PATRIMÔNIO

Engenho Massangana recebe visita técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

Técnicos receberam uma mediação educativa pelo equipamento cultural da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e avaliaram as condições físicas do espaço

Emannuel Bento
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Emannuel Bento
Publicado em 23/05/2023 às 14:50
PREFEITURA DO CABO DE SANTO AGOSTINHO/DIVULGAÇÃO
Engenho Massangana, tombado como Parque Nacional da Abolição, pode ter tombamento federal - FOTO: PREFEITURA DO CABO DE SANTO AGOSTINHO/DIVULGAÇÃO

Localizado no Cabo de Santo Agostinho, município ao Sul do Grande Recife, o Engenho Massangana foi visitado por técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para avaliar seu tombamento federal.

Foi nesse casarão de 765 metros quadrados, construído no início do século 19, que Joaquim Nabuco passou parte de sua infância. Não por acaso, quem administra o espaço na atualidade é a Fundação Joaquim Nabuco, que montou a exposição permanente "Massangana e Nabuco – O tempo revisitado".

Na visita realizada neste último final de semana, os técnicos coletaram informações sobre o engenho e sobre as ações que o equipamento cultural se propõe a realizar ou já realiza junto com a comunidade.

O grupo de técnicos do Iphan, formado pela arquiteta Ana Paula Bittencourt; o arquiteto Clóvis Lins; a projetista Mariana Fonseca; e a historiadora Livia Moraes, buscou, com a visita, complementar informações já pontuadas previamente no processo.

FUNDAJ/DIVULGAÇÃO
Técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) visitam o Engenho Massangana, no Cabo de Santo Agostinho - FUNDAJ/DIVULGAÇÃO
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Técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) visitam o Engenho Massangana, no Cabo de Santo Agostinho - FUNDAJ/DIVULGAÇÃO
FUNDAJ/DIVULGAÇÃO
Técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) visitam o Engenho Massangana, no Cabo de Santo Agostinho - FUNDAJ/DIVULGAÇÃO

A arquiteta Ana Paula Bittencourt detalhou que para o processo de tombamento é importante para que o espaço tenha interação com a comunidade local e trabalhe coletivamente. "O tombamento hoje em dia não é mais um processo apenas técnico, é preciso envolver a comunidade e ter esse desejo pela sustentabilidade e participação coletiva como base. Como isso já é um trabalho realizado pelo Engenho Massangana, esse processo acaba sendo mais fluído", adiantou a arquiteta.

"É a garantia da preservação efetiva deste espaço histórico. A conversa que estamos iniciando com o Iphan nesta manhã é de não só tombar os complexos arquitetônicos, a Casa Grande e a Capela de São Mateus, como foi previamente planejado, mas sim todo o perímetro do Engenho Massangana, pois vai garantir a conservação por inteiro deste equipamento cultural", diz coordenador de Museologia do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), Albino Oliveira.

Ainda participaram da visita técnica do Iphan ao Engenho Massangana o chefe de gabinete da presidência da Fundaj, José Amaro Barbosa; a antropóloga da Divisão de Estudos Museais do Muhne, Ciema Mello, o coordenador de Museologia do Muhne, Albino Oliveira, a coordenadora de Ações Educativas e de Ações Comunitárias do Muhne, Edna Silva, o arquiteto e analista de Ciência e Tecnologia da Fundaj, Ronaldo de Carvalho L´Amour, e os servidor da Fundaj, Edson Bezerra.

Político e diplomata, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (1849-1910) nasceu no sobrado de número 147 da Rua da Imperatriz, Centro do Recife. Apesar de educado numa família escravocrata, tornou-se abolicionista e lutou em favor dos escravos. O casarão da sua infância, situado no km 10 da PE-60, no Cabo, foi desapropriado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 1972 e doado ao governo do Estado em 1983. O casarão, repassado à Fundação Joaquim Nabuco, integra a lista de bens tombados pelo Estado.

"Acredito que o menino nunca saiu de dentro do homem. Joaquim Nabuco saiu daqui quando tinha oito anos, mas já saiu abolicionista e nunca deixou de ser Massangano. A ideia que temos é dedicar esse espaço a uma herança afro descendente no panorama geral da cultura brasileira. A nossa responsabilidade é criar ações conexas e convergentes, em um esforço diário de merecer este espaço histórico e convidar o Iphan a fazer parte desta dedicação que é contínua e conjunta", reforça a antropóloga Ciema Mello.

Exposições

FUNDAJ/DIVULGAÇÃO
Engenho Massangana, no Cabo de Santo Agostinho - FUNDAJ/DIVULGAÇÃO
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Engenho Massangana, no Cabo de Santo Agostinho - FUNDAJ/DIVULGAÇÃO

O Engenho Massangana também está com duas exposições temporárias. A mostra "Masanganu: memórias negras" dialoga com documentos históricos relacionados à vida dos escravizados da propriedade e trabalhos visuais de grandes artistas pretos do país, como a referência no cinema negro brasileiro, Zózimo Bulbul; o quadrinista, Marcelo D’Salete; e Gê Viana, artista plástica maranhense.

Referenciando à expressão cunhada no século 19 como sátira à promulgação da Lei Feijó, que proibia o tráfico de escravos, mas nunca saiu do papel, a mostra "Jeff Alan: pra deixar de ser 'pra inglês ver'" desvela a relação entre memória e reconhecimento da população negra, a partir da exibição de 12 obras, entre os rostos de Machado de Assis e Carolina de Jesus, pintadas pelo artista visual pernambucano Jeff Alan.

Desde o início de 2023, o equipamento cultural recebeu a visita de 11 escolas públicas e 16 colégios da rede privada do estado de Pernambuco, além de demais grupos de visitantes e atendentes espontâneos ao Engenho, que totalizam mais de 1.689 pessoas. Desde a reabertura do espaço em agosto de 2022, e a partir desta nova proposta de expografia, mais de 6.409 pessoas foram conhecer a antiga casa.

O Engenho

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Transformado em museu, o Engenho Massangana conta a história do famoso abolicionista a visitantes de todo o Brasil e do exterior, em especial portugueses - NE10
Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
- Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
Hélia Scheppa/JC Imagem
Engenho Massangana, no Cabo de Santo Agostinho - Hélia Scheppa/JC Imagem

Conjunto arquitetônico rural do século 19, composto pela Casa-Grande e Capela de São Mateus em uma área de dez hectares, o Engenho Massangana tem nome de origem africana. Vem do rio Massangana que, na época do auge do açúcar, servia para o escoamento do que era produzido nele, e nos engenhos da região, até o porto do Recife. Acredita-se que Tristão de Mendonça tenha fundado o Engenho Massangana, por meio da doação de um pedaço de terra do município feita por Duarte Coelho, primeiro donatário da Capitania de Pernambuco.

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