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Série espanhola 'Veneno' faz retrato sensível e honesto da transexualidade

Obra é um dos destaques do HBO Max e celebra a trajetória de Cristina Ortiz Rodríguez

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Cadastrado por

Márcio Bastos

Publicado em 29/06/2021 às 20:14 | Atualizado em 29/06/2021 às 20:21
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Uma das produções originais da HBO Max que chega ao Brasil junto com o serviço de streaming é Veneno. Criada pelos diretores Javier Ambrossi e Javier Calvo (casal conhecido como Los Javis), a série espanhola é uma das mais aclamadas lançadas no ano passado e conta a história de Cristina Ortiz Rodríguez, mulher trans que se tornou um fenômeno televisivo na Espanha, na década de 1990, quando ficou conhecida como "La Veneno".

A série é baseada nas memórias de Cristina, morta em 2016, aos 52 anos, escritas por Valeria Vegas, que também tem papel de destaque na série, na qual é interpretada por Lola Rodríguez. Além de contar a trajetória da Veneno, da infância no povoado de Adra ao seu empoderamento da identidade trans, chegando até seus últimos anos, a série aborda também o processo de transição de Valeria. Esse paralelo é importante porque mostra a importância da visibilidade de Cristina e como sua figura ajudou o movimento LGBTQIA espanhol e abriu portas para que outras pessoas pudessem viver suas verdades.

A chegada da Veneno à televisão aconteceu por acaso, mas mudou sua vida e a de muita gente. Cristina, como tantas mulheres trans faziam e fazem por falta de oportunidades, se prostituía quando a jornalista Faela Sainz, que trabalhava no programa de Pepe Navarro, a entrevistou. Com uma sinceridade e desenvoltura ímpares, além da beleza estonteante, Cristina chamou a atenção do apresentador e foi convidada para uma entrevista. O sucesso do encontro foi tamanho que a Veneno passou a integrar a grade do programa.

Sua presença na televisão espanhola e sua inserção na cultura pop daquele país, ajudaram a ampliar a discussão sobre a transexualidade naquele país. Cristina ocupou espaços que, ainda que buscassem explorar sua fragilidade, possibilitaram a reafirmação da existência de identidades de gênero historicamente marginalizadas. Cristina, suas companheiras e todas as pessoas trans ao redor do mundo existem, querem e merecem respeito e felicidade.

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Da ascensão à queda, fruto de vários fatores, entre eles um relacionamento abusivo e o preconceito social (quando foi presa, por um esquema arquitetado por seu ex-namorado, Cristina ficou detida em uma unidade masculina), a série aborda a complexidade da vivência dessa figura marcante, interpretada em diferentes fases da vida por atrizes excelentes (todas as personagens foram vividas por atrizes trans): Jedet, no início da vida adulta e da transição; Daniela Santiago, nos anos de estrelato; e Isabel Torres, na última fase da vida. Destaque ainda para Paca La Piraña, melhor amiga de Cristina, que interpreta a si na série.

Tudo em Veneno é primoroso: a direção, as atuações, a produção, a trilha sonora. Há uma vivacidade que permeia todo o trabalho, com humor, drama, amor e as várias nuances a experiência humana. Outro grande trunfo da série é se permitir entrar no universo de Cristina, respeitando inclusive suas fabulações. Não importa o quanto de exagero pode haver em algumas de suas histórias; há, antes de tudo, um relato de sobrevivência e de transformação, de desabrochar diante do mundo, apesar da dureza que o entorno busca imprimir.

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