Cristiano Lenhardt abre a exposição individual 'UÔIÔU' na Amparo 60

Cristiano Lenhardt cresceu cercado de mata, espaço com o qual sempre manteve uma ligação física e espiritual forte. Entre suas múltiplas pesquisas, brotam as experimentações com elementos e temáticas da natureza, processo que foi aprofundado desde 2019, quando se mudou para um sítio isolado, que nomeou de Mundo Bicho, em São Lourenço da Mata. Algumas das obras que produziu no espaço (e a partir dele) compõem a exposição UÔIÔU, inaugurada neste sábado, 24 de julho, às 10h, na Galeria Amparo 60.

Como parte do projeto Mirada, idealizado pela galerista Lúcia Costa Santos em parceria com a SpotArt, a mostra ocupa a primeira sala da galeria e tem curadoria de Mariana Oliveira. Nela, Cristiano aborda suas inquietações artísticas e vivências, conectando-se com processos que se aproximam das cosmologias indígenas, em que homem e natureza estão integrados.

Alguns processos que ele já utilizava em seus trabalhos, como as gravuras feitas a partir de dobras de papel, ganham novos contornos, com a utilização de tecidos naturais (linho) que são dobrados e pigmentados por uma compostagem natural, ao invés de tintas. As obras, intituladas de Brotos Cartas, se completa a partir da inserção de placas de alumínio. Materiais naturais, como troncos, argila e outros elementos da natureza encontrados no sítio também passam a compor as criações do artista.

A exposição conta ainda com a exibição de uma série realizada com pedaços de troncos de uma árvore derrubada por um temporal em seu sítio. Neles, o artista monta espécies de totens que através dos desenhos, novamente Broto Cartas, sugerem mensagens subjetivas, que buscam evocar mais sensações do que interpretações fechadas.

“Na minha produção existem muitos tipos de obras diferentes e acho que nesses trabalhos reuni uns três tipos que eu já fazia — e eles estão interagindo. Por anos e anos, trabalhando de um jeito em que provocar um estranhamento estético é o que me motivava — e sim, me motiva —, mas chega em um ponto em que não é só isso. Acho que quando a gente fala de arte abstrata, quando não tem nada que represente algo, mas apresenta uma visualidade nova e não tem uma narrativa tão objetiva, essa abstração tem a ver com o mistério que compõe a vida”, reflete Cristiano.