LIVRO

Clássico de Frederico Pernambucano de Mello sobre cangaço nova edição

Livro "Guerreiros do Sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil", lançado em 1984, chega em sua sexta edição: 'O que predomina é a purificação dos dados, dever interminável de quem escreve', diz autor

Emannuel Bento
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Emannuel Bento
Publicado em 22/03/2023 às 13:49
VALDIR NOGUEIRA/CORTESIA
Vaqueiros do Pajeú-PE (1926) - FOTO: VALDIR NOGUEIRA/CORTESIA

Considerado um clássico do cangaceirismo, o livro "Guerreiros do Sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil", de Frederico Pernambucano de Mello, não pode faltar na estante dos interessados no tema. Publicado originalmente em 1985 e já esgotado, o estudo que aborda poder, estética e mística em volta do período ganha um nova edição pela Cepe Editora nesta quinta-feira (23), às 19h.

O evento de lançamento da sexta edição de "Guerreiros do Sol" ocorrerá na sede da Academia Pernambucana de Letras, localizada no bairro das Graças, Zona Norte do Recife. Com 544 páginas, a novidade chega ricamente ilustrado e ancorado numa extensa pesquisa realizada em jornais, na poesia sertaneja, em documentação histórica e em depoimentos escritos e orais.

Advogado de formação, Frederico Pernambucano de Mello é referência em estudos sobre o cangaço. De acordo com ele, a nova edição traz poucos acréscimos. “O que predomina é a purificação dos dados, dever interminável de quem escreve”, declara o escritor.

Clássico sobre cangaço

No livro, ele traça um panorama do homem sertanejo, descreve a violência instalada no país, analisa as formas de cangaço e ressalta a teoria do escudo ético, argumento da vingança usado por cangaceiros para exercer a bandidagem.

"Fazer-se cangaceiro era protagonizar uma tradição brasileira de insurgência coletiva, rural, armada e metarracial, essa última característica significando que se podia ascender na hierarquia dos bandos de cangaceiros independentemente do tipo racial a que se pertencesse", diz o escritor.

"Lampião era caboclo; Corisco, louro dos olhos claros; Luiz Pedro, Candeeiro e Elétrico, sararás; Zé Baiano, negro; Zé Sereno, negroide; Cobra Verde, moçárabe; Gato e Peitica, índios quase puros; Maria Bonita, alva; Dadá, mulata; Inacinha, índia".

ABA-FILM
Lampião e Maria Bonita em Sergipe; cena do filme de Benjamin Abrahão - ABA-FILM
VALDIR NOGUEIRA/CORTESIA
Volante pernambucana do tenente Sinhozinho Alencar (1926) - VALDIR NOGUEIRA/CORTESIA

Frederico Pernambucano analisa as figuras do cangaceiro, jagunço, pistoleiro, capanga, cabra e valentão. "O cangaceiro mostra não ter sido fenômeno homogêneo, divergindo segundo a motivação que levava o indivíduo a tomar armas, bem assim pela conduta adotada", destaca.

Ele identifica o cangaço como meio de vida (Lampião e Antônio Silvino são os principais representantes), o cangaço como instrumento de vingança (Jesuíno Brilhante e Sinhô Pereira são os grandes exemplos) e o cangaço como refúgio ( ngelo Roque é o mais expressivo).

Elogiado por pesquisadores nacionais e estrangeiros, como o sociólogo Gilberto Freyre e Billy Jaynes Chandler (escritor norte-americano com livros lançados sobre o cangaço brasileiro), “Guerreiros do Sol” é o resultado de uma vida dedicada à pesquisa.

JOÃO DAMASCENO LISBOA
Despojos do bando de Lampião. Combate final de Anjico. 1938. Cortesia da família João Bezerra - JOÃO DAMASCENO LISBOA
CEPE/DIVULGAÇÃO
Capa de "Guerreiros do Sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil" - CEPE/DIVULGAÇÃO

"Seguindo Gilberto Freyre, com quem trabalhei por quinze anos na Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, vali-me da mais aberta pluralidade de fontes, das mais carrancudas, cartório etc, às mais insuspeitadas, sem desprezar a poesia dos cantadores e os folhetos ditos de cordel, como os anúncios de jornal, sempre uma fonte purificando a outra", diz Frederico Pernambucano.

"O livro salienta a existência de dois Nordestes, o da agricultura de exportação, à frente a cana-de-açúcar, e o da pecuária, o ciclo do gado e do couro. Dois mundos, duas sociedades, dois homens, duas formas de motivação e exteriorização da violência, presente em ambos. Salienta, individualiza e conceitua os protagonistas dessa violência: o cabra, o capanga, o 'matador de pé de pau 'ou pistoleiro, o jagunço e o cangaceiro. Há ainda a salientar no livro uma teoria proposta e hoje adotada em geral, a do 'escudo ético'", continua o autor.

"Em essência, a narrativa adotada pelo fora da lei logo que vai ficando famoso, destinada a lhe justificar a conduta. Afinal, coragem, bravura e audácia produziam simpatia no universo rural, contudo, para a imortalização pela poesia de gesta era necessária uma justificativa moral compreensível."

Num texto publicado na 5ª edição (Selo A Girafa/SP, 2013), Evaldo Cabral de Mello, tido como um dos maiores historiadores do Brasil, define Guerreiros do Sol como "o mais abrangente e profundo estudo do cangaceirismo, tema sobre o qual muito já se escreveu, mas que só este livro aborda desde uma variedade de ângulos que vão do seu condicionamento socioeconômico pelo ciclo do gado à análise do arcaísmo cultural em que seus comportamentos deitam raízes, e ao acobertamento ético que habilita o cangaceiro a justificar o uso sistemático da violência perante si mesmo e perante a sociedade."

SERVIÇO
Lançamento do livro “Guerreiros do Sol: Violência e banditismo no Nordeste do Brasil", em evento aberto ao público
Onde: Academia Pernambucana de Letras (Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças, Recife)
Quando: 23 de março, a partir das 19h
Quanto: R$ 80 (impresso) e R$ 32 (e-book)

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