Literatura

Marçal Aquino retorna ao romance policial com 'Baixo Esplendor'

Livro aborda submundo do crime, com violência e sensualidade, nos anos 1970, durante a ditadura militar

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Márcio Bastos

Publicado em 12/05/2021 às 14:01
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O jornalista, roteirista e escritor Marçal Aquino quebrou o hiato de dezesseis anos afastado da literatura, desde o aclamado Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2005). Com o lançamento de Baixo Esplendor (Companhia das Letras, 264 páginas, R$ 49,90), o paulista retorna às narrativas policiais e constrói uma trama instigante, marcada por suspense, erotismo, violência e personagens moralmente complexos.

O livro acompanha Miguel, nome adotado por um policial do setor de Inteligência que precisa se infiltrar em uma quadrilha especializada em roubo de cargas. Para entrar no bando, ele se aproxima de Ingo, cabeça da operação, e, com empenho, ganha sua confiança, estabelecendo também uma relação com a irmã do criminoso, Nádia.

O intricado processo para mapear os integrantes da quadrilha exige tempo, o que se mostra perigoso para o policial, tanto por conta das dinâmicas do mundo do crime, com alguns dos aliados de Ingo cada vez mais ressentidos do destaque que Miguel ganha na  hierarquia do bando, quanto por seu envolvimento com Nádia.

O desejo sexual que nutre por ela se desenvolve em uma paixão tórrida com potencial de comprometer sua missão. Ambientado na primeira metade dos anos 1970, quando a ditadura militar no Brasil vivia seus anos mais sangrentos, Baixo Esplendor explicita tensões sociais que permeiam a história do País.

Com uma escrita envolvente, Marçal Aquino mostra a corrupção e a truculência dentro das forças do Estado, assim como as várias facetas do crime, com personagens que desafiam estereótipos — Ingo, por exemplo, chegou a ser professor de cursinho, mas deixou a vida acadêmia pela vida à margem da lei.

Os tipos apresentados pelo escritor carregam sempre nuances. Há uma preocupação de Marçal em criar dimensões naquelas figuras que, em páginas policiais, aparecem de maneiras unilaterais. Ou ainda de mostrar que paladinos da justiça, como o chefe de Miguel, o delegado Olsen, muitas vezes têm pautas e interesses próprios, políticos ou financeiros.

Isso, no entanto, não significa que há uma tentativa de glamorizar esses personagens. Miguel também não é um herói. Ele sabe o dever que precisa cumprir, mas seus próprios desejos são colocados à prova à medida em que se permite envolver com aqueles que precisa aprisionar. Há elementos em seu processo de assumir o personagem criado como parte de sua identidade que mostram como, no fundo, parece haver uma tentativa de apagamento de sua história.

Com maestria, o escritor paulista desenvolve situações tensas, com violência e perigo iminentes, que jogam o leitor em um ambiente sombrio, sedutor e assustador na mesma medida.

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