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Round 6: série coreana teve investimento público para sucesso

Fenômeno Hallyu, a "onda coreana", surgiu graças a um ciclo de investimentos do país asiático na indústria do entretenimento há três décadas

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Bruno Vinicius

Publicado em 08/10/2021 às 17:38 | Atualizado em 11/10/2021 às 20:39
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Um grupo de pessoas desesperadas por dinheiro decide enfrentar jogos mortais. A premissa da série sul-coreana "Round 6", embora não seja essencialmente inovadora, tem um apelo suficiente para conquistar a audiência que migrou para o streaming: episódios ágeis, sem pudor à violência e uma temporada curta. Entretanto, o bom retorno que a produção da Coreia do Sul teve - atingindo o 1º lugar em todos os países que a Netflix está presente - não está, necessariamente, na sua qualidade narrativa. Fruto do fenômeno Hallyu, a "onda coreana", "Round 6" faz parte de um ciclo de investimentos do país asiático na indústria do entretenimento há três décadas.

O retorno que a série trouxe para a suas produtoras, Bucket Studio Co e Siren Pictures, é evidente. Ted Sarandos, CEO da Netflix, afirmou que o seriado pode se tornar o mais assistido da história da plataforma. Além disso, as ações das empresas responsáveis cresceram 50% e 70%, respectivamente. Mas se engana quem supõe que todo o suporte do audiovisual, em meio a todo esse retorno, veio totalmente de investimentos privados.

Retorno público

Todas as grandes áreas culturais da Coreia do Sul foram pensadas há anos pelo governo do país asiático. Não por acaso, o k-pop (korean pop), o audiovisual e a moda sul-coreana têm ultrapassado os produtos culturais de potências ocidentais históricas, como a França, Itália e Alemanha. Os investimentos da indústria sul-coreana começaram pelas telenovelas na década de 1990, em um caminho parecido com o que o Brasil fazia, quando suas produções chegavam a mais de 100 países simultaneamente em todos os continentes do planeta. O início ainda era tímido - ainda mais porque essas produções não chegavam às grandes potências - até pipocarem os investimentos na música, com apoio da indústria e do governo com fundos grandiosos para a difusão do "soft power" coreano.

Cultura salvou crise financeira

Em uma crise financeira semelhante à brasileira, a Coreia do Sul enxergou na cultura uma grande potência para recuperar a economia do país em 1997. À época, todo o continente asiático sofria com uma grave recessão econômica. A recuperação dos setores da potência foi agenciada pelo KOCIS, o Serviço de Cultura e Informação da Coreia, funcionando como uma "agência" do Ministério da Cultura, Esporte e Turismo do país. Ela foi criada na década de 1970, remontando à política norte-americana de expansão cultural.

De acordo com um trabalho de Luana Zubelli, que era superintendente de mercado da Ancine em 2014, o País decidiu investir no seu audiovisual depois do "Caso Jurassic Park", em 1994, em todas as salas de cinema do país foram ocupadas pelo filme norte-americano. Como medidas, o ministério responsável pela cultura passou a investir na capacidade de salas de exibição, o investimento de produções para o cinema e televisão, além do fomento em programas de capacitação na área.

Retorno

No cinema, houve retorno no número de produções do próprio país, na capacitação de profissionais e na exportação de produções. Em 2020, a Coreia do Sul atingiu seu ápice no audiovisual: o filme "Parasita" foi o primeiro longa-metragem em língua não-inglesa a ganhar a principal categoria do Oscar. Ele trouxe 175 milhões de dólares em bilheteria.

K-pop

O principal êxito do País é o K-pop. Em 2005, a Coreia do Sul criou um fundo de 1 bilhão de dólares para apoiar a indústria da música local. O reflexo pode ser sentido hoje. Em 2017, o país sul-coreano se tornou o 6º maior mercado de música do mundo por causa de um investimento feito 12 anos antes. No ano passado, o hit "Dynamite", do grupo BTS, chegou ao número da Billboard Hot 100, com um retorno financeiro de 1,7 trilhão de wons (R$ 7,5 bilhões) para o país, segundo o governo.

Entenda o que é "soft power"

Tudo isso é geopolítica. O cientista político Joseph Nye Jr classificou em sua obra, “Bound to Lead: the Changing Nature of American Power”, o "hard power" e o "soft power", duas armas usadas para difundir o poder de uma potência mundial. Sendo este segundo um poder brando, ou seja, demonstrar o seu poder através da força cultural do País. Os Estados Unidos conquistaram dessa forma com domínio do cinema, a música, a internet e os programas televisivos que se espalharam pelo mundo.

E o Brasil sai perdendo

Na contramão do país asiático, o Brasil sai perdendo com a falta de investimentos na cultura. Mesmo que a indústria cinematográfica no Brasil movimente cerca de 25 bilhões de reais por ano no país, sua principal agente fomentadora, Ancine, passa por um momento delicado nas mãos do secretário de cultura, Mário Frias.

O que chamou atenção recentemente foi o investimento que o governo brasileiro fez na "Casinha Games", em um valor R$ 4,6 milhões, quase o total de todos os projetos executados em 2020 no Fundo Nacional de Cultura. Foram R$ 4,7 milhões para todas as áreas e projetos.

O fato foi criticado pelo ator Sérgio Marone em postagem no Twitter. "E os 4 milhões na casinha do Renanzinho? Absurdo também? Explica?", perguntou Marone. A empresa a que ele se refere pertence a Renan Bolsonaro, o quarto filho presidente.

"Desenvolvi um programa para capacitação técnica e profissionalizante dos jovens de baixa renda, com o fim de criar condições para que os mesmos possam ingressar no mercado de trabalho. Será ensinado programação, design gráfico e outras atividades correlatas ao mercado digital", defendeu Frias sobre o programa.

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