Análise

No Dia Nacional das Artes, cultura brasileira vive entre o descaso e a resistência

Desmonte de políticas públicas e pandemia estão entre os grandes problemas do setor

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Cadastrado por

Márcio Bastos

Publicado em 12/08/2021 às 17:04
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Nesta quinta-feira (12), comemora-se o Dia Nacional das Artes. A data foi decretada a partir da regulamentação das profissões de Artista e Técnico em Espetáculos de Diversões, pelo decreto de lei nº 82.385. Mas, este ano, assim como no anterior, há pouco o que se comemorar. Entre os problemas que afetam a área estão os efeitos da pandemia, o desmonte das políticas públicas para cultura, principalmente as que deveriam estar a cargo do Governo Federal, o descaso com memória, como mostrou o recente incêndio de um galpão da Cinemateca Nacional, e a estigmatização da classe artística.

No entanto, mesmo diante desse cenário, a cultura resiste e tenta se adaptar. Tomemos como exemplo o fechamento dos espaços para cultura durante mais de um ano, por conta da pandemia. Impossibilitados de se apresentar presencialmente, os artistas inovaram e promoveram hibridismos de linguagens, utilizando a internet para compartilhar seus trabalhos com o público. Na música, houve a profusão de lives em 2020, que ainda reverberam em 2021, mas sem a mesma força. Os streamings ganharam força e as produções de clipes estão cada vez mais sofisticadas, seja por parte de artistas associados a grandes gravadoras ou de nomes da cena independente.

Agora, com o avanço da vacinação e flexibilização das regras de convivência, já começa a se desenhar as perspectivas de shows presenciais, o que deve beneficiar principalmente os músicos e artistas que se apresentam em bares e espaços de menor porte.

Nas artes visuais, muitas galerias adotaram modelos de compartilhamento de exposições online, mas já começam a retomar as visitações presenciais. No Recife, espaços como a Amparo 60, Christal, Garrido e Arte Plural já estão recebendo o público e programando mostras inéditas. Equipamentos culturais, como os museus, a exemplo do Paço do Frevo, também já estão sendo ocupados pelos visitantes, retomando sua vida e função não só como espaços expositivos, mas de convivência e trocas de saberes.

As artes cênicas estiveram entre as que mais sofreram com a pandemia, já que sua natureza pressupõe a presença física, com artistas e público compartilhando o mesmo tempo e espaço. Isso não impediu que experimentações fossem criadas, com grupos e artistas criassem híbridos que utilizavam as possibilidades do mundo digital para discutir as questões do contemporâneo e pressupor outras formas de experienciar a arte. Os teatros, inclusive, já começam a reabrir e há a expectativa de grandes eventos voltarem a ser presenciais, a exemplo do Janeiro de Grandes Espetáculos.

Como sempre se soube e ficou ainda mais claro com a pandemia, a arte é essencial para o desenvolvimento da sociedade e uma ferramenta importante de transformação pessoal e coletiva. Valorizar os artistas e proteger a cultura é resistir à barbárie e proteger a democracia.

 

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