MÚSICA

Nordestina Futurista? Conheça Luana Flores, artista que une tecnologia e raízes da região

Artista paraibana reúne nomes jovens e tradicionais da cultura popular nordestina em único trabalho

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Bruno Vinicius

Publicado em 08/10/2021 às 13:23 | Atualizado em 08/10/2021 às 14:39
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Como será o futuro do Nordeste? Para a multiartista paraibana Luana Flores, ele valorizará as raízes, as ancestralidades e os ritmos originários da região com a tecnologia. Ela, que é DJ, compositora, beatmaker e cantora, lançou recentemente o EP "Nordeste Futurista" nas plataformas digitais, fazendo uma imersão nas tradições nordestinas com estéticas e sonoridades eletrônicas. O trabalho, que possui cinco canções, mescla rap e repente, o coco e o beat eletrônico, mestras da cultura popular e novos nomes da cena musical de estados diferentes da região.

"No discurso eu sinto que acabei criando o Nordeste Futurista pra propor uma outra dimensão mesmo, num sentido de criar novas possibilidades de existência, não só no nordeste, mas como um todo. É uma forma de se empoderar, propor novas experiências pro mundo, uma nova cara pra esse território, com sons e visuais que se distanciam de estereótipos ou do que se espera falando em Nordeste, sabe?", explica a artista ao Jornal do Commercio.

Luana conta que o conceito surgiu a partir da desconstrução de estereótipos que as pessoas externam sobre o Nordeste, ao mesmo tempo que ela reverbera as raízes que compõem os nove estados. "O futurista circula dentro de uma perspectiva de um futuro ancestral. Acho que no Brasil a gente está passando por esse momento de retomada, de sentir a importância de entender nossas raízes, de nos conectarmos com ela. A gente foi ensinado a ter vergonha da nossa identidade, do nosso sotaque, da nossa cultura, a diminuir uma sabedoria popular que hoje eu consigo ver como algo tremendamente poderoso", comenta Luana.

O trabalho traz nomes potentes de uma nova cena musical nordestina, assim como as antigas mestras que carregam os saberes ancestrais. Tem parcerias com Jéssica Caitano, do Sertão do Pajeú, à Mestra Ana do Coco. "Eu acho que a Cultura popular precisa ser mais valorizada pelo poder público. Em algumas entrevistas me perguntam ou comentam algo referente a eu estar "resgatando" essa cultura. E acho massa romper com esse pensamento que soa muito colonizador", pontua a artista.

 

Futurismo salva culturas

Vale salientar que esse conceito de futurismo tem sido estudado, questionado e proposto por artistas há décadas. Um grande exemplo disso é o conceito de "afrofuturismo", que surgiu pela primeira vez em 1994 no ensaio ‘‘Black To The Future’’, do norte-americano Mark Dery. Ele surgiu como uma reflexão do autor sobre a ausência de negros na ficção científica: de tão violentada, a população negra não tinha perspectiva de futuro.

"Afro-americanos vivem em um pesadelo sci-fi em que campos de força de intolerância invisíveis e intransponíveis frustram seus movimentos [e] a tecnologia é frequentemente usada contra os corpos negros", diz o autor no ensaio.

Hoje, entende-se como "afrofuturismo" uma corrente filosófica que aborda a filosofia, a ficção, a política e as artes. Nas artes, o movimento traz uma esfera de futuro e tecnológica que ao mesmo tempo imerge na ancestralidade negra. O filme "Pantera Negra", em 2018, com todo o universo de Wakanda, foi um dos grandes produtos que levaram o conceito ao público. Em 2020, a cantora Beyoncé lançou o álbum visual "Black Is King", que transforma a história original de "O Rei Leão" em uma série de videoclipes com as culturas africanas como protagonistas. 

Nesse cenário, outras culturas também podem se colocar na perspectiva de futuro, como a nordestina que Luana Flores traz. A rapper e ativista indígena Katú Mirim também lançou o seu trabalho "Indígena Futurista", acompanhando o movimento na perspectiva de salvaguardar a sua ancestralidade.

 

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