Artes visuais

Museu do Estado comemora 90 anos com exposição 'Tempo Tríbio'

Projeto reúne peça do vasto acervo da instituição. Na ocasião também será lançado livro homônimo, pela Cepe

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Márcio Bastos

Publicado em 25/08/2021 às 21:48
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O imponente casarão do século 19 localizado no número 960 da Avenida Rui Barbosa, no bairro das Graças, guarda muitos tempos. Naquele espaço está localizado o Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), instituição que completou 90 anos, preservando a memória histórica e cultural da região, ao mesmo tempo em que dialoga com o presente e projeta o futuro. Para celebrar a efeméride - já que não foi possível fazê-lo em 2020, por conta da pandemia - foi montada a exposição Tempo Tríbio, que coincide com o lançamento do livro homônimo editado pela Cepe Editora. A abertura acontece na quinta-feira (26), às 19h, no museu, para convidados, com visitação do público a partir da sexta (27).

Concebido em 1928 e inaugurado em 1930, o Museu do Estado ganhou sede própria em 1940, após passagem pelos prédios do Palácio da Justiça e pela Biblioteca Pública. Com curadoria da historiadora Maria Eduarda Marques e do antropólogo Raul Lody, a exposição nasceu de um mergulho no acervo da instituição, composto por mais de 15 mil peças. Algumas dessas obras são pouco conhecidas do público e ajudam a montar um complexo mosaico das transformações, permanências e projeções, conectando passado, presente e futuro. Daí o nome da mostra, que pega emprestado o conceito propagado pelo sociólogo Gilberto Freyre de que os tempos estão conectados.

 

FRED JORDÃO/DIVULGAÇÃO
DINAMISMO Trabalho com curadoria de Maria Eduarda Marques e Raul Lody mergulhou em um acervo composto por mais de 15 mil peças para ressaltar o legado de evoluções culturais, sociais e políticas de Pernambuco - FRED JORDÃO/DIVULGAÇÃO

"A minha relação com o museu é muito antiga. Nos anos 1980, fiz uma pesquisa sobre o xangô pernambucano. Durante o Estado Novo [1937-1946] houve muita repressão e apreensão de objetos das religiões de matriz africana. O museu, consciente de sua missão sobre a cultura de Pernambuco, acolheu mais de 300 objetos", conta Raul Lody, que há três anos também trabalhou na exposição de longa duração do Mepe. "Essa exposição comemorativa tem um sentido histórico de mostrar as evoluções sociais, culturais, políticas dessas décadas, mas sem ser uma história meramente sequencial; é contextual, dinâmica, o que reforça esse aspecto do museu ser ligado às artes plásticas, ao mobiliário, arte indígena, enfim, que tem um olhar muito amplo e plural."

O resgate do acervo é resultado de uma imersão realizada pelos pesquisadores na reserva técnica localizada no Espaço Cícero Dias. Através das peças, é possível viajar pela história do Estado, do Brasil e da América do Sul, em conexão com os movimentos globais, especialmente a Europa e a África, tanto em termos artísticos quanto sociopolíticos. Essas peças são colocadas em diálogo com o contexto atual, promovendo outros olhares sobre elas, seu tempo e o hoje.

FRED JORDÃO/DIVULGAÇÃO
APROFUNDAMENTO Mostra passeia por diferentes períodos históricos - FRED JORDÃO/DIVULGAÇÃO

O curador reforça ainda que foi concebido um material digital para a exposição, que estará disponível no local, auxiliando no trabalho educativo da instituição e que também deve ser compartilhado online, mas que alcance um maior número de pessoas. Aos que quiserem se aprofundar na história da instituição e de seu acervo, o livro editado pela Cepe oferece um conteúdo textual e imagético robusto.

A obra está integrada à exposição e tem artigos assinados pelos dois curadores e pelos pesquisadores Marileide Alves, Renato Athias, Pablo lucena e André Soares. A edição é do jornalista Júlio Cavani, com fotos de Fred Jordão, projeto gráfico de Germana Freire e produção da Cria.

O trabalho ressalta as raízes da instituição e investiga sua identidade multicultural, com passagens inéditas sobre detalhes dos processos de criação do Mepe e de formação das primeiras coleções de artes e antiguidades. Entre os destaques estão as coleções de peças de cultos afro-brasileiros, citadas por Lody, e a coleção com 846 peças de 54 povos indígenas. O livro conta ainda com análises sobre os contextos políticos e culturais do Recife, sobretudo das décadas de 1920, 1930 e 1940.

A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 11h às 17h, e aos sábados e domingos, das 14h às 17h, para grupos de até 15 pessoas por vez, com visitas marcadas e guiadas com todos os protocolos de segurança contra a covid-19. Os agendamentos para visitação de grupos escolares ou de instituições em geral serão realizados previamente mediante contato telefônico (3184-3174) ou por e-mail([email protected]).

FICÇÃO

A Cepe Editora também lança nesta quinta-feira (26), em live no seu canal no YouTube, às 19h, o livro Ficção em Pernambuco: breve história. A obra reúne ensaios dos escritores e professores Pedro Américo de Farias, Cristhiano Aguiar e Socorro Nunes sobre os 174 anos de produção literária (romances, contos, novelas e crônicas) no Estado. O trabalho mostra as trajetórias, contextos históricos, influências, percalços e protagonistas desse gênero que - como atestam os autores - ainda é pouco conhecido e carece de mais estudos em Pernambuco. Na live, os autores conversarão com o escritor e editor Wellington de Melo, que fará a mediação do encontro.

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