MÚSICA

'Queremos que o fascismo retorne ao fundo do esgoto da história', diz Lenine, que faz turnê com o filho Bruno Giorgi

Espetáculo "Rizoma", que estreou no Rio de Janeiro, chega ao Recife trazendo as ambiências sonoras de cada registro musical feito pelo músico: 'Busquei compreender um pouco de toda a minha obra'

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Emannuel Bento

Publicado em 13/05/2022 às 17:06 | Atualizado em 16/05/2022 às 9:19
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No momento mais insólito da pandemia, Lenine encontrou no filho, Bruno Giorgi, a parceria que resultou na turnê "Rizoma", que estreou no Rio de Janeiro em janeiro e chega ao Recife neste sábado (14), no Teatro Guararapes. A demanda foi tanta que instigou uma dupla sessão, às 18h e às 21h, ambas esgotadas.

"Não uso o termo 'retomada', porque é como se estivéssemos voltando ao que era antes. Estamos, na verdade, num novo começo. É um recomeço", diz Lenine, ao JC, sobre o retorno aos palcos em turnê.

"É um recomeço para todo mundo: para quem está fazendo música e para a audiência. Talvez por isso mesmo eu tenha feito alguns shows em que senti muito presente essa celebração passional, emocional, de cada um que estava ali, celebrando ao vivo. Tem um significado muito maior".

Processo de idealização e repertório

"Rizoma" começa quando Lenine e Bruno Giorgi, que além de músico é um elogiado engenheiro de som, começaram a esboçar um álbum. "Eu sou da época em que faziam álbuns", ressalta o cantor. "Começamos a exercitar isso, mas aí veio a pandemia e o pandemônio".

A sugestão para trabalhar durante a reclusão veio de Bruno. "Uma das primeiras conversas que tivemos foi montar um espetáculo. Eu e ele temos essa intimidade, não só de pai e filho, mas de alguém que vem produzindo meus trabalhos há algum tempo. E não só para estarmos no palco, mas para trazer a ambiência sonora de cada uma das músicas, das gravações originais que escolhemos para compor o repertório desse show".

JAIRO GOLDFLUS/DIVULGAÇÃO
MÚSICA Bruno Giorgi e Lenine apresentam show "Rizoma" - JAIRO GOLDFLUS/DIVULGAÇÃO

O resultado é um show que o público poderá ouvir fielmente as ambiências sonoras de cada registro musical feito por Lenine, com fidelidade aos arranjos idealizados por cada produtor musical com quem ele trabalhou.

Algumas músicas do repertório são "Castanho" (Lenine e Carlos Posada), "Martelo Bigorna" (Lenine), "Leve e Suave" (Lenine), "O Dia em que Faremos Contato" (Lenine e Braulio Tavares). Lenine assume o microfone e o violão, enquanto Bruno se reveza entre baixo, bandolim, teclados, voz e sampler.

O título do projeto veio de estudos do recifense na botânica e na filosofia. “No mundo das plantas, é uma palavra sobre o crescimento radicular das raízes, algo que não dá para prever. Na filosofia, é uma ideia de que no meio do caos surge a ordem. Tinha tudo a ver com o que eu e Bruno estávamos fazendo. No 'Rizoma' busco compreender um pouco de toda a minha obra, de todos os discos, de alguma maneira”.

Lenine comenta sobre política

Lenine realmente considera que 'Rizoma' nasceu no caos, não à toa separa o momento que vivemos de "pandemia" e "pandemônio'. O segundo termo diz respeito ao clima político do país. "Estamos na idade medieval. Eu não tenho nem adjetivo para dizer sobre o presidente."

"Acho que a gente, enquanto nação e civilização, damos muitos passos para trás. Ele conseguiu fazer o que parecia impossível: abrir o armário de cada ser humano que se sentia frustrado de alguma maneira, fazendo que tudo de ruim estivesse exposto. Ninguém sente mais vergonha de expor. Tem uma cultura histórica profunda nisso daí".

JAIRO GOLDFLUS/DIVULGAÇÃO
SHOW Lenine e Bruno Giorgi apresentam show "Rizoma" no Recife - JAIRO GOLDFLUS/DIVULGAÇÃO

Falando em política, o recifense é uma das vozes do jingle da campanha da chapa Lula-Alckmin. Sobre isso, decreta: "Estamos querendo fazer com que o fascismo retorne ao fundo do esgoto da históri".

Lenine ainda ressalta que já fez campanha para deputados como Chico Alencar (PSOL) e Marcelo Freixo (hoje no PSB), ambos do espectro da esquerda.

"Eu costumo sempre me posicionar. Esse é o exercício da cidadania. Apoiei uma geração de pessoas, não só como artista, mas como cidadão. Isso não muda nada para mim. Até porque faço um tipo de canção que tem um cunho de reportagem, de crônica, então não existe essa possibilidade de não ser político em tudo o que faço. Mas, nas músicas, escolho ser aparditário".

Próximos projetos

Os planos de Lenine e Bruno Giorgi para um álbum, como antes da pandemia, ainda não morreram. “Não temos previsão. O título já mudou, pois muita coisa mudou. A sensação de tempo também mudou. Estou fazendo tudo no tempo da intimidade, da leveza e da delicadeza”.

Apesar do novo projeto ainda não ser tão desenhado, a certeza é de que estará “imbuído pelo sentimento do Rizoma”. “As pessoas não têm mais 3 minutos para se dedicar a uma novidade. Você tem poucos segundos para reter a atenção desse público saltitante, palpitante, que quer ser arrebatado. Isso fez com que todos apostassem em singles, mas pouco mudou para mim. Nesse sentido, me sinto um pouco anacrônico”, finaliza.

SERVIÇO
Lenine e Bruno Giorgi apresentam Rizoma
Quando: Dia 14 de maio (sábado), às 18h e 21h
Onde: Teatro RioMar (RioMar Shopping – Av. República do Líbano, 251, Piso L4, Pina)

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