experiência e, agora, seu desafio é lutar contra o conservadorismo que ainda há dentro de si e na sociedade.
Entre as ideias instituídas por Sofia para revitalizar a produtora (que se chama Sofix), está a de realizar fantasias femininas. Subvertendo a perspectiva naturalizada na indústria pornográfica, do foco no prazer do homem, essas produções levam em consideração os desejos das mulheres. Ainda que o projeto sofra alguma resistência interna, aos trancos e barrancos, e várias situações inusitadas, ela dá continuidade ao seu plano e, com o tempo, também começa a tomar gosto pelo negócio.
Além da posição como comandante da empresa, Sofia também passa por um processo de redescoberta de suas próprias vontades e valores. Cada vez mais envolvida com o ex-ator pornô Marcello (Julio Machado), ela continua mantendo o relacionamento às escondidas, afirmando ser por conta dos filhos. Mas, ela é confrontada com suas próprias questões em relação ao passado de seu parceiro e, nesse processo, também precisa desconstruir seus preconceitos.
Afora o relacionamento com Marcello, Sofia vive sufocada pelo segredo de sua nova profissão, com medo que seus vizinhos, amigos e parentes descubram sobre a empreitada. Nesse contexto, a relação com sua filha adolescente, que já descobriu o ofício da mãe, cria momentos interessantes, pois apresenta uma inesperada sororidade entre elas.
Temas como sexualidade e pornografia são tratados por Hard com leveza e naturalidade. Apesar do que a temática pode sugerir, a série não explora as cenas de sexo de forma erótica.
Em um país com contradições como o Brasil, que exalta o sexo ao mesmo tempo em que reprime expressões desviantes da normatividade, produtos culturais como Hard encontram brechas para fazer rir e refletir.
Uma das razões dessa boa receptividade, também é a humanização dos personagens. Longe de um humor escrachado, há um cuidado ao criar figuras afetuosas, complexas, dos protagonistas aos figurantes. Destaque para o núcleo de trabalhadores da Sofix, que garante alguns dos momentos mais cômicos e tocantes da minissérie.
"Pessoas mais velhas, da geração dos meus pais, que não são muito desse universo de streaming e séries, conseguiram assistir e se divertir. A série trata de um universo que sofre muito preconceito, é estigmatizado, com uma leveza que fez com que gente que não consome pornografia se divertisse", pontuou o diretor-geral, Rodrigo Mirelles, em entrevista ao Jornal do Commercio. "A gente trabalha nossas piadas muito mais em cima da relação da Sofia, uma mulher de classe média alta, conservadora, que entra nesse universo, do que fazer uma caricatura [do universo pornográfico]."
DESENVOLVIMENTO
Ao todo, essa nova leva conta com seis episódios. Outra meia dúzia, que encerra o projeto, já está gravada, mas ainda não há data de estreia confirmada.
"Foi muito confortável para a gente [gravar todos os episódios de uma vez] para ter o arco do personagem fechado na cabeça", reforça o ator Fernando Alves Pinto, que interpreta Pierre, um dos funcionários da produtora. "Tudo é tratado com muita leveza, então foi muito aliviante [fazer a série], porque tudo está muito pesado e esses alívios da série acabam sendo muito bem-vindos."
A primeira temporada completa da produção, que também traz Martha Nowill e Denise Del Vecchio no elenco, está disponível na HBO GO. Os novos episódios de Hard vão ao ar aos domingos, às 22h30.
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