
Desde os tempos do Brasil Colônia, a nossa sociedade é marcada pelo açúcar, seja por seu cultivo e exploração, que ajudou a moldar economicamente o país, até o seu consumo, que hoje delineia a alimentação e a nutrição dos brasileiros.
Os setes personagens da peça "Sine qua non ou Tem uma usina dentro de mim", que estreia nesta sexta-feira (31), vivem experiências deflagradas a partir de uma situação de horror. Todos têm suas histórias de alguma maneira impactadas pelo açúcar.
O espetáculo conta com o apoio do Funcultura e faz curta temporada no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, Centro do Recife. As apresentações abertas ao público vão até o domingo (2), com sessões duplas diariamente: às 18h e às 20h. Os ingressos são gratuitos - é preciso retirar 1h antes de cada sessão na bilheteria do teatro.
Antes disso, na quarta (29) e quinta-feira (30), o grupo fará apresentações fechadas da peça com ações de acessibilidade para associações de pessoas em vulnerabilidade social e grupos culturais. No total, a peça terá 10 sessões.
A dramaturgia e a direção do espetáculo são de Jorge de Paula, que também integra o elenco. Ao lado dele estão Andrea Veruska, Arilson Lopes, Daniel Alcântara, Elis Costa, Iara Campos e Wagner Montenegro.
SOBRE A PEÇA


O autor escreveu o texto em 2014, durante uma experiência com o grupo Magrÿkory, do Sesc Santa Rita, no Recife, mas com o passar do tempo, o teatrólogo conseguiu estabelecer outras conexões, relações e referências a partir da dramaturgia.
"A minha definição para o espetáculo junta muitas referências e estudos que tenho feito nos últimos anos, além da minha experiência pessoal. Digo que é um carrego adulcicarado fármaco-pornográfico", explicita Jorge de Paula, que é arte-educador licenciado em Educação Artística/Artes Cênicas, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ator, encenador, escritor e produtor cultural.
A peça faz menções, por exemplo, ao professor Luiz Rufino, que escreveu livros como Pedagogia das Encruzilhadas; ao teórico Alexandre de Jesus, que trabalha com o conceito de ‘subjetividade adocicada’ em seus escritos; e ao filósofo Paul B. Preciado, que relaciona a indústria farmacêutica e a pornográfica, se aprofundando no fato de que essas duas indústrias atuam no ciclo da excitação-frustração, para que o consumo seja incitado ininterruptamente.
Se a dramaturgia não necessariamente faz menção direta ao açúcar, a encenação está repleta de referências, algumas mais diretas, como na cenografia de Renata Gamelo, no figurino de Thiago Amaral e na sonoplastia de Marcelo Sena, e outras mais dispersas, que vão dialogar com as diferentes experiências do espectador.
"Há uma empreitada açucareira que ajudou a nos forjar e que impacta as nossas vidas sem que muitas vezes tenhamos noção disso. É o que acontece com esses personagens. Alguns são doces, mas guardam o horror em si", conta Jorge de Paula, que há 21 anos desenvolve pesquisas sobre Teatro para a infância e juventude, Circo-teatro e Teatro do povo do Nordeste.
Dentre suas principais realizações estão os espetáculos No meio da noite escura tem um pé de maravilha (2009), O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas (2010), De Íris ao arco-íris (2013) e As conchambranças de Quaderna (2021). Com Sine qua nom ou Tem uma usina dentro de mim inaugura um novo momento criativo voltado à empreitada açucareira em Pernambuco.
SERVIÇO
Sine qua non ou Tem uma usina dentro de mim
Onde: Teatro Marco Camarotti (Sesc Santo Amaro – Rua Treze de Maio, 455, Santo Amaro)
Quando: 31 de março a 2 de abril (de sexta a domingo), às 18h e às 20h
Quanto: Gratuito - é preciso retirar o ingresso na bilheteria do teatro 1h antes de cada sessão. Sujeito à lotação do espaço.
Informações: (81) 3216-1728
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