Jaqueline Fraga, finalista do Jabuti, lança segunda edição do 'Negra Sou'
Livro conta histórias de mulheres negras que ocupam postos nas profissões mais valorizadas do País
Um dos processos importantes para a escrita de um trabalho é a ligação de quem escreve com o tema. Foi a decisão que a jornalista Jaqueline Fraga teve ao fazer seu trabalho de conclusão de curso em jornalismo, em 2015, sobre a trajetória de mulheres negras nas profissões mais valorizadas no Brasil. Naquela época, em uma pesquisa de quase um ano, chegou à conclusão que a carreira militar, a medicina, o direito, a engenharia e odontologia. Cinco mulheres negras foram as histórias escolhidas para representar essas profissões, resultando em uma série de reportagens. Após quatro anos, essas narrativas se transformaram em "Negra Sou: a ascensão da mulher negra no mercado de trabalho", em um novo formato ao trabalho anterior.
Lançada na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, em 2019, a publicação retorna ao evento literário neste domingo (10), em uma segunda edição. No mesmo dia, a escritora e jornalista lançará a versão impressa do livro "Big Gatilho", anteriormente divulgado em e-book. O espaço entre uma edição e outra foram suficientes para o trabalho de Jaqueline ganhar novos ares. Ela ganhou menção honrosa no Prêmio de Jornalismo de Direitos Humanos, um dos principais da área, e foi finalista do Prêmio Jabuti 2020, na categoria livro-reportagem. E o projeto já tinha sido condecorado com o Prêmio Antonieta de Barros, antes mesmo da publicação.
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Em um espaço-tempo de quatro anos, Jaqueline diz que não houve muita diferença nas histórias contadas por ela. Ela reeditou as entrevistas, além de apontar referenciais teóricos como Djamilla Ribeiro, Sueli Carneiro e Grada Kilomba. "Quando eu fui lançar o livro, em 2019, na primeira edição, entrevistei novamente as cinco mulheres que são representadas na obra. Aí, no fim de cada capítulo, tem essa nova entrevista, que dá para a gente perceber como estava a vida de cada uma após esses quatro anos. Entre as questões levantadas, por exemplo, estão as percepções sobre representatividade e racismo no Brasil, se ainda são iguais a 2015, se está havendo avanços", afirma.
Apesar da singularidade de cada uma delas, a escritora aponta as semelhanças entre a sua trajetória e a das mulheres que são conhecidas no livro. "Ao longo do livro, que traz reportagens especiais pautadas no jornalismo literário, há subjetividade, há momentos, e não são poucos, que também apresento minhas próprias percepções. Então, sim, eu vejo um pouco (ou muito) de cada uma em mim. Por exemplo, desde as mulheres mais velhas retratadas na obra, até as mais jovens, todas lembram de casos de preconceito sofridos ainda na infância ou na adolescência", explica Fraga.
Trajetória de mulheres negras no trabalho
A escrita de Jaqueline Fraga discorre sobre um problema que atravessa o mercado de trabalho. Segundo aponta uma pesquisa da consultoria Indique uma Preta, apenas 8% das mulheres negras ocupam postos de liderança em cargos formais. "Quando eu imaginei, vislumbrei e idealizei o Negra Sou, eu queria justamente romper com esse posicionamento de que pessoas negras só podem falar a partir de casos de racismo e que estão quase que obrigadas a atuarem em áreas subalternizadas, sem desmerecer, obviamente, qualquer profissão. Eu queria trazer histórias de protagonismo, de destaque, de sucesso, justamente para mostrar que esses espaços também nos pertencem e inspirar mais pessoas negras a buscarem seus sonhos profissionais", frisa a jornalista.
Big Gatilho impresso
Durante a última temporada do "Big Brother Brasil", a jornalista também escreveu. O resultado foi o livro "Big Gatilho", que inicialmente chegou apenas nas plataformas digitais. Junto a reedição do primeiro, ela o lançará na versão impressa na Bienal. "A última edição do BBB teve, pela primeira vez, um elenco com equidade entre brancos e negros, mas houve todas aquelas questões, com momentos difíceis de serem assistidos. Então, a obra traz, em forma de versos, uma análise crítica e poética de alguns acontecimentos. Há, por exemplo, questionamentos sobre se há espaço para redenção, especialmente quando os acusados são pessoas negras".
Ambos serão lançados na plataforma de lançamentos do evento, no Centro de Convenções, neste domingo (10), das 15h às 16h e das 19h às 20h.