Literatura

Isabel Lucas lança 'Viagem ao País do Futuro', livro que reúne ensaios sobre o Brasil

Obra parte das referências da literatura nacional para tecer observaçõe sobre nossa sociedade

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Cadastrado por

Márcio Bastos

Publicado em 03/08/2021 às 12:24 | Atualizado em 03/08/2021 às 12:39
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A jornalista e escritora portuguesa Isabel Lucas veio ao Brasil, em 2019, com o intuito de percorrer diferentes paisagens do vasto território nacional tendo como referências obras seminais da literatura brasileira. A ideia era buscar compreender mais sobre este país que guarda uma história tão íntima com o seu, de quem foi colônia por séculos, e que continua sendo um mistério para os olhos estrangeiros e para si. Os ensaios produzidos pela autora foram reunidos no livro Viagem ao País do Futuro (Cepe Editora, 322 páginas, R$ 55; e R$ 22, e-book), que é lançado hoje, às 17h, no canal da Cepe no YouTube. O laçamento é uma parceria da editora pernambucana com a associação portuguesa Oceanos.

Publicados mensalmente no Suplemento Pernambuco e no jornal Público, os textos do projeto seguem a proposta do livro anterior de Isabel, Viagem ao Sonho Americano, que aborda sua investigação sobre os Estados Unidos na alvorada do governo de Donald Trump. Sua chegada ao Brasil coincide também com o primeiro ano da administração de Jair Bolsonaro, cujo discurso e postura estão totalmente distanciados do que se convencionou a associar ao espírito brasileiro, entre eles a solidariedade, a alegria e a promoção da diversidade.

Para sua empreitada, ela usa como base a literatura, partindo de obras como Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. O início de sua jornada se dá justamente pelo Sertão e, de lá, ela percorre estados como Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Amazonas, Paraná e Rio Grande do Sul. O percurso foi interrompido por conta da pandemia.

"É um bom ponto de partida. A literatura - vamos falar apenas da literatura, a boa - é um meio de indagação do mundo e, de forma mais ou menos óbvia, reflete o lugar onde é feita, as suas circunstâncias, o seu tempo, a sua geografia, as suas cogitações. Ajuda a fazer perguntas, ajuda a olhar, a duvidar. Nisso, ajuda a conhecer. A literatura que se faz no Brasil é uma ferramenta de autoconhecimento, claro. O cânone tem a vantagem da referência, ou seja, de falar de qualquer coisa reconhecível e ele é tanto melhor e mais caminho para conhecimento quanto permitir a descoberta, a integração do que é feito mais na margem; que seja um caminho para a diversidade, para a alternativa. Não deve ser um absoluto, deve ser uma porta de entrada", contou Isabel em entrevista.

No livro, além dos doze ensaios, há ainda um conteúdo inédito com pequenas anotações feitas pela autora durante sua passagem pelo País. Sem pretensões de encontrar respostas sobre as várias questões do Brasil, ela optou por lançar perguntas sobre esse território desconhecido e, ao mesmo tempo, tão familiar.

Como ela ressalta, este não é um trabalho científico e está permeado de subjetividade. Isabel contou que a viagem, entre outros aspectos, lhe mostrou que é muito difícil conhecer este País, que sua imensidão territorial e cultural têm um grande peso e que, ao mesmo tempo, seja pelo passado colonial ou pelas marcas da cultura lusitana ainda remanescentes, como a língua, houve uma sensação de pertencimento.

"Ele [o livro] fala de gente num território. Conta algumas histórias que talvez estejam próximas do que se entende por antropologia. Gostaria de deixar esse comentário para quem sabe. Ficaria contente que sim, que servisse também esse propósito. A observação é a minha grande ferramenta de trabalho e de vida. Tudo parte dela e é ela que me instiga a aprofundar o conhecimento, a entrar numa cultura, a saber mais de uma pessoa. Quero muito segui-la. Se sou alguma coisa, sou uma observadora, antes de mais. Depois é bom destilar esse observado e, para isso, socorro-me de tudo. De quem está à volta, de livros, de sons, de imagens, da memória, de um paladar, das emoções. Isso é o que compõe a cultura. Nunca a vejo desligada, acho que não existe desligada", reflete.

LANÇAMENTO

Na live que marca o lançamento do livro, Isabel Lucas conversa com o editor da revista literária Serrote, Paulo Roberto Pires, em papo mediado pelo escritor e editor Wellington de Melo. Em setembro, o livro será lançado em Portugal, em parceria da Cepe com a Companhia das Letras, em setembro.

* Entrevista fornecida pela assessoria de imprensa

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