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'Suk Suk - Um Amor em Segredo' faz retrato delicado da paixão entre homens idosos

Longa de Hong Kong estreia nesta quinta-feira (30), no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco

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Márcio Bastos

Publicado em 30/09/2021 às 12:37 | Atualizado em 30/09/2021 às 12:38
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Suk Suk - Um Amor em Segredo consegue o raro feito de desenvolver uma trama profundamente intimista ao mesmo tempo em que aborda temas sociais complexos, como o preconceito contra a comunidade LGBTQIA , sem soar panfletário. O longa-metragem dirigido por Ray Yeung entra em cartaz nesta quinta-feira (30), no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.

Com dois filhos adultos, uma neta pequena e um casamento longevo, Pak (Tai-Bo) tem uma vida considerada estável e que segue o padrão heteronormativo instituído em Hong Kong, onde vive desde a juventude. Aos 70 anos e já apto a se aposentar, ele prefere passar seus dias rodando no táxi no qual trabalha há décadas.

Nos intervalos dessas viagens, busca aventuras amorosas com outros homens. Em um desses passeios, conhece Hoi (Ben Yuen), com quem passa a desenvolver um romance secreto que abre, na fase mais madura da vida de ambos, novas possibilidades de experienciar o amor.

Pak permite-se baixar a guarda com Hoi, a princípio, por este também vivenciar sua sexualidade longe dos olhos da família. Hoi mora junto ao filho, que criou sozinho, a nora e a neta. A doçura do patriarca se opõe à do filho, que é cristão e impõe regras rígidas de comportamento aos outros membros da família.

Com Hoi, Pak descobre não só os prazeres do sexo com afeto, do amor e companheirismo, como também convive, pela primeira vez, com outros homens gays. Com delicadeza, o roteiro e a direção mostram os efeitos transformadores da paixão em ambos, despertando uma felicidade que há muito não experienciavam (e, no caso de Pak, que talvez nunca tivesse sido sentida).

Não só a relação dos dois, como também entre eles e suas famílias, são abordadas com muitas nuances. Os envolvidos ali estão, de uma maneira ou de outra, pressionados por expectativas sociais e, cada um a sua maneira, tentando lidar com isso. E o diretor Ray Yeung aborda essas tensões com maestria, muitas vezes sem palavras, focando olhares e gestos.

A questão da luta por direitos da comunidade LGBTQIA em Hong Kong é outro aspecto tocante do filme. Através dos encontros de Hoi com um grupo de amigos também gays e idosos, onde é colocada em pauta a necessidade de criação de uma casa de repouso para essa população, se expõe a vulnerabilidade da comunidade e a solidão que o preconceito e a discriminação impõem aos que desviam do padrão heteronormativo.

Marcado por beleza e melancolia, Suk Suk é um filme que trata da complexidade do amor e das relações familiares com um olhar cuidadoso e profundo, que acompanha o espectador para além dos créditos finais.

 

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