MEMÓRIA

Uma década sem Amy

Há dez anos, o mundo artístico despedia-se de Amy Winehouse, uma das mais importantes vozes da música contemporânea

Nathália Pereira
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Nathália Pereira
Publicado em 23/07/2021 às 0:00 | Atualizado em 23/07/2021 às 10:00
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AUTENTICIDADE Cantora chamou atenção pelo timbre marcante, além de letras sinceras e cheias de ironia, conjunto que arrebatou público e crítica - FOTO: DIVULGAÇÃO
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Na segunda faixa do álbum Abaixo de Zero: Hello Hell (2019), Carta Pra Amy, o rapper fluminense Gustavo Black Alien dirige-se, como pode-se imaginar, à Amy Winehouse. Dela, o eu-lírico pega emprestada a escuta, em um encontro de dois artistas que têm, pelo menos, duas características em exímia semelhança: o incontestável talento e a árdua batalha travada em busca da sobriedade. O desfecho dos versos da citada música revela que Black Alien tem tido cada vez mais êxito na concretização do objetivo, o que acabou não acontecendo com seu destinatário hipotético. Amy morreu há exatamente uma década, em 23 de julho de 2011, aos 27 anos, após sofrer uma intoxicação alcoólica acidental. Pouco tempo de vida, mas atravessado por uma imensa importância para a música contemporânea.

Amy Jade Winehouse nasceu em setembro de 1983, em Londres, membro de uma família de ascendência judaica. Interessada por música desde muito jovem, era admiradora principalmente do jazz e do soul, estilos que influenciaram diretamente sua carreira autoral, da firmeza na maneira de cantar aos trejeitos e apresentação visual. Antes de completar 18 anos, já integrava a National Youth Jazz Orchestra. Frank, o primeiro álbum solo, foi lançado em 2003, quando a intérprete e co-autora de grande parte das 13 faixas tinha apenas 20 anos. Seu grave timbre de voz e as letras recheadas de confissões e ironias logo chamaram atenção de público e crítica, que a compararam a nomes como Billie Holiday.

Com Back To Black (2006), seu segundo disco, alcançou imensa repercussão mundial, recebendo dezenas de indicações a prêmios, vencendo várias delas, a exemplo do Grammy Awards 2008, na qual conquistou cinco categorias, incluindo a de Artista Revelação. O trabalho reúne suas canções mais populares, a exemplo de You Know I'm No Good, Rehab e a faixa-título. É também neste período em que ela se mostra mais sensível e pesarosa, processo repassado em importantes trechos do documentário batizado com seu nome e lançado por Asif Kapadia em 2015. Ao longo da carreira, Amy chegou a vender mais de 20 milhões de álbuns, além de viver momentos marcantes, como a parceria com Tony Bennett em Body and Soul.

Fez única apresentação em Pernambuco, no Centro de Convenções, em 13 de janeiro de 2011, para um público de aproximadamente 12 mil pessoas. Além do Recife, a turnê brasileira passou ainda pelo Rio de Janeiro, Florianópolis e São Paulo, com shows curtos e considerados apáticos, apesar de cheios. Ali, a artista já transparecia há algum tempo o impacto da longa batalha contra a dependência de drogas e álcool, tendo internado-se algumas vezes em clínicas de reabilitação. A isso juntava-se as idas e vindas do conturbado relacionamento com o ex-marido, Blake Fielder-Civil, com diversos desentendimentos tornados públicos. O comportamento cerceador da mídia especializa em torno da vida pessoal de Amy, inclusive, permanece tema de debates a respeito da responsabilidade deste tipo de abordagem, muitas vezes desumanizada - principalmente com mulheres - em desfechos trágicos como o que aconteceu com a artista.

Desde sua morte, filmes e livros, como Amy, My Daughter (Amy, Minha Filha), escrito por Mitchell Winehouse, seu pai, têm relembrado sua intensa e meteórica trajetória. Em 2014, uma estátua de bronze, esculpida em tamanho real por Scott Eaton, foi inaugurada no bairro de Camden Town, na capital britânica, onde Amy viveu.

Amy Winehouse permanece sendo apontada como um dos maiores talentos da música contemporânea internacional, acumulando hoje mais de dez milhões de ouvintes mensais somente no Spotify, além de 2,5 milhões de inscritos em seu canal oficial no YouTube.

 

Tributos para relembrar e celebrar legado

Tributos para relembrar e celebrar legado

Este primeiro grande marco temporal da ausência física de Amy Winehouse no mundo da música, claro, não passaria sem as devidas e merecidas homenagens à artista. A começar pelo Canal BIS, que exibirá, ao longo do final de semana, uma maratona de programas especiais, sempre a partir das 22h. Já hoje, vai ao ar a performance realizada por Amy no Porchester Hall, em Londres, ocasião na qual cantou sucessos de seus dois álbuns.

Amanhã, o documentário Amy Winehouse Back To Black: Classic Albums, traz entrevistas com pessoas ligadas à construção de Back to Black, dos produtores aos amigos mais íntimos, que ajudam a entender o processo de criação de cada uma das faixas. O domingo (25) arremata a grade especial com o concerto apresentado na Igreja St. James Church Dingle, na Irlanda, para um restrito público presente. O material conta também com entrevista na qual a cantora fala, entre outros temas, sobre vida pessoal, amor pela música, e seus ídolos.

Ainda na seara dos registros documentais, novas duas produções sobre Amy Winehouse estrearão em breve. Em ambas, a ideia é abordar o lado mais humano da cantora a partir do ponto de vista de quem a conheceu na intimidade do dia a dia. O primeiro é Reclaiming Amy, produção da BBC em que Janis, a mãe, reflete a respeito da trajetória da filha. Além disso, integram os 59 minutos do filme registros de apresentações nunca antes exibidas e depoimentos de familiares e amigos. Será transmitido nesta sexta, às 21h, pela BBC Two, no Reino Unido. Depois, deve ficar disponível na plataforma BBC iPlayer. Não há previsão de estreia no Brasil.

Por último, em Amy Winehouse e Eu: A História de Dionne Bromfield, com estreia marcada para a terça-feira (27), quem conta sua versão dos acontecimentos é a afilhada de Amy. Realização da MTV com o Paramount , o doc terá primeira exibição no canal, às 19h, entrando em seguida no catálogo do serviço de streaming. (N.P.)

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