Dia Nacional do Teatro: entre o online e volta ao presencial, arte sobrevive
Adaptação para as mídias digitais causadas pela pandemia devem conviver com os palcos
O Dia Nacional do Teatro é comemorado neste domingo, 19 de setembro, de uma forma mais esperançosa. O cenário é melhor do que há um ano, quando a vacinação contra a covid-19 ainda parecia muito distante e a crise política e sanitária encontrava-se em um de seus ápices, mas ainda há muitas interrogações. Isso porque após mais de um ano e meio de suspensão da atividades presenciais em teatros devido à pandemia do coronavírus, esses equipamentos começam a reabrir, como é o caso dos teatros Santa Isabel e Barreto Júnior, ambos nos Recife. Eles estão retornando em um processo que promete ser gradativo, tanto em termos de programação quanto da própria produção cultural.
Com a eclosão da pandemia no Brasil, em março de 2020, as atividades culturais estiveram entre as primeiras a cessar suas ações presenciais. A migração para o online gerou uma primeira onda de disponibilização de materiais, como peças gravadas, lives, entre outras. Aos poucos, os artistas começaram também a criar produções já pensadas para o formato online, com concepção e execução remotas.
Com o passar dos meses, iniciativas independentes e, também, algumas fomentadas por editais, começaram a surgir com mais frequência e a liberação dos recursos da Lei Aldir Blanc (após uma grande pressão e luta da classe artística) teve papel fundamental nesse fomento. Foram surgindo experiências variadas, que promoviam o hibridismo de linguagem e tensionavam novas formas de produzir e também de recepção para o público. Ferramentas como Google Meet, YouTube, Instagram e Zoom, entre outras, passaram não só a ser mecanismos de comunicação, mas também "salas de espetáculo".
Essa produção do online de artes cênicas parece ter arrefecido nos últimos meses, talvez até por um cansaço generalizado com as mediações digitais, como se vê também em outras áreas, como a música (quem não lembra da época em que havia pelo menos quatro grandes lives por dia?).
Para Rodrigo Dourado, diretor do grupo Teatro de Fronteira e professor do Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), esta nova fase deve mostrar um ímpeto do público pela volta aos teatros ainda que, no início, a oferta de espetáculos esteja mais voltadas para o público infantil e obras voltadas para um circuito mais amplo.
"Para o público adulto a volta deve demorar um pouco mais, especialmente aquelas obras de caráter mais experimental e alternativo. Isso porque são trabalhos que dependem do fomento de editais. Então, neste momento, sinto que as pessoas estão se reorganizando, se reencontrando, se reestruturando para voltar ao presencial. O que tenho observado é que as peças infantis que já estão em cartaz estão sempre lotadas, o que parece um ótimo sinal dessa vontade das pessoas de assistirem ao teatro presencial", pontua.
O pesquisador acredita que no futuro próximo haverá uma convivência entre o presencial e o online e que artistas e grupos devem continuar desenvolvendo obras para a internet, uma vez que descobriram o alcance deste meio. Rodrigo, por exemplo, já prepara novos trabalhos do Teatro de Fronteira com estreias previstas para dezembro ou janeiro: a peça Lugar Marcado, com Fátima Pontes e Fátima Aguiar, com previsão de apresentações presenciais, e uma palestra-performance com o performer Ian Habib, para o digital. Ele desenvolve ainda Essa Menina, com Roberta Ramos, pensada para ser montada tanto com plateia quanto remotamente.
"O online ainda tem coisa para render. Sei que há um cansaço já, muita gente já parou de ver porque não gostou do formato ou não se adaptou, mas acho que tem agora um pensamento sobre o online, de chegar às plateias de fora da sua cidade. Então, minha visão é que a gente vai ficar com essa coexistência de um teatro presencial e experimentos online, ou ainda de como transformar seu trabalho presencial em algo transmissível de forma online", reforça.
Quanto à produção, o professor e artista acredita que a nova edição da Lei Aldir Blanc, muito esperada pela classe, deve fomentar uma nova leva de trabalhos experimentais para os palcos e para as telas.