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Amaro Freitas resgata e celebra referências da diáspora africana no disco 'Sankofa'

Pernambucano é considerado um dos nomes mais importantes do jazz atual

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Cadastrado por

Márcio Bastos

Publicado em 28/06/2021 às 15:47 | Atualizado em 28/06/2021 às 15:50
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A arte de Amaro Freitas é do Recife, é do Brasil, é da América Latina, é da África, é do passado, presente e do futuro. Seu talento e sensibilidade une referências múltiplas, especialmente da diáspora africana, com um virtuosismo que é reconhecido pela crítica especializada, seus pares na música e pelo público. Em seu terceiro álbum, Sankofa, que chega às plataformas digitais hoje, o recifense aprofunda sua pesquisa artística e entrega um trabalho complexo, que se insere na dianteira da produção jazzística internacional.

Apontado como uma das promessas do jazz desde seu álbum de estreia, o independente Sangue Negro (2016), ele ratificou seu talento com Rasif (2018), pela gravadora inglesa FarOut, que consolidava o múltiplo projeto do pernambucano, que tem entre suas referências ícones da música brasileira, como Capiba, Moacir Santos, Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti, além de referências da internacional, como Thelonious Monk.

Sua música promove um diálogo com jazz, frevo, baião, outros ritmos nordestinos e brasileiros. Artistas como Milton Nascimento, Criolo, Xênia França, Lenine, entre outros, firmaram parceria com ele, em um intercâmbio artístico que só comprova a disposição de Amaro de experimentar e nunca se limitar.

Com patrocínio da Natura Musical e realização da 78 Rotações Produções, o novo álbum, Sankofa, é atravessado pela ancestralidade, a começar pelo conceito evocado pelo título, uma imagem Adinkra - conjunto de símbolos ideográficos dos povos acã, da África Ocidental -, que representa um pássaro com a cabeça voltada para trás.

A ideia de seguir em frente, criar e evoluir sem esquecer suas origens é um alicerce da obra. Para Amaro, é essencial celebrar a cultura africana e sua complexidade, enxergando além da historiografia eurocêntrica e dos horrores causados pela cultura escravagista.

Com a colaboração de Jean Elton (baixo) e Hugo Medeiros (bateria), que formam o Amaro Freitas Trio desde seu início, ele emprega intrincados padrões rítmicos e variações de compasso como se ressignificasse os signos antigos de seus ancestrais. Cada faixa é imbuída de uma mensagem ou uma história que o pianista é compelido a contar.

Baquaqua, por exemplo, enfatiza a história do africano Mahommah Gardo Baquaqua, que foi trazido para o Brasil como escravo, mas fugiu para Nova York em 1847, onde aprendeu a ler e escrever. Sua autobiografia foi publicada pelo abolicionista americano Samuel Moore e hoje é o único documento conhecido sobre o comércio de escravos escrito por um ex-escravizado brasileiro.

Em Vila Bela, ele faz alusão à região próxima à fronteira com a Bolívia, na região de Mato Grosso, onde Tereza de Benguela, rainha quilombola do século 18, liderou a comunidade negra e indígena na resistência à escravidão por duas décadas. Nascimento homenageia Milton, uma referência musical e também parceiro artístico do pernambucano.

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