CINEMA

Com Sonia Braga, filme "Fátima" reconta história da aparição de Nossa Senhora

Fátima - A História de um Milagre, sobre as aparições da Virgem Maria a três crianças em Portugal, no ano de 1917, estreia nesta quinta-feira

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Emannuel Bento

Publicado em 14/10/2021 às 14:27 | Atualizado em 14/10/2021 às 20:46
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"A fé começa nas bordas do entendimento." A frase dita pela já idosa Irmã Lúcia, vivida pela brasileira Sonia Braga ("Bacurau") em "Fátima — A História de um Milagre", pode ser considerada um dos possíveis caminhos para resumir a mensagem do longa-metragem, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (14), após uma semana em sessões de pré-estreia. Com direção de Marco Pontecorvo ("Amante a Domicílio", "Cartas para Julieta"), a coprodução entre Portugal, Itália e Estados Unidos reconta a conhecida história das três crianças — Lúcia, Francisco e Jacinta — que afirmaram ter recebido várias aparições da Virgem Maria num vilarejo em Fátima, Portugal. É um dos episódios mais marcantes para o catolicismo no século passado.

O ano era 1917. Portugal havia acabado de sair do duradouro período da monarquia para entrar numa república laica e liberal. O intenso desejo por mudança fez com que o novo regime enxergasse a religião como uma espécie de problema para justificar o atraso do país, colocando em prática algumas medidas que criaram conflitos com a Igreja Católica, como a proibição do ensino religioso. A crise ainda foi intensificada pela entrada do país na Primeira Guerra Mundial no ano anterior.

No filme, esse ambiente histórico é brevemente pincelado por diálogos e, sobretudo, nas cenas em que as pessoas se reúnem numa praça para ouvir os nomes de familiares mortos na guerra. E é nesse contexto de tempos difíceis para se ter fé que aquelas três crianças moradoras de um vilarejo paupérrimo afirmaram ter visto uma senhora "mais brilhante que o Sol", enquanto estavam num pequeno rebanho.

Lúcia, vivida pela jovem atriz espanhola Stephanie Gil (e, quando idosa, por Sonia Braga), via, ouvia e falava com a aparição. Jacinta (Alejandra Howard) via e ouvia, e Francisco (Jorge Lamelas) apenas via, mas não ouvia. O caso logo se espalha pela vizinhança e começa a atrair multidões que buscam milagres, o que incomoda o prefeito, inspirado pelo espírito republicano, os líderes da Igreja (um padre da cidade chega a sugerir que eles viram, na verdade, o diabo), moradores céticos e até a própria família da pequena Lúcia. Esses grupos vão dar corpo ao antagonismo do longa.

A descrença na aparição chega até a atualidade, quando a já idosa Lúcia — que, na vida real, faleceu em 2005 — conversa com o Professor Nichols, vivido por Harvey Keitel ("Cães de Aluguel"), um estudioso que tenta entender os detalhes da história para escrever um livro. Cético, ele constantemente contra-argumenta a religiosa. Pergunta, por exemplo, porque as aparições sempre se assemelhavam com a iconografia consolidada pela igreja. "Quem infinitamente se manifesta da forma que esperamos, para nos ajudar a entender melhor?", rebate Lúcia, numa menção a Deus.

DIAMOND FILMES/DIVULGAÇÃO
Aparições sobrenaturais atraem multidões no pequeno vilarejo - DIAMOND FILMES/DIVULGAÇÃO

A conversa entre Nichols e Lúcia vai costurando a história e acaba tornando o filme bem mais palpável para o público menos religioso. Com atuações críveis, roteiro agradável, direção de arte satisfatória e uma bela fotografia — Marco Pontecorvo, aliás, foi diretor de fotografia de episódios das séries "Game of Thrones" e "Roma" —, o filme tem a capacidade de conduzir jovens e velhos numa história sobre os mistérios da fé. Em um contexto tão árduo, o sobrenatural iluminou o local menos esperado — e historicamente religioso — para deixar uma mensagem de alerta, mas também de esperança.

A narrativa do longa acompanha a história até o Milagre do Sol, quando, em meio a uma multidão de dezenas de milhares de pessoas, o sol teria se movido num padrão ziguezague como forma de provar a presença da Virgem Maria. O fenômeno colossal tem efeito de encerramento grandioso para o longa-metragem, que chega ao público num momento em que o mundo precisa ter fé, independentemente de credo. Afinal, a fé também está para além das bordas do entendimento.

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