LGBTQIA+

Há 20 anos, as portas da Metrópole estão escancaradas: boate comemora duas décadas com festa e show de Gretchen

Boate atravessou duas décadas passando pelas transformações e com a pista funcionando

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Romero Rafael

Publicado em 29/04/2022 às 9:25 | Atualizado em 29/04/2022 às 14:26
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Só quem viveu sabe: a Metrópole pode ser um mundo, ou a janela para um mundo. Ou a porta de um armário finalmente arrebentada — e que dá passagem para a pessoa encontrar fora algo que até ali só existia dentro dela. Uma boate que é um mundo (ainda que esteja baseada num só endereço há 20 anos), pois seu espaço e seu entorno foram 'territorializados' como sendo esse (outro) mundo. Todo mundo — ou muita gente —, mesmo que não tenha nunca cruzado a porta do grande armário escancarado, sabe onde fica.

Por anos, muitos, antes de toda a virtualização digital, de tudo o que a gente entende hoje por orientações sexuais e identidades de gênero, antes do que se alcançou por representatividade, a Metrópole e seu mundo, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife, mais do que um lugar para se divertir na noite, funcionou também como um espaço onde obter referenciais, e para que gente da cidade e de fora se reconhecesse em outras pessoas.

A gente esquece, tragado pelas novidades, e as gerações mais novas não dão conta, desinteressadas pelo passado, mas nem sempre houve internet, redes sociais, aplicativos de relacionamento, festas livres da heteronormatividade, personagens LGBT inseridos em todas as mídias... É recente toda a compreensão sobre as identidades diversas e plurais que cabem debaixo do grande guarda-vidas que é a sigla LGBTQIA+. Houve uma época em que havia basicamente as pistas, e a Metrópole era um espaço-presença nesse tempo.

 

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"Eu já tinha vivido muito a Misty, a Doctor Freud [boates que funcionaram no mesmo espaço], e a Metrópole, para mim, era a ocupação desse território LGBT. A gente chegou e está até hoje", conta Maria do Céu, relembrando o que a motivava quando inaugurou a casa há 20 anos e demarcando aquele território hoje ocupado por vários outros negócios dedicados à cultura LGBTQIA+.

"Foi uma noite muito bonita, marcante. Eu só lembro que eu dancei muito e, quando vi, o dia já estava claro", recorda, numa experiência replicada por tantos frequentadores — do escuro da pista libertadora ao clarão do dia dos compromissos sociais.

Para comemorar essa longevidade numa cidade fadada à sazonalidade das casas noturnas, a Metrópole fará festa, nesta sexta-feira (29), com open bar e show de Gretchen, a artista que mais se apresentou na casa ao longo destes anos. Antes de retomar a carreira, por volta de 2016, quando estava decidida a ser apenas Maria Odete, me falou que o clube era um dos lugares para onde a Rainha do Rebolado abria exceção. Ela, esses dias, me explicou o porquê: "A Metrópole é e sempre será a representação da liberdade de ser quem realmente somos".

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