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Videoarte 'Sethico' expõe as marcas do racismo no Recife

Trabalho estreia no dia 24 de abril, no YouTube e no site do Núcleo de Experimentações do Teatro do Oprimido

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Márcio Bastos

Publicado em 23/04/2021 às 16:15 | Atualizado em 23/04/2021 às 17:11
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A imagem de uma figura portando uma máscara africana da etnia Fang, tradicionalmente utilizada em rituais de julgamento, vaga por alguns pontos do Recife. Espaços que fazem parte da paisagem urbana, muitos deles conhecidos por grande parte dos recifenses, mas cuja história é marcada por violência e exploração do povo negro. Este trabalho de revelação simbólica do passado da capital pernambucana estrutura a videoarte Sethico, idealizada pelo Núcleo de Experimentações do Teatro do Oprimido, que estreia dia 24 de abril, às 19h, no YouTube e no site www.nextope.com.

Adentrando a cidade pelo rio Capibaribe, um dos símbolos do ethos recifense, esta personagem misteriosa visita pontos como um mercado construído sobre um cemitério de pessoas escravizadas; um ponto de desova de africanos que não sobreviveram à travessia nos navios negreiros e uma antiga casa de detenção construída por mãos pretas e que aprisionou negras e negros escravizados e "criminosos livres".

Os pontos históricos visitados pela produção são a Cruz do Patrão, Ponte de Ferro, Igreja do Rosário dos Homens Pretos, Praça do Carmo do Recife, Casa da Cultura, Mercado da Boa Vista e Marco Zero. Em cada um desses locais, a figura cola um lambe-lambe que demonstra a permanência do racismo nos dias de hoje, como o fato de 72% dos mortos pela covid-19 serem pretos e pardos. Sethico é dirigido e protagonizado por Wagner Montenegro e nasceu de reflexões sobre a sua própria vivência e o ser e estar enquanto um corpo negro em uma sociedade racista.

O processo de criação contou com uma pesquisa realizada junto com Andréa Veruska (também roteirista e fundadora do Nexto) e orientada pela cineasta Danielle Valentim, engatilhada pela peça Revolução na América do Sul, de Augusto Boal, fundador do Teatro do Oprimido. Outras referências cruciais foram as leituras de nomes como Grada Kilomba, Frantz Fanon, Abdias do Nascimento, Kênia Freitas, Jared Sexton e David Le Breton, em textos sobre afrofuturismo, afropessimismo, performance e cultura visual. Tudo acaba sendo amarrado à filosofia que orbita Seth, o deus egípcio do caos, que inspira a entidade protagonista do projeto e seu título.

Os lambes foram produzidos por Filipe Gondim e a performance teve direção de fotografia de Breno César, trilha sonora e desenho de som de Ragaela Orneles, e percussão de Nino Souza. O figurino é da dupla senegalesa Ousmane Diop e Abdoulaye Dit Goumb Sow, com a máscara da Coleção Casa Africana. A videoarte teve fomento da Lei Aldir Blanc Pernambuco.

No dia 30, será lançado um catálogo com ilustrações criadas por Wagner a partir das reflexões sobre os lugares de memória da escravização no Recife a partir da realização da videoarte.

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