Com Fernanda Montenegro e grande elenco, 'Piedade', de Cláudio Assis, estreia nos cinemas
Filme pernambucano conta ainda com Irandhir Santos, Matheus Nachtergaele, Cauã Reymond e Gabriel Leone
Piedade, filme do pernambucano Cláudio Assis (Amarelo Manga, Febre do Rato), finalmente chega aos cinemas do Recife, nesta quinta-feira (5). após mais de um ano de atraso, por conta da pandemia. O longa conta com um elenco de peso, encabeçado por Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele, Irandhir Santos, Cauã Reymond e Gabriel Leone e retrata várias transformações pelas quais o litoral pernambucano passou ao longo das últimas décadas por conta da especulação imobiliária e a falta de políticas de proteção à natureza.
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O filme é ambientado na cidade fictícia de Piedade, onde está o bar Paraíso do Mar, gerido por Carminha (Montenegro) e seu gilho mais velho, Omar (Irandhir). O espaço está sendo cobiçado pela Petrogreen, empresa representada por Aurélio (Nachtergaele), que quer explorar as riquezas naturais da região e, para isso, precisa desalojar as famílias que vivem ali. O destino desse clã é atravessado por uma ligação inesperada com Sandro (Reymond), proprietário de um decadente cinema pornô no centro do Recife.
Uma figura atormentada ealheia aos acontecimentos políticos e sociais, ele é o oposto do filho, Marlon Brando (Leone), que faz parte de um grupo de ativistas contra o projeto da Petrogreen. No imbróglio familiar e de negócios, Sandro acaba se envolvendo sexualmente com Aurélio.
Em entrevistas, Cláudio Assis contou que foi buscar nas memórias de sua juventude, quando ele se opôs às obras de construção do Porto de Suape, no Litoral Sul. A construção é considerada por muitos como responsável por alterações ambientais que fizeram, inclusive, os ataques de tubarão aumentarem nas praias do Estado. O animal aparece no filme como um símbolo não do mal, mas de uma natureza massacrada pela ganância do capital.
O elenco formado por excelentes atores está bem, mas o roteiro carece de maior fluidez. Este é o filme mais solar de Cláudio Assis, diretor talentoso conhecido por seu interesse nos aspectos sombrios e sujos (e por isso tantas vezes negados e escondidos) da natureza humana, e conta com belas imagens das praias e também da decadência da capital, representada pelo estabelecimento de Sandro.
Com um tema que se conecta à contemporaneidade e cujas reverberações ainda se observa na sociedade pernambucana, Piedade é também um filme sobre família, ancestralidade e pertencimento. No entanto, a forma como essas questões são exploradas sofre um pouco com a falta de profundidade, muitas vezes abrindo mão de sutilezas em torno da trama maior, mas tratada de forma igualmente superficial.