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"Dicionário dos Negacionismos no Brasil" chega para esclarecer à luz da ciência

Livro trata mais de 100 termos e assuntos levantados pela onda negacionista que dissemina informações falsas e confunde as pessoas

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Romero Rafael

Publicado em 18/04/2022 às 22:13 | Atualizado em 18/04/2022 às 22:27
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Com 112 verbetes assinados por uma centena de pesquisadores das mais diversas áreas da ciência, o livro "Dicionário dos Negacionismos do Brasil" (Cepe) discorre sobre atitudes de negação coletivas em áreas como ciência, história, educação, cultura e meio ambiente — e suas consequências devastadoras.

A obra organizada pelos pesquisadores José Luiz Ratton e José Szwako será lançada nesta terça-feira (19), às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe) — nas Graças, com a presença dos organizadores — e custa R$ 60 (impressa) e R$ 24 (e-book).

Já na quarta-feira (20), também às 19h, haverá uma conversa sobre o trabalho no canal da Cepe Editora no YouTube, com a presença dos organizadores mais o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares e também a pesquisadora da USP Heloísa Buarque de Almeida.

Negacionismo não é o mesmo que negação

Sobre do que especificamente trata a obra, José Luiz Ratton, professor de sociologia da UFPE e um dos organizadores, esclarece que há diferença entre o que é negação e o que é negacionismo. "O processo de negação é algo ao qual todos estamos sujeitos individualmente. Já o negacionismo é coletivo e costuma se espalhar em tempos de guerra ou de crise, incentivado por indivíduos com alguma influência sobre a coletividade", explica.

É o caso do presidente Jair Bolsonaro e de seu ex-guru Olavo de Carvalho, falecido em janeiro. É o caso também do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e do seu estrategista, Steve Bannon. Segundo Ratton, é através desses gurus do negacionismo que a democracia é posta em xeque, a partir de informações falsas que buscam somente atender aos interesses das indústrias.

O objetivo dos negacionistas, segundo os autores do livro, é gerar medo, insegurança e dúvida cognitiva na comunidade. "A ampla variedade de negacionismos contemporâneos (científicos, políticos, raciais, de gênero e históricos, por exemplo) é fruto das estratégias de grupos hegemônicos ressentidos com a perda relativa de status e a expansão de direitos de coletividades historicamente oprimidas", escrevem Ratton e Szwako — que é doutor em ciências sociais pela Unicamp — na introdução do dicionário.

Não é incomum encontrar, hoje, páginas na internet e perfis e grupos em redes sociais compostos por propagadores e seguidores que negam a ditadura civil-militar e a tortura no Brasil; o impacto climático e ambiental do aquecimento global; a pandemia de covid-19 e a eficácia da vacina. Que negam que haja racismo e sexismo; ou que defendam a ideia do terraplanismo. "Negar fatos difundidos pela ciência retira sua credibilidade e incorre em uma tentativa de revisionismo da história e de apagamento da memória histórica. A tecnologia empregada em redes sociais como Twitter, YouTube e Facebook proporciona um enorme alcance de público das fake news, também chamadas de pós-verdades", explana Ratton.

Verbetes dicionarizados

Entre os termos dicionarizados por esta obra estão Agronegócio e Agrotóxicos; Aids; Amazônia; Anvisa; Bolsonarismo; China; Ditadura; Escola Sem Partido; Fake News; Fascismo; Fiocruz; Genocídio; Meritocracia; Necropolítica; Neoliberalismo; Paulo Freire; Pós-verdade; Queer; Questão indígena; Racismo Estrutural; Racismo Reverso; Sleeping Giants; SUS; Terraplanismo; Tortura; Tratamento Precoce.

Para Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia pela Universidade de Oxford e autor da apresentação do livro, os pesquisadores que assinam os textos "produziram um documento que atesta a teimosia da democracia, da busca pelos fatos e da paciência do diálogo". "Se o debate público brasileiro tivesse se pautado por estes princípios nos últimos anos, nossas instituições seriam mais sólidas, nossas vidas seriam melhores, e centenas de milhares de brasileiros que se foram durante a pandemia ainda estariam na conversa", escreve Celso.

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