ELEIÇÕES 2022

SEGUNDO TURNO entre LULA e BOLSONARO: para os humoristas, esse é o momento 'para fazer rir' no Brasil

O clima está pesado no Brasil com o duelo Lula-Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial que divide profundamente o país, mas para o comediante Fabio Porchat, esse "é o momento mais necessário para fazer rir"

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Amanda Azevedo

Publicado em 29/10/2022 às 16:44 | Atualizado em 29/10/2022 às 19:51
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Da AFP

O clima está pesado no Brasil com o duelo Lula-Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial que divide profundamente o país, mas para o comediante Fabio Porchat, esse "é o momento mais necessário para fazer rir".

"É o melhor momento", insiste à AFP o artista de 39 anos, que continua a fazer seu espetáculo de stand-up entre os dois turnos do pleito.

Lula e Bolsonaro, dois perfis opostos para a presidência do Brasil

"Os ânimos estão aflorados. As pessoas estão nervosas e cansadas. Tem brigas dentro da própria família", mas quando "a gente se junta para ir no teatro, aí não importa se você é Bolsonaro, se você é Lula, ri de uma piada e ponto", acrescenta.

Seu espetáculo, "Histórias do Porchat", não fala de política.

Ele prefere tirar sarro de si mesmo contando perrengues de viagens mundo afora, como quando sentiu uma dor de barriga constrangedora no Nepal.

"Já falo de política no 'Papo de Segunda', nas minhas redes sociais, no Porta dos Fundos (...) No teatro, achei que esse era um momento, inclusive, para não falar (...) porque achava que as pessoas estavam precisando rir de outras coisas", explica o humorista.

No Instagram, onde é seguido por mais de seis milhões de inscritos, Fabio Porchat fez diversas transmissões ao vivo nas últimas semanas para dialogar com os indecisos "sem julgá-los", mesmo que não esconda que votará no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 30 de outubro.

- "Mais leveza" -

Para Yuri Marçal, fazer rir neste período eleitoral é uma questão de "saúde mental".

"Independente da época, nossa função sempre vai ser fazer rir, causar a leveza nos assuntos mais pesados. As pessoas querem mais ainda rir. Querem buscar um alívio", disse à AFP.

Na terça-feira, o humorista negro de 29 anos surpreendeu os fãs ao postar no Youtube um vídeo chamado "Não voto em ladrão".

Uma alusão ao refrão dos partidários do presidente Jair Bolsonaro e do próprio chefe de Estado, que constantemente chamam Lula de "ladrão", embora as condenações deste último por corrupção tenham sido anuladas pelo Supremo Tribunal Federal.

Mas, ao clicar no vídeo, percebemos que na verdade ele fala de um primo bolsonarista, "a ovelha branca da família", usando argumentos bem-humorados para convencê-lo a votar em Lula como ele.

"Falo sobre política, sobre questão racial já há muito tempo", diz ele, aludindo às suas piadas cheias de ironia que denunciam as desigualdades raciais no Brasil, na maioria das vezes baseadas em experiências pessoais.

- Ameaças -

Fábio Porchat lembra que "já houve piores momentos no Brasil e já se fez humor em momentos piores", principalmente durante a ditadura militar (1964-1985).

"As pessoas que faziam humor tinham que passar pela censura, faziam para 5 pessoas da censura e depois faziam para o público. Se tivesse um palavrão iam presos", explica.

Fazer humor no Brasil hoje em dia também tem seus riscos.

No final de 2019, a sede da produtora Porta dos Fundos, que Porchat cofundou em 2012, foi alvo de um ataque com coquetel molotov, após a exibição de uma ficção na Netflix mostrando Jesus parecendo ter um relacionamento homossexual.

Mas Porchat prefere relativizar. "Já me ameaçaram, mas na rua nunca ninguém me atacou, ninguém gritou comigo, porque na verdade esses malucos são tudo bunda mole, só são corajosos na internet, são minoria, muito menores que parecem ser".

Yuri Marçal também recebeu ameaças nas redes sociais, onde é seguido por mais de um milhão de pessoas no Instagram: "recentemente fiz um reels com minha reação de uma piada sobre Bolsonaro e chegou na minha DM 'a gente sabe onde você faz shows'".

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