Museu do Homem do Nordeste reúne três ceramistas em nova exposição
Equipamento da Fundaj implementa conceito de Museu de Vizinhança com trabalhos de Gisela Abad, Sergio Bandeira e Saulo Dubourcq
A Fundação Joaquim Nabuco reabre seus equipamentos na Região Metropolitana do Recife nesta quinta-feira (19), data que marca os 172 anos do diplomata e intelectual que dá nome à instituição. Entre os que retomam as atividades está o Museu do Homem do Nordeste (Munhe), que no dia 20 de agosto recebe a exposição Três Ceramistas, que reúne os trabalhos em cerâmica de Gisela Abad, Sergio Bandeira e Saulo Dubourcq. A mostra fica em cartaz até 31 de outubro.
A mostra se alinha à proposta do Munhe de abraçar um conceito das Novas Museologias, o Museu de Vizinhança, no qual as relações com os artistas e os moradores do entorno da instituição são estreitadas. Os três participantes moram perto do Munhe e têm uma relação afetiva com o equipamento. Todos têm poéticas distintas e, também, são provenientes de outras profissões e fazeres, encontrando na arte uma forma potente de expressão.
A designer Gisela Abad, que foi funcionária da Fundaj, desenvolve seu interesse por cerâmica com um gosto particular por todo o processo de feitura, da formulação dos esmaltes ao tempo próprio da obra no forno. Seu interesse por peças utilitárias revela também um olhar afetuoso para os itens do cotidiano, imprimindo arte em objetos que normalmente poderiam passar despercebidos.
Além da pintura, ela insere nessas peças experimentações com caligrafia e outros elementos de sua experiência com o design. Na exposição, ela mostrará obras utilitárias, mas também uma peça em homenagem a Francisco Brennand, que ela considera um ponto fora da curva na sua produção. A partir do cascalho encontrado no caminho para a Oficina do mestre, que fica na Várzea, Zona Oeste do Recife, ela desenvolveu uma obra conceitual.
"A cerâmica que ali está não foi feita por mim, mas é como um agradecimento a Francisco Brennand, um desbravador que ajudou a trazer a cerâmica para um outro patamar da nossa existência", conta. "Para mim, trabalhar com cerâmica é pensar com as mãos e isso me fascina."
Para o auditor Saulo Dubourcq a relação com a cerâmica surgiu no ateliê de Cristina Machado e o interesse pela arte só se aprofundou com o tempo. Durante a pandemia, ele desenvolveu, com lajotas e pedras de argila pintadas com engobe e tinta da terra, desenhos que representam a natureza, como o mangue, o baobá, e as árvores do Sítio Trindade, espaços que visitou e pelos quais foi tocado.
"A argila é um material que traz muitas possibilidades. Se pode trabalhar ela com formas orgânicas, curvas retorcidas, que eu particularmente gosto muito, e também permite o trabalho tridimensional. Com placa de argila posso desenhar possibilidades e tem as surpresas próprias do trabalho, pois o produto final depende do clima, do fogo. São sempre resultados diferentes", explica.
O cirurgião-dentista Sergio Bandeira também se aproximou da cerâmica há relativamente pouco tempo, mas se apaixonou pelas possibilidades da técnica. Seu interesse por arte é antigo, antes manifestado na pintura, mas, na pandemia, dedicou-se com afinco à produção de cerâmica, encontrando nela, também, uma forma de escape.
"Já gostava muito de arte e o trabalho como dentista sempre me exigiu uma certa habilidade manual e um olhar apurado para restaurar as formas e cores dos dentes e aí no ano de 2020 todo meu tempo livre me dediquei a cerâmica. No começo do ano, comecei a frequentar o ateliê de Dulce Costa no Poco da Panela e foi aí que tivemos a ideia de trabalhar no painel que está exposto juntamente com outras peças que comecei a criar da minha imaginação", aponta ele, que atualmente concilia seu trabalho com dentista e a paixão pela cerâmica.