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Fernanda Montenegro é eleita imortal da Academia Brasileira de Letras

A Grande Dama do Teatro assume o assento que tem como patrono Hipólito da Costa, que até então era ocupado pelo escritor e diplomata Affonso Arinos de Mello Franco

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Emannuel Bento

Publicado em 04/11/2021 às 17:11 | Atualizado em 04/11/2021 às 18:24
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Fernanda Montenegro agora é oficialmente a nova ocupante da cadeira de número 17 da Academia Brasileira de Letras. Aos 92 anos de idade e 76 de profissão, a Grande Dama do Teatro foi eleita na tarde desta quarta-feira (4), por 32 votos, em cerimônia no Petit Trianon, palacete histórico do Rio de Janeiro. A votação foi, na verdade, uma formalidade, pois ela era a única candidata. A atriz assume o assento que tem como patrono Hipólito da Costa, que até então era ocupado pelo escritor e diplomata Affonso Arinos de Mello Franco, falecido em março do ano passado.

A entrada de Montenegro na ABL vem sendo aguardada há três meses, quando ela oficializou a candidatura. Ninguém quis disputar com a atriz, seja por respeito ou insegurança. A honraria é concedida a quarenta integrantes com grande relevância em suas áreas de atuação, não só do mundo das letras - basta lembrar que o jurista recifense José Paulo Cavalcanti também será candidato para ocupar a vaga deixada por Marco Maciel.

A ABL foi inaugurada em 20 de julho de 1897 com o objetivo é o "cultivo da língua e da literatura nacional". A eleição acaba marcando uma leve mudança na instituição, que historicamente elege personalidades muitas vezes restritas à intelectualidade. Fernanda, por sua vez, consegue mesclar um profundo respeito artístico e cultural com o apelo popular, consagrado com seus trabalhos na TV e no cinema. É o mesmo caso de Gilberto Gil, que é o favorito à cadeira de número 12, disputando com o poeta Salgado Maranhão.

Por ora, a história instituição agora imortalizou aquela que ocupa o imaginário do país com personagens sinceros, vigorosa e inesquecíveis, seja no teatro, no cinema ou na TV.

Início no teatro

Nascida em 1929, Arlette Pinheiro Esteves da Silva (nome de batismo da artista) começou a carreira no rádio, aos 16 anos. Ingressou no teatro em 1952, passando por grupos como Henriette Morineau, Os Artistas Unidos e Teatro Maria Della Costa – TMDC. Já no final dos anos 1950, ganha o prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais – APCT e funda o grupo Teatro dos Sete.

Durante a carreira, trabalhou em cerca de 83 espetáculos. Venceu festivais como protagonista das peças: "A Moratória" (1955), de Jorge Andrade, "Mary, Mary" (1963), de Jean Kerr, "Mirandolina" (1964), de Carlo Goldoni, "A Mulher de Todos Nós" (1966), de Henri Becque, "É…" (1977), de Millôr Fernandes, "As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant" (1982), de Rainer Werner Fassbinder, "Dona Doida" (1987), de Adélia Prado, e "The Flash and Crash Days" (1993), de Gerald Thomas, quando atuou ao lado da filha, Fernanda Torres.

Sucessos na televisão

Montenegro fez história ao ser a primeira atriz contratada pela extinta TV Tupi, em 1951. Na época do teatro filmado, ela participou de cerca de 80 peças, exibidas nos programas "Retrospectiva do Teatro Universal" e "Retrospectiva do Teatro Brasileiro". Estreou nas telenovelas em 1954, em "A muralha", exibida pela TV Record. Em 1967, também integrou o elenco da TV Excelsior na novela "Redenção".

Nos anos 1970, se manteve afastada da televisão por nove anos, aceitando poucos papeis. Montenegro estreou em novelas da Globo em 1981, a convite de Manoel Carlos, que preparava a nova novela das 20h, "Baila Comigo". A personagem Sílvia Toledo Fernandes foi escrita especialmente para ela.

O seu maior sucesso na televisão foi em 1983: a inesquecível Charlô, de Guerra dos Sexos (1983). Na cena mais famosa da trama de Silvio de Abreu, Charlô e Otávio (Paulo Autran) fazem uma guerra de comida durante o café da manhã. Outros destaques são Luiza, da novela "Esperança" (2002), e a megera Bia Falcão, de "Belíssima" (2006). Em 2015, interpretou Teresa em Babilônia, de Gilberto Braga, uma advogada homossexual. O beijo em Estela (Nathalia Timberg) gerou polêmica.

Nas minisséries, passou por O Auto da Compadecida (1999), que foi adaptado para o cinema, e Hoje é Dia de Maria (2005).

Aclamada também no cinema

No cinema, se destaca com "A Falecida" (1964), de Leon Hirszman, levando o prêmio de Melhor Atriz na I Semana do Cinema Brasileiro (futuro Festival de Brasília). Do mesmo diretor, fez também "Eles Não Usam Black-Tie" (1980), adaptação da peça de Gianfrancesco Guarnieri.

O seu maior sucesso na sétima arte foi "Central do Brasil" (1998), quando concorreu ao Oscar - o prêmio foi para Gwyneth Paltrow, o que muitos consideram uma injustiça. Outros trabalhos importantes em longas-metragens foram Redentor (2004), em que foi dirigida por seu filho, Cláudio Torres, além da produção internacional "O Amor Nos Tempos do Cólera" (2007), de Mike Newell.

Em 1999, Fernanda Montenegro foi condecorada com a maior comenda que um brasileiro pode receber da Presidência da República: a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito "pelo reconhecimento ao destacado trabalho nas artes cênicas brasileiras".

A matéria está em atualização

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