PAIXÃO DE CRISTO DO RECIFE

Paixão de Cristo do Recife retorna com Jesus negro e crítica aos 'mercadores da fé'; confira datas

Pela primeira vez, o espetáculo Paixão de Cristo do Recife será realizado em um teatro, com Jesus negro e referências contemporâneas

Emannuel Bento
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Emannuel Bento
Publicado em 13/10/2022 às 11:08 | Atualizado em 13/10/2022 às 11:21
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TEATRO "Paixão de Cristo do Recife" retorna em teatro após dois anos de pandemia - FOTO: TFN/DIVULGAÇÃO
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A "Paixão de Cristo do Recife", que ganhou o subtítulo "Jesus, A Luz do Mundo", voltará a ter edição presencial do domingo (16) à terça-feira (18). Pela primeira vez o espetáculo ocorre num teatro: o Luiz Mendonça, localizado no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem. A entrada será 1 kg de alimento não perecível.

A nova versão do diretor Carlos Carvalho trará uma proposta que desmistifica o Cristo "eurocentrado" e traz adaptações que mesclam referências históricas e contemporâneas. Neste ano, a Paixão ganhou uma edição em filme, por isso a edição presencial está sendo realizada antecipadamente. A expectativa é que o projeto volte ao Marco Zero em 2023.

Para a estreia, no domingo, serão disponibilizados 400 ingressos. As sessões dos dias 17 e 18 terão na plateia estudantes de escolas públicas do Governo do Estado, sendo ofertados cem bilhetes, por apresentação, para o público em geral. Os tíquetes para as sessões devem ser resgatados na bilheteria do Teatro Luiz Mendonça, às 17h do dia 16 de outubro.

Paixão de Cristo do Recife repaginada

A realização inédita dentro de um espaço fechado trará novidades ligadas ao formato, a exemplo das vozes, que não serão dubladas: o texto será declamado ao vivo, sem gravações. Também existem variações na estética e no elenco para dar suporte a esta configuração.

"Estar em um teatro favorece bastante essa conexão com o público, pois tudo é vivo, plateia e artistas estão em plena sinergia. O olhar é vívido. Essa interação se faz essencial para a nova montagem, que traz uma experiência mais intimista e envolvente com a história de Cristo", afirma o diretor, Carlos Carvalho.

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TEATRO "Paixão de Cristo do Recife" retorna em teatro após dois anos de pandemi - TFN/DIVULGAÇÃO
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TEATRO "Paixão de Cristo do Recife" retorna em teatro após dois anos de pandemi - TFN/DIVULGAÇÃO

O texto também foi modificado para dar mais destaque a aspectos da atualidade, a exemplo do drama dos refugiados ao redor do mundo, práticas vigentes das igrejas neopentecostais, aos "mercadores da fé" e a mistura da fé com o poder público.

"No Sermão da Montanha, por exemplo, Jesus se autoproclama refugiado, pois teve que ser levado ao Egito, ao nascer, visto que Herodes pretendia matar todas as crianças com até cinco anos de idade nascidas em Jerusalém. O personagem afirma ser tratado como estrangeiro em sua terra natal", diz o diretor.

Quanto à reação do público a todas as novidades implementadas, Carlos acredita que encontrará uma plateia dividida. "Provavelmente, o público mais religioso possa estranhar, visto que vai de encontro à imagem criada pela religião católica há 2 mil anos", diz.

"De forma geral, entretanto, acredito que haverá um bom impacto. Até porque não estamos inventando nada. Ariano Suassuna já representou um Deus negro em O Auto da Compadecida. Contar esta história desta forma, no teatro, é levar para as pessoas uma atividade presencial que proporciona a troca de energia instantânea, imediata e ainda mais próxima e instigante."

Jesus negro diz que "o vermelho do coração" é cor única

O elenco de 30 personagens também vem renovado. No papel do protagonista, o ator negro, recifense, com origens interioranas, Asaías Rodrigues (Zaza). Ele é estreante na Paixão de Cristo do Recife, mas traz vivências com outras versões do espetáculo. "Em 2009, fui convidado pela ilha de Fernando de Noronha para dirigir a Paixão de Cristo de lá. Uma grande experiência, visto que minha ligação com essa energia 'crística' é imensa", diz o ator.

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TEATRO "Paixão de Cristo do Recife" retorna em teatro após dois anos de pandemi - TFN/DIVULGAÇÃO
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TEATRO "Paixão de Cristo do Recife" retorna em teatro após dois anos de pandemi - TFN/DIVULGAÇÃO

"A missão de um ator, na história do teatro, é parecida com a de Cristo: um sacrifício explícito, porque o público quer ver em nós o que já aconteceu na vida Dele, o que acontece, ou como poderia ser se viesse a acontecer. O ator é uma espécie de rato de laboratório, de cobaia", analisa.

Em Fernando de Noronha, Zaza também fez o papel de Judas. "O de Jesus interpretei depois, em um Auto de Natal promovido pela igreja das Fronteiras, que propunha uma releitura moderna sobre o seu nascimento. Agora, Ele volta a minha vida, dessa vez na famosa Paixão de Cristo do Recife. Então imagine como estou me sentindo interpretando o papel do maior revolucionário da história? Em êxtase! Além disso, estou muito orgulhoso de ocupar o lugar de um mestre como José Pimentel", afirma Zaza.

Sobre ser o primeiro protagonista negro, Zaza afirma que é neste contexto que entra a sua parte "rebelde", como denomina. "Eu sou um ser vivo e não me defino por cor, sexo, classe social ou religião. 'Eu sou o sal da terra, eu sou a luz do mundo' como o mestre quis que assim o fôssemos. Trazê-lo assim, em pleno 2022, num momento histórico, político, social, econômico e cultural, isso sim que é falar de cor, uma cor única, o vermelho do coração que pulsa igual no peito de qualquer que seja o ser humano que temos diante de nós", destaca o ator.

Assim como Isaías, negra também será a atriz que dará vida a Maria, a pernambucana Gheuza, que interpretou Madalena no filme de 2021. Estas duas personagens, inclusive, representam uma troca de papéis entre as intérpretes, já que Angélica Zenit será a Madalena, no teatro, enquanto deu vida à mãe de Jesus, na película.

Outros destaques no elenco são Douglas Duan como Caifás, e Marcos Brandão, interpretando Herodes em sua estreia na Paixão.

Figurino, ficha técnica e edição de 2023

A estética do espetáculo também vem com novidades ao trazer para a cena um diálogo entre figurinos típicos da época e contemporâneos. "Os sacerdotes, por exemplo, estarão vestidos com paletó e carregando bíblias. Os figurantes, por sua vez, emprestarão suas roupas próprias e cotidianas para que possamos customizá-las, sempre no contexto da atualidade. Herodes também virá mais despojado, à vontade", adianta o diretor.

"Trata-se de um grande ensaio para experimentar este retorno ao local de origem no qual não pudemos estar, neste ano, por dificuldades de captação de recursos", explica Carlos, informando que a montagem atual, feita com R$ 220 mil, teve todo o financiamento a cargo do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) da Prefeitura do Recife.

A "Paixão de Cristo do Recife - Jesus, A Luz do Mundo" é realizada pela Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), com incentivo da Prefeitura do Recife, por meio do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), da Secretaria de Cultura do Recife e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Paixão de Cristo do Recife: Jesus, a Luz do Mundo tem direção e roteiro de Carlos Carvalho.

SERVIÇO
24ª Paixão de Cristo do Recife: Jesus, A Luz do Mundo
Onde: eatro Luiz Mendonça: Parque Dona Lindu, Boa Viagem - Recife/PE
Dias 16, 17 e 18 de outubro (domingo: 18h | segunda e terça: 20h)
Classificação livre
Ingressos: 1 kg de alimento não perecível a ser trocado na bilheteria do teatro às 17h do dia 16 de outubro

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