Furmiga apresenta novos caminhos na série 'Aprendendo a Ler Sonhos'
Mostra ocupa o Studio Mu e reforça interesse do recifense em temas ligados ao inconsciente
O artista visual Gabriel Furmiga apresenta suas criações mais recentes na exposição Aprendendo a Ler Sonhos, atualmente em exibição no Studio Mu, localizado no Poço da Panela. É a primeira individual do recifense, cuja produção prolífica investiga diferentes técnicas e temáticas, partindo de um viés autobiográfico. Além da pintura, a exposição reúne trabalhos em serigrafia, cianotipia, risografia, entre outras técnicas.
Ligado à pintura e ao desenho desde a infância (ele enxergava na arte uma forma de falar e, ainda assim, manter uma espécie de segredo), desde 2015 Gabriel passou a assinar como Furmiga e a se dedicar à arte de forma profissional. Nesse período desenvolveu uma série de desenhos ligados ao Afrofuturismo, nos quais pesquisou a relação do seu corpo com o movimento. O projeto desencadeou outras inquietações no artista, motivando um mergulho também no inconsciente.
"Entre as questões que vieram para mim estavam dilemas em relação à representação, a partir do momento em que eu sou um artista negro. Então o que é essa arte negra que eu vinha produzindo e quais são as limitações que o meu trabalho apresentava quando entrava em contato com outras pessoas, a partir do momento em que o que eu vinha fazendo era sempre lido quase somente por uma via racial, de questões de sexualidade e gênero que também apareciam. Acho que era um debate fundamental, mas que também me limitava e atava a certos tópicos", explicou Furmiga.
Ele disse ter sentido a necessidade de explorar em sua obra outras questões pessoais sem precisar falar das coisas de forma tão explícita e também se desprender um pouco do entorno. Em março de 2020, no começo da pandemia, passou a desenvolver a série Aprendendo a Ler Sonhos. Foi nesse momento que começou a trabalhar com pintura e o suporte da tela de forma mais efetiva, já que até então explorava mais o desenho e o papel. No processo, passou não só a usar o autorretrato, já presente na sua obra, mas também a inserir mais elementos da natureza.
"Comecei a transfigurar esse corpo a partir de autorretratos com pássaros e a ideia do voo, pensando nesse corpo em constante mudança e movimento; e não só de forma isolada. Eu sou parte desse todo. Foi uma reflexão muito iniciada pelo período de pandemia, de perceber que eu estava mais isolado do percorrer a cidade, para perceber esses desvios do espaço do meu quarto, que é onde eu pintava. Poder focar mais nessas conversas internas", reforçou.