Artes cênicas

Carlos Reis deixou um grande legado para o teatro Pernambucano

Com sua experiência como ator, ele passou a capitanear a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, ele renovou o espetáculo

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Márcio Bastos

Publicado em 17/06/2021 às 16:45 | Atualizado em 17/06/2021 às 17:23
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O olhar atencioso, o cuidado com os atores, a busca pelo preciosismo. Essas características estavam presentes no trabalho de Carlos Reis que, ao lado de Lúcio Lombardi, atuou como diretor da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém por mais de 20 anos, ajudando a transformar o espetáculo em uma superprodução reconhecida internacionalmente. Falecido na noite da última quarta-feira (16), aos 84 anos, no Recife, por complicações causadas pela leucemia, ele deixa um legado forte para as artes cênicas de Pernambuco, tanto na questão estética quanto no engajamento pela valorização da cultura.

Antonio Carlos de Souza Reis foi, por excelência, o que se custuma chamar de homem de teatro. Amava a arte e se engajou em sua defesa desde a juventude, quando integrou o Teatro Popular do Nordeste (TPN), ao lado de Hermilo Borba Filho, ainda que também tenha executado trabalhos em outras áreas, atuando como professor universitário e pesquisador de áreas como agrometeorologia e climatologia.

Ao longo de sua carreira, como ator, Reis atuou em mais de 50 peças, dos mais diversos autores, tendo feito, além de teatro, peças para televisão e atuado em alguns filmes. Em 1969, recebeu o prêmio Samuel Campelo de Melhor Ator, no Recife, atuando pelo Teatro Popular do Nordeste, em O Melhor Juiz – O Rei, de Lopes de Vega, sob a direção de Rubem Rocha Filho. Também escreveu livros, como Luiz Mendonça: teatro é festa para o povo (2005), ao lado do filho, Luis Reis, pesquisador e professor de Teatro da Universidade Federal de Pernambuco.

Sua relação com a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém começou ainda nos anos 1960, quando o espetáculo era encenado nas ruas de Fazenda Nova e ele e outros entusiastas do projeto seguiam o sonho de Plínio Pacheco de criar uma cidade-teatro. Em 1968, quando o grandioso projeto foi inaugurado, o papel de Cristo era interpretado por Luiz Mendonça, mas no ano seguinte era Carlos quem assumiria a empreitada de dar corpo ao Nazareno. Ele continuaria no papel até 1977, quando este passou a ser interpretado por José Pimentel.

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Carlos Reis se envolveu com a Paixão de Cristo desde seus tempos nas ruas de Fazenda Nova - Dayvison Nunes / JC Imagem
ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
Diretor Carlos Reis, na foto com chapéu. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Diretor Carlos Reis, na foto com chapéu. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Diretor Carlos Reis, na foto com chapéu. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
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Diretor Carlos Reis, na foto com chapéu. - ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM
ALEXANDRE BELÉM/ACERVO JC IMAGEM
Diretor da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém - ALEXANDRE BELÉM/ACERVO JC IMAGEM

Com a saída de Pimentel da direção da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, Carlos Reis e Lúcio Lombardi assumem a direção do projeto e promovem uma renovação na encenação, mudando desde cenários e partes do texto, até a principal característica, que se tornaria uma constante nas encenações de 1997 para frente: a presença de globais nos papéis principais.

"A gente começou na Paixão de Cristo em um momento em que ela estava com dificuldades até, em 1997. Trabalhamos praticamente do zero, modificando muita coisa, da cenografia à encenação. Foi um trabalho tremendo. Inauguramos também a ideia de convidar atores de fora com a ideia de que o espetáculo fosse conhecido em outros estados, o que aconteceu. Antes, o público era praticamente todo pernambucano e, com o tempo, se tornou muito diverso", conta Lúcio Lombardi.

O diretor reforçou ainda a importância de Carlos Reis na valorização do teatro e da cultural. Para ele, o engajamento do amigo e sua facilidade de articulação e de tratar as pessoas com delicadeza fazia da convivência com ele, profissional e pessoal, muito tranquila.

"Carlos era uma pessoa muito organizada, o que foi muito necessário para um espetáculo tão amplo e realizado em um tempo pequeno. Ele era um homem honesto, sério e de bom caráter, com uma memória fabulosa, o que ajudava muito no trabalho. Além da delicadeza e do cavalheirismo no trato com as pessoas. Fora isso, era um ator muito bom e foi bastante premiado", reforça.

Seu último trabalho na Paixão de Cristo de Nova Jerusalém foi em 2019. Nos anos seguintes, a encenação foi interrompida por conta da pandemia do novo coronavírus.

“Carlos Reis, de forma brilhante, deixou registrado nos anais da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém uma trajetória marcada pelo talento, competência, dedicação e lealdade. Todos os que fazem a STFN expressam a mais profunda gratidão por todo o legado deixado por ele Reis na dramaturgia pernambucana e pelo privilégio de ter convivido com um ser humano tão especial”, afirmou Robinson Pacheco, presidente da Sociedade Teatral de Fazenda Nova.

Em 2018, Carlos voltou aos palcos na peça A Ceia dos Cardeais, que estreou no Janeiro de Grandes Espetáculos. Paulo de Castro, produtor do evento e da peça, comentou que trabalhar com Carlos era sempre prazeroso e que estiveram juntos em momentos diversos, desde o tempo do TPN. "O que me impressionava em Carlos era a voz belíssima que ele tinha. Foi um dos intérpretes de Cristo mais marcantes", lembra Paulo.

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