Artes visuais

Dani Tranchesi lança livro com registros de feiras livres durante a pandemia

Em 95 imagens, fotógrafa apresenta a dinâmica dos espaços e seus personagens

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JC

Publicado em 30/09/2021 às 19:14 | Atualizado em 30/09/2021 às 19:15
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A fotógrafa Dani Tranchesi há muito fomenta seu fascínio por feiras livres e mercados públicos, registrando muitos desses espaços durante suas viagens nacionais e internacionais. Como as feiras livres foram uns dos poucos lugares que não pararam de funcionar na maior parte da duração da covid-19, a artista decidiu lançar seu olhar sobre esses locais e como eles eram afetados pelo momento histórico. Foi assim que nasceu o recém-lançado livro 3 é 5.

Em 95 imagens, 3 é 5 não somente documenta a montagem e desmontagem de uma feira livre (Dani e uma pequena equipe registraram quatro feiras em São Paulo durante o ano de 2020), seus personagens, feirantes e fregueses, e a movimentação frenética e caótica. Mas, sobretudo, revela o seu espetáculo lúdico e evidencia seus trabalhadores (os feirantes), dando-lhes nome e sobrenome.

Mesmo sem adotar uma cronologia do montar e desmontar das feiras, o livro pode ser dividido em três partes: Na primeira, começando com a feira ainda de madrugada, sem a presença frenética dos fregueses. Apenas dos trabalhadores montando a “ópera”. Depois, segue com imagens no dia amanhecendo e alguns poucos transeuntes, com registros mais próximos dos feirantes, dos muros em torno das barracas e produtos expostos, deflagrando enquadramentos e ângulos que passam despercebidos pelos olhos.

Dani Tranchesi/Divulgação
'3 é 5': projeto lança olhar sobre lugares e as pessoas que o ocupam - Dani Tranchesi/Divulgação

Na segunda parte os feirantes se tornam protagonistas de 3 é 5 ao posarem num estúdio improvisado em alguns pontos da feira, numa clara homenagem aos populares “lambe-lambe” que proliferaram nas cidades do Brasil no passado. Os feirantes ganham identidade e existência. Também se revelam para além da dureza do trabalho cotidiano, virando “atores” de uma ópera encenada ao acaso. “É uma maneira de torná-los existentes para além da resistência intrínseca da atividade que exercem”, explica Dani Tranchesi, sobre colocá-los posando num estúdio improvisado.

A terceira e última parte, traz um material extra do livro, com registros dos fotogramas do curta-metragem de Pedro Castelo Branco, com algumas imagens em preto e branco que mostram de maneira documental as feiras com os fregueses caminhando no meio das barracas em planos mais abertos, usando máscaras e mostrando estarmos vivendo uma crise sanitária por causa da pandemia da Covid-19.

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'3 é 5': Fotografias têm cuidado em não desumanizar seus retratados - Dani Tranchesi/Divulgação

Mas o livro 3 é 5 extrapola novamente o mero registro documental, voltando a beber na literatura, como na imagem do rosto em close de um feirante que se assemelha ao Manuelzão (personagem criado por Guimarães Rosa, que se inspirou no vaqueiro Manuel Nardi, e saído dos contos Corpo de Baile), ou ainda quando as imagens mostram as sombras dos fregueses nos asfaltos, mimetizando os personagens “noturnos” dos contos de Dalton Trevisan.

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'3 é 5': fotografias revelam a realidade dos trabalhadores desses espaços na crise sanitária - Dani Tranchesi/Divulgação

Para Diógenes Moura, curador de projeto 3 é 5, o livro mostra que “a feira é um lugar de resistência e consegue se manter diante de um mundo onde tudo se tornou online. O livro ainda vem acompanhado de dois QR Codes que dão acesso aos textos do curador Diógenes Moura, divididos em cinco partes: A Ópera, Os Olhos, O Beijo, O Plural e Os Nomes, além de um curta-metragem homônimo, realizado pelo cineasta Pedro Castelo Branco.

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'3 é 5': livro registra cotidiano das feiras livres durante a pandemia - Dani Tranchesi/Divulgação

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