'Mare of Easttown', fenômeno da HBO, tem atuação brilhante de Kate Winslet

À primeira vista, Mare of Easttown, minissérie original da HBO disponível para streaming no HBO Go e, a partir de 29 de junho, no HBO Max, pode parecer com outras tantas centradas em torno da investigação de assassinatos misteriosos. Mas, apesar da ótima construção do suspense em torno do mistério, este não é o ponto central desta obra, cujo foco está nos dramas íntimos de seus complexos personagens.

Investigadora da polícia da pacata Easttown, Mare Sheehan (Kate Winslet) é uma figura sisuda, pouco afeita a delicadezas. Há um ano tentando solucionar o desaparecimento de uma jovem que sumiu sem deixar rastros, ela é também divide seu cotidiano entre resolver pequenos problemas para os moradores locais, que enxergam nela uma figura de autoridade e confiança, e a rotina familiar.

Em Easttown, quase todos parecem se conhecer e têm algum tipo de ligação. Essa proximidade, no entanto, não significa abertura, com segredos íntimos rondando (e assombrando) esses personagens. É o caso da própria Mare, que encontrou no trabalho uma válvula de escape para não lidar com o suicídio de seu filho mais velho. Na casa onde mora com a mãe, Helen (Jean Smart, excelente), a filha Siobhan (Angourie Rice) e o neto Drew (Izzy King), de 4 anos, o assunto é um tabu.

Quando uma jovem aparece morte, vítima de assassinato, e outra some em circunstâncias que parecem estar conectadas, Mare se torna obcecada em descobrir a verdade, o que acaba trazendo à tona várias tensões e levantando suspeitas inclusive sobre pessoas próximas de sua família.

Com uma trama bem construída, atenta aos detalhes e ao desenvolvimento e seus personagens, Mare of Easttown consegue transitar com maestria entre o suspense e o drama, incluindo também alguns alívios cômicos, sem nunca cair em estereótipos. O diretor Craig Zobel toma seu tempo em apresentar ao público a dinâmica daquele lugar e as nuances de seus personagens.

O elenco da série está irretocável (destaque também para Julianne Nicholson como Lor, melhor amiga da protagonista), mas o coração do projeto é Kate Winslet, que também assina a produção da série. A britânica apresenta uma de suas melhor atuações e desenvolve uma personagem difícil, com a qual seria muito fácil criar antipatia.

Ela, no entanto, faz de Mare uma figura fascinante, um turbilhão emocional sempre à beira da explosão, esperando por uma catarse. A jornada de Mare no processo do luto, sua tentativa de se reencontrar enquanto mãe, filha, avó e mulher, é comovente.

Ainda que seja marcada por tensão e várias reviravoltas, esses momentos nunca parecem forçados ou colocados ali para cumprir uma função de choque. Eles refletem bem a natureza das situações expostas, as contradições daqueles indivíduos, suas potencialidades para o bem e para o mal.