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Análise: Thierry Mugler entendeu a moda enquanto espetáculo

Estilista francês faleceu no último domingo (23) deixando legado que transitou entre os mais diversos âmbitos da moda, chegando no cinema e até no teatro

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Emannuel Bento

Publicado em 24/01/2022 às 18:38 | Atualizado em 24/01/2022 às 19:37
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A moda enquanto espetáculo. Essa foi uma das máximas que o estilista francês Thierry Mugler, que faleceu na noite do último domingo (23), aos 73 anos, ajudou a consolidar a indústria da alta costura. Para além das passarelas, seus trabalhos chegaram às telas dos cinemas, ao Cirque du Soleil, chegando até aos extravagantes tapetes vermelhos da atualidade.

Em vida, ele transitou entre os mais diversos âmbitos da moda, sendo costureiro, perfumista e criador de imagens. "Empoderou pessoas ao redor do mundo a serem mais ousadas e sonharem mais alto a cada dia", registrou a nota de falecimento divulgada em suas redes sociais.

Espírito dos anos 1980

Thierry Mugler nasceu em Estrasburgo, na França. Chegou a ser dançarino e fotógrafo até começar a trabalhar como vitrinista de uma loja de roupas, quando começou a desenhar suas primeiras peças. O estilista fundou a marca que levou o seu nome em 1974, ganhando destaque no circuito da moda internacional nos anos 1980.

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FASHION Exposição Couturissime, de Thierry Mugler, no Montreal Museum of Fine Arts - MARTIN OUELLET-DIOTTE/AFP
PIERRE VERDY/AFP
FASHION Thierry Mugler abraça modelos após desfile de coleção primavera-verão de 2000, em Paris - PIERRE VERDY/AFP

Para isso, ele entendeu o fascínio que pode existir em torno do que é extravagante: idealizou roupas provocantes e designs estruturais, com ombros largos que marcaram tanto os anos 1980. Existia uma certa aura futurista, de ficção científica, como uma reinvenção do glamour dos anos 1940 - década marcada pela sobriedade da guerra.

Além disso, realizou desfiles performáticos, como espetáculos, o que se tornou uma de suas marcas registradas. Esses eventos contaram com as presenças de supermodelos como Kate Moss, Naomi Campbell e Cindy Crawford.

Fama além dos desfiles

Nos anos 1990, a fama de Thierry Mugler extrapolou a bolha dos apreciadores da alta costura quando ele desenhou o icônico vestido usado por Demi Moore no clássico "Proposta Indecente", lançado em 1993. Dando sentido ao próprio título do filme, a peça deixava o busto da atriz à mostra, com um tecido preto que ia se desenhando em tiras abaixo do seu pescoço. Também vestiu astros como David Bowie e George Michael.

PARAMOUT PICTURES/REPRODUÇÃO
FASHION Demi Moore usando vestido de Thierry Mugler em "Proposta Indecente" - PARAMOUT PICTURES/REPRODUÇÃO

Foi nessa década que ele lançou um produto que lhe foi extremamente lucrativo: a fragrância "Angel", que divulgou a sua marca para todo o mundo - em 2005, lançou também a fragrância "Alien". Apesar disso, ele saiu do cenário da indústria da moda nos anos 2000, dedicando-se a outros projetos criativos. Nessa época, passou a morar em Nova York e realizou cirurgias que provocaram uma grande mudança na sua aparência.

Revival nos 'red carpets' e nos palcos

Mugler aproveitou a nova fase para publicar livros de fotografia, dirigir filmes publicitários e produzir figurinos para o Cirque du Soleil, mas nunca se afastou da moda e dos holofotes ao idealizar peças para grandes celebridades. Foi através das estrelas que as suas coleções dos anos 1990 tiveram um renascimento nos últimos anos, pois sua extravagância acabou combinando novamente com a busca por atenção nos tapetes vermelhos.

Um bom exemplo disso é Kim Kardashian, influencer e empresária que foi ao Met Gala de 2019, baile de angariação de fundos para o benefício do Metropolitan Museum of Art, usando o comentado "vestido molhado". Uma roupa em tom nude repleta de cristais semelhantes a pingos d’água.

"Desenhar este vestido para mim foi uma grande honra. Ele durou cerca de oito meses de fabricação. O look me fez imaginar esta garota da Califórnia saindo do oceano, molhada, pingando", disse Mugler na época. 

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FASHION Modelos com criações de Thierry Mugler em Paris, 2005, para coleção primavera-verão de 2006 - FRANCOIS GUILLOT/AFP
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FASHION Estilista Thierry Mugler na exposição Couturissime, no Montreal Museum of Fine Arts - MARTIN OUELLET-DIOTTE/AFP

Outro exemplo é Lady Gaga, que, assim como estilista, soube usar da extravagância a seu favor. Logo quando a cantora surgiu, em 2008, a estética de Mugler casava exatamente com a proposta do seu álbum: "The Fame", que mesclava o eletrônico atual com referência dos anos 1970 e 1980. Era comum ver Gaga com ombros largos nessa época.

Também vestiu Madonna, Miley Cyrus, Cardi B, mas a cantora que mais abraçou o estilista foi Beyoncé. Ela o convidou para fazer todo o figurino da turnê "I Am… Tour", do álbum Sasha Fierce. O estilista declarou ter criados looks pensando "na mulher e na guerreira" Beyoncé.

A tendência caiu também no gosto das brasileiras. Anitta usou um vestido da grife na apresentação final da Libertadores, em 2021. IZA também usou um body preto, repleto de recortes, durante apresentação no Fantástico.

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