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Diane Warren, uma das maiores compositoras do pop, lança seu primeiro álbum: 'Só quero escrever uma grande música'

Estadunidense já trabalhou com nomes como Beyoncé, Lady Gaga, Aerosmith e Toni Braxton

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Márcio Bastos

Publicado em 09/09/2021 às 6:00 | Atualizado em 09/09/2021 às 10:22
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Diane Warren é um dos nome mais influentes da música pop internacional, ainda que tenha construído sua carreira nos bastidores. A compositora estadunidense é responsável por sucesso de vários artistas como Lady Gaga, Toni Braxton, Beyoncé, Aerosmith, Celine Dion, só para citar alguns, e tem na bagagem prêmios Grammy, Emmy, Globo de Ouro, além de 11 indicações ao Oscar (apesar de nunca ter ganho o prêmio). Após mais três décadas escrevendo para outros, ela decidiu encabeçar um projeto em que é a estrela principal, ainda que conte com o auxílio de vários parceiros antigos e também de novos colaboradores. O resultado é o disco The Cave Sessions Vol. 1, já disponível nas plataformas digitais, via BMG.

Trabalhar com música era um desejo de Diane desde muito nova, quando desenvolveu o hábito de examinar os créditos impressos nos encartes dos discos. Ela sabia que queria seu nome ali, não como intérprete, mas como compositora. Para ela, não havia outra opção: era a música ou nada. A persistência e o talento deram certo: em 1985 ela escreveu Rhythm of the Night para o grupo DeBarge, uma família ícone da Motown, e conseguiu seu primeiro grande sucesso escrevendo sozinha. A partir daí, ela se tornou quase uma fábrica de hits à qual artistas de diferentes gêneros recorreram.

"Quando eu vi os créditos no disco, eu pensei: 'Quero estar aí'. E consegui. Mas hoje é tão difícil encontrar toda essa informação [técnica sobre as músicas], você tem que fazer uma grande pesquisa. Eu sinto falta de abrir um disco e ver o que está lá", contou Diane em entrevista ao Jornal do Commercio, reforçando ainda que mantém o hábito de compor sozinha, exceto em raras exceções, o que contrasta com o número cada vez maior de escritores envolvidos na criação de canções pop. "Algumas dessas músicas [com vários compositores] parece que foram escritas por um comitê. Eu só quero fazer uma ótima música - e não acho que você precisa de doze pessoas para fazer isso. Talvez funcione para eles, mas não é o meu jeito."

Esta característica de produção solitária fez com que o isolamento da pandemia não alterasse a sua produção. Metódica e apaixonada pelo processo de criação, ela costuma escrever diariamente (a entrevista foi realizada à tarde, no Brasil, e no final da manhã, nos EUA, e, antes dela, Diane estava compondo). Durante esse tempo, ela aproveitou para produzir seu álbum, projeto que já vislumbrava há alguns anos.

"Fiz muita coisa — e continuo fazendo. Sempre estou indo de uma música para a próxima e escrevi ótimas canções durante a pandemia — e algumas delas estão no meu disco", contou. "Outras eu já tinha, como a com John Legend [Where is Your Heart], que eu estava determinada a fazer ser ouvida pelo mundo. Ao mesmo tempo, eu sempre quis fazer um disco assim, que é como um DJ faz, como David Guetta, Calvin Harris ou DJ Khaled, com a diferença que eu não fico gritando meu nome (risos). Queria fazer a versão de um compositor [para esse tipo de trabalho]."

Um dos objetivos de Diane Warren com este disco era mostrar sua versatilidade como compositora, já que ao longo de sua carreira ela criou para artistas de diferentes estilos musicais. Assim, o disco mistura rappers, como G-Eazy e Ty Dolla $ign, com o ícone da música latina, Santana, Luis Fonsi (do hit Despacito), com as cantoras Celine Dion, Leona Lewis, Rita Ora, Lauren Jauregui, entre outros.

"Em resumo, precisa ser uma boa música para que você tenha diferentes estilos e tenha uma certa qualidade. Nem sempre eu pude estar presente no estúdio, principalmente durante a pandemia. Alguns desses artistas estavam do outro lado do oceano, como James Arthur. E eu gosto de estar nos bastidores, mas tem sido divertido ser a capitã do navio, e ter uma opinião sobre como o projeto vai ser promovido e coisas do tipo. Eu não estou no palco cantando as músicas. Eu sou só a bartender no clipe (risos)", reforçou, fazendo alusão ao fato de que faz uma ponta no clipe da música Seaside, com Rita Ora, Sofía Reys e Reik, como uma das funcionárias de um bar.

Para a americana, um critério indispensável era que apesar das canções soarem distintas, todas deveriam ter personalidade e que ficasse claro que foram escritas pela mesma pessoa. Outra diretriz era a de que todas deveriam soar como sucessos em potencial, prontas para ganhar espaço nas rádios e nas playlists dos streamings.

SUCESSO

Versatilidade é, de fato, uma das características do trabalho de Diane Warren. Apesar de ser conhecida por grandes baladas, como Un-break My Heart, de Toni Braxton, e Because You Loved Me, de Céline Dion, ela já compôs para artistas de diferentes gêneros musicais. Sua ligação com a música latina, por exemplo, vem de anos, e passa por cantores como Gloria Stefan, Ricky Martin, Selena e a dupla brasileira Sandy & Junior.

Artistas do country e do rock também recorreram à sua caneta, como Ringo Starr, Kiss, Cheap Trick, Aerosmith, Meat Loaf, Joan Jett, entre outros. No pop e r&b, seu nome também pode ser encontrado em canções de Beyoncé, Cher, Chaka Khan, Mariah Carey, Patti Labelle, Whitney Houston, Britney Spears e Lady Gaga, com quem recebeu uma de suas onze indicações ao Oscar na categoria Canção Original, pela música 'Til It Happens To You.

Além da indicação à principal estatueta da sétima arte, Diane Warren já foi indicada várias vezes ao Grammy (venceu em 1997, com Because You Loved Me), venceu o Emmy e o Globo de Ouro, uma vez que tem um trabalho muito próximo ao cinema e escreveu para trilhas-sonoras de vários longas-metragens. O sucesso crítico também veio acompanhado da aclamação comercial: ela emplacou nove músicas no topo da Billboard, principal parada de música dos Estados Unidos, e 32 chegaram ao top 10.

Após todos esses anos, a cantora conta que sente quando uma música está pronta e que, algumas vezes, a falta de sucesso de uma delas é resultado de fatores mais complexos, como falta de investimento por parte da gravadora. Exemplo disso é a faixa Spanish Guitar, de Toni Braxton, que foi um sucesso no Brasil e fez parte da trilha sonora da novela Laços de Família (2000), mas teve um desempenho abaixo do esperado nos EUA e no resto do mundo. Informada da popularidade da canção por aqui, ela se mostrou surpresa e feliz.

"Eu não sabia disso! Essa é uma das minhas músicas favoritas entre as que já escrevi. Gosto mais do que de Un-break My Heart [canção que conquistou o primeiro lugar nas paradas]. Isso me faz sentir bem", disse. "O que é diferente em relação a este disco, é que ele é meu. O processo é parecido: eu dou a música, os artistas cantam, os produtores produzem, mas está embaixo do meu guarda-chuva [em relação às decisões artísticas]. É divertido não só dar a música para um artista - o que eu ainda faço - mas participar de outras partes, fazer um trabalho de curadoria."

MAESTRIA

A experiência de produzir esse disco foi tão positiva que Diane já pensa no segundo volume. As conversas com alguns artistas já começaram e ela tem várias músicas compostas. Porém, sem pressa. Até porque, algumas dessas canções podem acabar no disco de outros artistas, já que a estadunidense não tem "apego" às suas criações, contanto que estejam em boas mãos. Sobre o segredo de sua longevidade na indústria musical e a capacidade de se adaptar às mudanças dos tempos, ela afirma que sua grande característica é sempre estar pronta para o trabalho.

Focada em escrever, ela diz não saber o que esperar de sua produção no futuro, exceto a busca contínua por qualidade. Diane conta que não tem um artista em específico com o qual ainda queira trabalhar, mas seu desejo é se manter cercada de talentos e grandes cantores, até porque ela não costuma escrever com artistas específicos em mente — apesar de, em algumas situações, como no caso de If I Could Turn Back Time, de Cher, ter chegado a insistir que o intérprete aceitasse a canção, pois sabia que seria um sucesso em sua voz.

"Eu me comprometo e vou à labuta. Eu só quero continuar melhorando e escrever grandes canções. É simples assim", explicou. "Acho que a canção te diz quando ela está pronta. Aconteceu com algo que eu estava escrevendo nesta manhã. Estava quase terminando, na ponte (parte da música que conecta partes da canção e prepara para o refrão), tentando coisas diferentes e, quando estava deixando para lá, realizei, 'ah, claro, está na cara como deve ser'."

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