Dani Tranchesi lança livro com registros de feiras livres durante a pandemia
Em 95 imagens, fotógrafa apresenta a dinâmica dos espaços e seus personagens
A fotógrafa Dani Tranchesi há muito fomenta seu fascínio por feiras livres e mercados públicos, registrando muitos desses espaços durante suas viagens nacionais e internacionais. Como as feiras livres foram uns dos poucos lugares que não pararam de funcionar na maior parte da duração da covid-19, a artista decidiu lançar seu olhar sobre esses locais e como eles eram afetados pelo momento histórico. Foi assim que nasceu o recém-lançado livro 3 é 5.
Em 95 imagens, 3 é 5 não somente documenta a montagem e desmontagem de uma feira livre (Dani e uma pequena equipe registraram quatro feiras em São Paulo durante o ano de 2020), seus personagens, feirantes e fregueses, e a movimentação frenética e caótica. Mas, sobretudo, revela o seu espetáculo lúdico e evidencia seus trabalhadores (os feirantes), dando-lhes nome e sobrenome.
Mesmo sem adotar uma cronologia do montar e desmontar das feiras, o livro pode ser dividido em três partes: Na primeira, começando com a feira ainda de madrugada, sem a presença frenética dos fregueses. Apenas dos trabalhadores montando a “ópera”. Depois, segue com imagens no dia amanhecendo e alguns poucos transeuntes, com registros mais próximos dos feirantes, dos muros em torno das barracas e produtos expostos, deflagrando enquadramentos e ângulos que passam despercebidos pelos olhos.
Na segunda parte os feirantes se tornam protagonistas de 3 é 5 ao posarem num estúdio improvisado em alguns pontos da feira, numa clara homenagem aos populares “lambe-lambe” que proliferaram nas cidades do Brasil no passado. Os feirantes ganham identidade e existência. Também se revelam para além da dureza do trabalho cotidiano, virando “atores” de uma ópera encenada ao acaso. “É uma maneira de torná-los existentes para além da resistência intrínseca da atividade que exercem”, explica Dani Tranchesi, sobre colocá-los posando num estúdio improvisado.
A terceira e última parte, traz um material extra do livro, com registros dos fotogramas do curta-metragem de Pedro Castelo Branco, com algumas imagens em preto e branco que mostram de maneira documental as feiras com os fregueses caminhando no meio das barracas em planos mais abertos, usando máscaras e mostrando estarmos vivendo uma crise sanitária por causa da pandemia da Covid-19.
Mas o livro 3 é 5 extrapola novamente o mero registro documental, voltando a beber na literatura, como na imagem do rosto em close de um feirante que se assemelha ao Manuelzão (personagem criado por Guimarães Rosa, que se inspirou no vaqueiro Manuel Nardi, e saído dos contos Corpo de Baile), ou ainda quando as imagens mostram as sombras dos fregueses nos asfaltos, mimetizando os personagens “noturnos” dos contos de Dalton Trevisan.
Para Diógenes Moura, curador de projeto 3 é 5, o livro mostra que “a feira é um lugar de resistência e consegue se manter diante de um mundo onde tudo se tornou online. O livro ainda vem acompanhado de dois QR Codes que dão acesso aos textos do curador Diógenes Moura, divididos em cinco partes: A Ópera, Os Olhos, O Beijo, O Plural e Os Nomes, além de um curta-metragem homônimo, realizado pelo cineasta Pedro Castelo Branco.