SAÚDE

Cartunista Angeli encerra carreira por quadro de afasia

A doença que acomete Angeli é a mesma do ator de Hollywood Bruce Willis, que em março passado anunciou também pausa em seu trabalho por justamente a afasia afetar as habilidades cognitivas

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Amanda Azevedo

Publicado em 20/04/2022 às 17:03 | Atualizado em 20/04/2022 às 17:11
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Um ícone do cartum e dos quadrinhos no País, Angeli, com 65 anos de idade, está encerrando sua carreira. O cartunista recebeu diagnóstico de afasia, doença neurodegenerativa que com sua evolução impacta na comunicação, verbal e escrita. A notícia foi publicada nesta quarta-feira (20) pelo jornal Folha de S.Paulo, do qual Angeli se aposenta, e confirmada pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O perfil oficial de Angeli nas redes sociais, o Galeria Angeli, divulgou um comunicado relatando motivos de saúde para divulgar sua aposentadoria. "Seguiremos celebrando a obra de Angeli em novas publicações e exposições", diz o comunicado.

Os 50 anos da obra de Angeli deverão ser celebrados em uma publicação da editora Companhia das Letras, prevista ainda para este ano, comandada por sua mulher, Carolina Guaycuru, e André Coti.

A ideia é agregar cerca de mil trabalhos, com as tirinhas publicadas em jornais e revistas, além das charges e ilustrações, em dois volumes.

Os personagens

O cartunista marcou uma geração com a turma do Chiclete com Banana. O verde Bob Cuspe era o verdadeiro anarquista, punk de periferia, que lascava uma boa cuspida em quem o irritava. Era fã das bandas Ramones, The Clash e Sex Pistols e virou animação em Bob Cuspe - Nós não gostamos de gente.

Os Skrotinhos eram os baixinhos mais sem trava na língua da turma e não perdoavam ninguém em suas piadas, fazendo parte do politicamente incorreto.

E a dupla Wood & Stock não era menos divertida ao fazer alusão aos hippies dos anos 60, perdidos no tempo.

Ainda tinha o machão Bibelô e a dupla política Meia Oito que tirava uma onda dos esquerdistas dessa geração.

De todos os personagens, ícone mesmo era a Rebordosa, com sua banheira memorável, copo de bebida na mão e um cigarro na boca. A heroína de Angeli, sempre de ressaca e envolvida em algum amor passageiro, foi criada em 1984 e se tornou uma das personagens mais populares e queridas dos quadrinhos no País. Tanto é que quando Angeli resolveu "matá-la" causou comoção entre os fãs.

"Angeli é fundamental, um sujeito que fez uma caminhada e uma trajetória únicas. Ele trouxe para a charge e para o cartum elementos dos quadrinhos, onde trabalhava personagens e cenas da vida cotidiana - urbana, principalmente", diz Laerte. "Ele fundou uma linguagem pessoal", completa.

Adolescente prodígio, o cartunista publicou seu primeiro desenho aos 14 anos na extinta revista Senhor. Em 1973, começaram as tirinhas da turma Chiclete com Bananal na Folha de S Paulo.

Afasia

A doença que acomete Angeli é a mesma do ator de Hollywood Bruce Willis, 67, que em março passado anunciou também pausa em seu trabalho por justamente a afasia afetar as habilidades cognitivas.

No caso de Angeli, ainda não se sabe o que desencadeou a doença, que pode ter como causa mais frequente os AVCs, seja hemorrágico ou isquêmico.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, a afasia também pode ocorrer depois de um traumatismo cranioencefálico (TCE), um tumor cerebral, um aneurisma, infecções cerebrais ou alguns tipos de demência.

O tratamento abre a possibilidade de diminuição dos sintomas.

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