TEATRO

Musical com DNA nordestino, "As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão" faz sessões no Santa Isabel

Espetáculo tem texto e fala do dramaturgo pernambucano Newton Moreno, premiado pelo trabalho

Imagem do autor
Cadastrado por

Romero Rafael

Publicado em 05/05/2022 às 19:29
Notícia
X

Vencedor do prêmio de melhor dramaturgia pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) em 2019, o espetáculo musical "As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão" faz sessões no Recife, em minitemporada no Teatro de Santa Isabel, desta sexta-feira (6) até domingo (8). O texto e as letras são do dramaturgo pernambucano Newton Moreno, com direção geral de Sergio Módena e musical de Fernanda Maia.

Sucesso de público desde que estreou, em 2019, no Teatro do Sesi, em São Paulo, o trabalho também passeou muito bem pela crítica — além do prêmio para a dramaturgia, foram 10 indicações ao Prêmio Bibi Ferreira 2019, com vitória do ator Pedro Arrais, e outras 20 indicações a premiações especializadas.

ADRIANO DORI/DIVULGAÇÃO
As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão - ADRIANO DORI/DIVULGAÇÃO

Fábula sobre a força das mulheres

"As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão" não faz uma reprodução histórica e factual, mas sim uma fábula inspirada nas mulheres que seguiam os bandos nordestinos atuantes contra a desigualdade social. A trama acompanha um grupo de mulheres que se rebelam contra mecanismos de opressão encontrados dentro do próprio cangaço, e encontram, umas nas outras, a força para seguir.

Além de reflexões sobre o conceito de justiça social que o cangaço representava, o espetáculo reflete também sobre as forças do feminino nesse espaço de libertação e sobre a ideia de cidadania e heroísmo.

No elenco estão a atriz pernambucana Luciana Lyra mais Vera Zimmermann, Marco França, Pedro Arrais, Luciana Ramanzini, Rebeca Jamir, Jessé Scarpellini, Marcello Boffat, Milton Filho, Lola Fanucchi, Nábia Villela, Carol Bezerra e Eduardo Leão.

DNA nordestino

As canções são originais, criadas por Fernanda Maia (música) e Newton Moreno (letras) para a produção. "Usei várias referências da música nordestina e tive uma abordagem afetiva desse material, por ser filha de paraibano e por ter morado no Nordeste enquanto fazia faculdade de música", conta Fernanda.

"Nessa época, pude entrar mais em contato com a cultura do Nordeste, que é de uma riqueza ímpar, cheia de personalidade, identidade, poesia e, ao mesmo tempo, muito paradoxal. Esse trabalho foi a união das vozes de todos. Não há como receber um texto de Newton Moreno nas mãos e não se encantar com o universo que existe ali", completa.

Junto com os atores, que cantam em cena, o espetáculo traz cinco músicos, no baixo, violão, na guitarra, violoncelo e acordeão.

Texto e música se misturam, palavra e canto se complementam, como se tudo fosse uma única linha dramatúrgica. "Optamos por uma narrativa que realmente seja uma continuação da cena, e não um momento musical que pare para celebrar, ou para criar umas aspas dentro da história. Isso só é possível com canções compostas para o espetáculo. Buscamos um DNA totalmente brasileiro para a peça, tanto na embocadura, na fala, na construção do texto, como na interpretação dos atores. Não tem um modelo importado, não tem uma mise-en-scène importada, é uma investigação a partir de códigos que pertencem a uma estética do nosso País e do teatro brasileiro", fala o diretor Sergio Módena.

Dramaturgia

O protagonismo feminino e a cultura e a história do Nordeste sempre foram muito presentes no teatro feito por Newton Moreno. "Eu achei que falar sobre as cangaceiras unia essas duas fontes. Uma escuta sensível a várias vozes femininas, quebrando o silêncio e falando sobre tantas violências. Isso me fez pensar sobre os espaços onde não imaginamos que existam lutas silenciosas ou que não são mostradas", diz o dramaturgo pernambucano.

"Simultaneamente, acessamos documentários, materiais de internet, notícias de jornal e o livro 'Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço', da Adriana Negreiros, que discute a trajetória de Maria Bonita, falando que, apesar de o cangaço ser um espaço de liberdade para algumas mulheres, era também um lugar violento. O cangaço reproduzia alguns mecanismos de violência do Sertão — abusos, estupros, desmandos. Enfim, ficou relativizado esse lugar de liberdade", complementa.

"O cangaço acabou virando um trampolim, uma janela, para falarmos sobre a situação de hoje. Por isso, fizemos a opção de não contar a biografia de nenhuma dessas mulheres. Não há registro histórico de um bando dessa natureza. Mas, e se houvesse?"

Sinopse

O enredo começa quando Serena (Rebeca Jamir) descobre que seu filho, que ela acreditava ter sido morto a mando do marido, Taturano (Marco França), está vivo. Ela, então, larga seu grupo do cangaço, chefiado por Taturano, para partir em busca de seu bebê.

Neste momento, Serena não tem a dimensão de que sua luta para encontrar o filho se tornará uma luta coletiva, maior que seu problema pessoal. Outras mulheres que formavam o bando se engajam nessa batalha, além de futuras companheiras que cruzam seu caminho.

Horário e onde comprar

O musical "As Cangaceiras, Guerreiras do Sertão" fará sessões nesta sexta (6) e sábado (7), às 21h, além de domingo (8), às 19h, no Teatro de Santa Isabel (Praça da República, bairro de Santo Antônio, Centro do Recife).

Os ingressos custam R$ 100 e R$ 50 (meia), para plateia; R$ 80 e R$ 40 (meia), para frisas e camarotes, à venda no site Sympla, nas lojas Ticketfolia e na bilheteria do teatro

Tags

Autor