Artes visuais

Carlos Mélo apresenta esculturas têxteis criadas durante a pandemia

Série 'Overlock' reflete sobre o impacto ambiental e cultural provocado pela indústria no Agreste pernambucano

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Márcio Bastos

Publicado em 25/04/2021 às 10:12
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O artista pernambucano Carlos Mélo apresenta a série Overlock, a partir deste domingo (25), às 17h, no site da Galeria Kogan Amaro, que o representa em São Paulo e em Zurique, Suíça. O projeto reúne obras criadas durante a pandemia do novo coronavírus e que refletem sobre o impacto ambiental e cultural provocado pela indústria têxtil na região Agreste de Pernambuco e as alterações na dinâmica em espaços de tradição agrícola e pecuária.

Nascido em Riacho das Almas, Agreste de Pernambuco, onde reside e executou o projeto, Carlos Mélo imprime neste trabalho trabalho temas que o rodeio, reforçando seu interesse em criar ponte entre arte e comunidade. O título da série, Overlock, é o nome de uma máquina de costura industrial, bastante utilizada na região, por efetuar a costura e o acabamento ao mesmo tempo.

O tecido, hoje principal elemento da cadeia produtiva local, foi apropriado por Mélo como elemento de arte contemporânea, transformando-o em esculturas têxteis e performáticas, num diálogo com a trajetória do artista, que tem a experimentação de materiais, a escultura e a performance como marcas de sua criação.

A matéria-prima utilizada por Carlos é uma espécie de “jeans encorpado” confeccionado pelo Daterra Project (@daterraproject), coordenado pela artesã Adjane Souza, que desenvolve um trabalho sustentável na Vila do Vitorino ao aproveitar ourelas (beiras) de jeans que seriam descartadas pela indústria da moda, resultando em um novo tecido.

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Com o Avoante Ateliê (@avoanteateliedearte), da artesã Merielle Lino, em Caruaru, ele interviu com bordados e aplicações de spikes, paetês e outros elementos do universo fashion, apropriando-se do tecido reciclado e o transformando, como faz a cadeia da moda a cada coleção. Esse trabalho colaborativo com as artesãs reforça a relação entre arte e comunidade proposta pelo artista, como um campo de inserção e pertencimento.  

Dispostos sobre estruturas de ferro fixadas em árvores, paredes ou no chão, os tecidos formam esculturas que chegam a medir 1,80 m de altura e pesar aproximadamente 30 kg, dada a gramatura do jeans. A presença delas num território agrário esvaziado pode evocar a falta de políticas públicas agrícolas como fator que impulsionou a transição do trabalho:­ do campo para facções de costura montadas nas casas, numa atividade terceirizada para as empresas de moda.

Ao flexionar arte, moda e mercado, as esculturas pretendem, também, renovar o imaginário criado há mais de cem anos em torno do Nordeste inventado; caricato e fetichizado pelo selo “regionalista”.

SOBRE O ARTISTA

As obras de Carlos Mélo transpõem vídeo, fotografia, desenho, instalação, escultura e performance em uma investigação do lugar que o corpo ocupa no mundo. Por meio de anagramas e ações performáticas, o artista reúne imagens e palavras praticando um contorcionismo semântico. O artista visual busca fazer o corpo convergir em situações de interação com o meio ambiente e marcos conceituais, ao mesmo tempo em que opera um resgate de aspectos da formação cultural brasileira.

Idealizou e realizou a 1ª Bienal do Barro do Brasil, Caruaru (2014). Participou de exposições coletivas, como a 3ª Bienal da Bahia (Salvador, 2014); no Krannert Art Museum, University of Illinois (Champaign, EUA, 2013); no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Recife, 2010 e 1999); no Itaú Cultural (São Paulo, 2008, 2005, 2002 e 1999); entre outros. Realizou exposições individuais na Galeria 3 + 1 (Lisboa, Portugal, 2010); no Paço das Artes (São Paulo, 2004); e na Fundação Joaquim Nabuco (Recife, 2000). Recebeu o Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça de Belas Artes (2006).

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