TEATRO

Atores relatam 'sinais divinos' nos ensaios da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém; veja imagem

Klebber Toledo (Jesus), Eriberto Leão (Pilatos) e Nelson Freitas (Herodes) detalham experiência e impressões sobre os bastidores do espetáculo no maior teatro ao livre do mundo

Emannuel Bento
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Emannuel Bento
Publicado em 03/04/2023 às 16:42 | Atualizado em 04/04/2023 às 10:32
KENNEL ROGIS/DIVULGAÇÃO
PÁIXÃO DE CRISTO Klebber Toledo (Jesus) em cena no Templo de Jerusalém - FOTO: KENNEL ROGIS/DIVULGAÇÃO

O elenco da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém estava ensaiando no período da parte quando, durante a cena da ressurreição, o ator Nelson Freitas avistou uma nuvem com formato de uma pessoa com os braços estendidos - como um cristo redentor. Interpretando Herodes, ele atua pela primeira vez no espetáculo.

Emocionado, Freitas mostrou a imagem em seu celular durante a coletiva de imprensa realizada em Fazenda Nova na noite da última sexta-feira (31), após a sessão de pré-estreia com comitiva da governadora Raquel Lyra (PSBD) e imprensa. "Estou me surpreendendo com essas emoções. É genial", disse.

Klebber Toledo, ator que vive Jesus e também estreante na peça, compartilha do mesmo sentimento. "Aquela corda gigantesca que sobe a cruz na crucificação simplesmente rompeu durante um ensaio. Quem explica uma corda daquela se romper com o meu peso? Ninguém se machucou sério, Graças a Deus, mas acredito que aqui recebemos sinais o tempo inteiro.”

As falas servem para sintetizar a mística envolvida com tudo o que circunda essa Paixão de Cristo, que começou há meio século nas ruas da pequena vila do município do Brejo da Madre de Deus, no Agreste de Pernambuco, a 180 km do Recife.

Um espetáculo rodeado pelo místico

Iniciado no último sábado (1º), o espetáculo segue até o domingo da paixão (8). Além dos já citados, o elenco ainda conta com Eriberto Leão como Pilatos; Luiza Tomé como Maria; a atriz e influenciadora digital Duda Reis como a rainha Herodíades e mais 50 atores, além de centenas de figurantes e técnicos.

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PÁIXÃO DE CRISTO Washington Machado (João), Luíza Tomé (Maria) e Marina Pacheco (Madalena) - KENNEL ROGIS/DIVULGAÇÃO
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PÁIXÃO DE CRISTO Duda Reis (Herodíades e Nelson Freitas (Herodes) - KENNEL ROGIS/DIVULGAÇÃO

O texto de Plínio Pacheco atravessou gerações e dá a tônica da misticidade do evento ao lado do teatro ao ar livre de Nova Jerusalém. Todos os envolvidos no elenco apontam para o mesmo fato: o espaço, com nove palcos que reproduzem a Jerusalém do século I, carrega uma energia responsável por fazer tudo ser como é.

"Quem vive na região talvez já esteja acostumado, mas cada pessoa que vem de fora faz um depoimento", continua Nelson Freitas. Todo mundo me dizia: te prepara, porque é uma experiência transformadora. Thiago Lacerda, que viveu Jesus no passado, me disse o mesmo. E hoje tem um pedaço do seu coração espalhado por esse grande teatro."

"A experiência está no espetáculo em si, no cenário, na figuração, no poder dos atores, nos profissionais. Aqui existe uma estrutura de outro mundo. A gente está sempre sendo levado por surpresas, pois a proposta é surpreender e emocionar o público. Eu me emociono dezenas de vezes por dia, com coisas absurdamente simples", conclui Nelson.

Klebber Toledo relata experiência como Jesus

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PÁIXÃO DE CRISTO Klebber Toledo e Nelson Freitas (Jesus e Rei Herodes) - KENNEL ROGIS/DIVULGAÇÃO
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PÁIXÃO DE CRISTO Cena Mater Dolorosa - KENNEL ROGIS/DIVULGAÇÃO

Questionado sobre a relevância do papel em sua carreira, Klebber Toledo afirmou que "o grande papel é sempre de agora, como ator”. "Como ser humano, acredito que eu me transforme mais apenas quando tiver filhos".

"Estamos realizando um espetáculo lindo e que toca cada pessoa que vem aqui. Hoje, eu tenho a certeza de que esse teatro é um lugar transformador. Quem vem aqui não sai da mesma forma. Mesmo você vier muito fechado, você sai com alguma transformação", continua.

O ator ressaltou que a cidade-teatro precisa ser preservada pelo poder público. "Os nossos governos precisam olhar para isso daqui e dizer que é único. Tem que ser para sempre. Temos de parar de ter problemas para tudo o que temos de fazer. O artista precisa parar de ser julgado como um bandido, como um ladrão. Somos educadores, estamos sendo instrumentos da palavra divina para todos."

Sebastianismo

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PÁIXÃO DE CRISTO Eriberto Leão e Klebber Toledo, Pilatos e Jesus - KENNEL ROGIS/DIVULGAÇÃO

Eriberto Leão ressaltou o aspecto "sebastianista" do espetáculo e da cidade-teatro. O sebastianismo foi movimento profético que surgiu em Portugal no século 16 e que inspirou as artes no Brasil no começo do século 20, a exemplo de obras como "Pedra Bonita”, de José do Lins do Rego, e "A Pedra do Reino", de Ariano Suassuna.

"Tem que ter um movimento para criar um documentário meio Código da Vinci em relação à Nova Jerusalém. Como uma pessoa constrói algo assim no meio do Agreste pernambucano? É um espaço que emociona junto com o texto, atingindo o coração das pessoas de outra forma", diz Leão.

O ator opina que o texto de Pacheco não é essencialmente religioso, mas sim filosófico, com influência de um cristianismo primitivo da antiguidade grega. "Falar de um cristianismo não religioso hoje, depois de tudo o que ocorreu no Brasil, é algo realmente interessante. Plínio Pacheco sabia disso e não escreveu assim por acaso."

Eriberto diz que o seu Pilatos também teve influência grega. "Fiz um Pilatos leitor de Marco Aurélio (imperador romano que morreu no ano 180). Acho que nesse entretenimento existe uma arte mais profunda: há um diálogo filosófico entre Jesus e Pilatos em que se explana que o mal existe apenas pelo poder. O poder gera o mal e deixa as pessoas iludidas."

SERVIÇO
As entradas para o espetáculo estão à venda pelo site oficial https://www.novajerusalem.com.br/. Os valores são de e R$ 180,00 e R$ 90 (meia) para as apresentações na segunda (3), terça (4) e quarta-feira (5). Nos demais dias: R$ 100,00 meia e R$ 200,00 inteira. As compras podem ser feitas em até 12 X nos cartões.

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