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As feições do patrimônio histórico olindense estão registradas no livro "Memória Gráfica da Arquitetura de Olinda"

Formas e expressões gráficas nos azulejos, cobogós, gradis e ladrilhos do Sítio Histórico de Olinda foram objetos de pesquisa da designer Renata Paes

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JC

Publicado em 26/10/2022 às 19:47
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O conjunto arquitetônico que é o Sítio Histórico de Olinda, berço e núcleo da cidade de 487 anos construída entre colinas e tornada patrimônio da humanidade, está impresso no livro "Memória Gráfica da Arquitetura de Olinda", que a designer Renata Paes lança hoje, às 19h, no Casbah. A publicação sai pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

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Ao folhear, o leitor faz um passeio pelas ruas antigas da cidade, apreciando azulejos, gradis, cobogós e ladrilhos do casario. "Conhecer a memória gráfica da arquitetura de Olinda é um modo de salvaguardar o patrimônio, uma vez que o casario e seus artefatos decorativos representam uma parte relevante da sua memória visual", escreve Renata Paes em trecho do livro.

O título é um desdobramento do trabalho que a designer apresentou na conclusão de seu curso de graduação, em 2017, no Campus Agreste da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ampliada para o livro, a pesquisa contemplou vias do Sítio Histórico, como a Ladeira 15 de Novembro e as Ruas Prudente de Moraes, de São Bento e do Amparo.

Gradis, cobogós, azulejos e ladrilhos

Moradora da Cidade Alta, ela dividiu as peças identificadas em dois grupos: padronagem e composição. Os gradis, incluídos no segundo grupo, por exemplo, "podem misturar módulos, peças simples e peças complexas, gerando uma gama infinita de composições totalmente diferentes umas das outras, com desenhos livres", diz Renata no livro, que tem 288 páginas, com ilustrações.

Inspirado nas treliças de madeira (muxarabis e gelosias) herdadas da cultura árabe, o cobogó passou a ser usado na cidade de Olinda a partir de 1935, em muros, varandas, fachadas, banheiros e cozinhas, informa a autora. É um anteparo contra o sol, sem impedir a passagem de luz e de vento.

Quanto aos azulejos, de acordo com Renata Paes, cobrem fachadas de casas desde meados do século 19. Além da função decorativa, protegem o imóvel contra umidade e ajudam a diminuir a temperatura.

Já o ladrilho hidráulico, diz a pesquisadora, chegou a Pernambuco em meados de 1820 e ganhou adeptos por ter menor custo, se comparado aos pisos de pedra e ao mosaico tradicional.

"Acredito que o resultado deste levantamento possa contribuir para que os moradores e visitantes criem uma cultura de preservação da cidade e, de posse dessas informações, se tornem também guardiões desses elementos."

A publicação traz textos dos arquitetos Antenor Vieira de Melo Filho e Nazaré Reis, pais da autora, e também da designer e pesquisadora Fátima Finizola, do historiador e arqueólogo Plínio Victor e do pesquisador Rodrigo Édipo.

Com história e com afeto

"Memória Gráfica da Arquitetura de Olinda" é, além de um trabalho de registro, um livro de memórias de Renata Paes, que guiou o trabalho a partir das conversas que ouvia dos pais à mesa de refeições e dos passeios que fazia com a família pelo Sítio Histórico e as ruas antigas do Bairro do Recife.

"Meus pais despertaram o meu olhar para a arquitetura da cidade. Por serem arquitetos preservacionistas, tinham uma ligação de preocupação e afeto por ela", conta.

"Meu pai me levava em longas caminhadas pela cidade e apontava cada detalhezinho do casario, desde o estuque de certa casa, feito por Mestre Lula e Caboclinho, até a preocupação pelas modificações irregulares que estavam aparecendo aos montes na cidade. Mainha, além de apontar os detalhes arquitetônicos, me trazia pro carnaval, me mostrava as árvores, as plantas e os pássaros. Eles viviam em eterna vigília e de olhos bem abertos para cada mínimo detalhe modificado na cidade. Acho que acabei crescendo com esse olhar já viciado, prestando atenção em todos esses detalhes."

Agora cursando mestrado, a pesquisadora se debruça na busca dos mesmos elementos nas construções antigas do Recife.

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