Como levar as discussões sobre racismo para as escolas? A professora Odailta Alves acredita que a arte seja uma ferramenta fundamental para atingir esse objetivo. Desde 2017, ela tem realizado o monólogo “Clamor Negro”, baseado no seu livro homônimo de poesias, de 2016, em diversos espaços educativos. Mais de 5 mil pessoas já assistiram ao projeto em Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Bahia.
O objetivo da artista é seguir provocando reflexões sobre a situação do negro no Brasil, em especial a das mulheres negras, sobretudo nesse momento do ano em que liberdade negra é atribuída a Princesa Isabel - 13 de maio, no sábado, marca o aniversário da assinatura da Lei Áurea.
Com oito atos, o roteiro interliga fatos históricos com questionamentos que acompanham as diferentes gerações do Movimento Negro.
Odailta iniciou o espetáculo por conta própria, sem remuneração, em 2017. O projeto foi aprovado pelo edital do Funcultural 2020/2021 e passou a contar com as participações cantora e compositora Isaar; da intérprete Darana Costa no roteiro, costurando poemas com crônicas autobiográficas; e uma trilha sonora escrita em conjunto por Odailta e Isaar.
Todo o espetáculo conta com interpretação para Língua Brasileira de Sinais por Joselma Santos. Érika Gonçalves assina a produção da peça com auxílio de Samantha William e Mayara Barbosa assume a produção de mídias. Toda a equipe é formada por mulheres, em sua maioria negras.
Clamor Negro ainda ganhou Prêmio Roberto de França (Pernalonga) de Teatro como Melhor Monólogo. “É poético, mas muito didático em relação ao letramento racial”, resume Odailta Alves, em entrevista ao JC. “Após a aprovação no Funcultura, iniciamos uma nova turnê e estamos andando por escolas. Já fizemos Aliança, Caruaru, Escada e Recife. No dia 22 de maio iremos para Custódia e Itabira. Em julho, iremos fazer uma curta temporada no espaço O Poste Soluções Luminosas”, diz.
A educadora enxerga uma receptividade “fantástica” nas escolas. “Estudantes dizem como foi maravilhoso e empoderador. Em textos, vimos estudantes de terreiro com orgulho de serem de terreiro. Isso é ótimo, pois muitas vezes eles não se sentem acolhidos no ambiente escolar. O espetáculo traz um letramento racial através da arte, da poesia, da dança e da música”, diz.
Odailta ressalta que, na maioria das vezes, a discussão de racismo não chega nas escolas - ou não da maneira mais acessível. “O racismo é naturalizado e se coloca no lugar da brincadeira. Racismo não é brincadeira, é violência. As pessoas que praticam também não se dão conta. O projeto traz essas nuances, são coisas sutis. Existe um discurso que tenta minimizar o racismo por sermos miscigenados. Mas a troco de que? Do estupro de mulheres negras na formação do pas. Esse lugar de fala comum da sociedade, é na verdade, muito violento.”