O Secretário de Cultura de Pernambuco, Silvério Pessoa, anunciou nesta quinta-feira (20), que está deixando o Governo do Estado. No comunicado à governadora Raquel Lyra (PSDB), Silvério alegou "razões pessoais" para entrega do cargo.
“Despeço-me do cargo com o sentimento de dever cumprido e a certeza de ter dado voz a quem muitas vezes está à margem do processo, valorizando nossos artistas e suas mais variadas expressões e linguagens inseridas também nas culturas das periferias em todo o Estado”, destacou Silvério, segundo nota divulgada pelo Executivo.
A saída de Silvério Pessoa ocorre na véspera da abertura da 31ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), que sofreu, por parte do público, diversas críticas com relação a demora na divulgação da programação e também sobre as atrações confirmadas para este ano.
Silvério antecipou para a governadora que vai voltar a se dedicar à carreira e à docência. “Agradeço a Silvério pela dedicação à frente da Secretaria de Cultura e por todo o trabalho de escuta e execução de ações estruturadoras para o setor, incentivando diversas linguagens e expressões culturais e valorizando os nossos artistas”, frisou a chefe do Executivo estadual.
Com sete meses de governo, essa é a primeira baixa no secretariado da gestão de Raquel Lyra.
Silvério Pessoa iniciou a sua carreira artística nos anos 1990, surfando na onda do movimento manguebeat com a banda Cascabulho. Ele deixa a gestão sem conseguir deixar uma "assinatura" ou legado.
No início, falava sobre valorizar artistas locais e olhar mais para os interiores e periferias. Para isso, criou o o Fala Periferia!, com o objetivo de descentralizar suas ações. A ideia era realizar uma troca de ideias, escutas, propostas e demandas em torno da cultura popular contemporânea pernambucana.
Bastidores da saída de Silvério Pessoa
Fontes ligadas à Secult-PE/Fundarpe afirmam que a relação entre Silvério Pessoa e o Palácio já havia sendo desgastada nas últimas semanas, mas o principal motivo da saída seria o desligamento de integrantes da equipe na última semana.
No dia 14 de julho, por exemplo, o Diário Oficial publicou a dispensa de José Edson de Lucena Cisneiros, que atuava como Secretário Executivo de Gestão por indicação do próprio Silvério.
Também se desligaram da pasta a Gestora Jurídica, Brunna Melo Casanova; a Gerente de Planejamento, Ana Luiza Scheidegger de Lima; e a Gerente Administrativo Financeira, Andréa Carla Souza Cavalcanti Andrietta.
O evento do Agreste estaria entre as causas do desgaste - não à toa, Pessoa deixou a pasta na véspera do começo da programação. Neste ano, o governo diminuiu as diárias da equipe técnica que cuida da montagem dos palcos, além de outras restrições de verba acerca de custeamento de estadia e transporte. Isso estaria fazendo Silvério receber muitas cobranças por parte da classe artística.
Também comenta-se sobre uma falta de autonomia do secretário, pois a Casa Civil estaria interferindo demasiadamente na pasta. Essa interferência seria personalizada por Fúlvio Wagner, Gerente Geral de Acompanhamento de Projetos da Casa Civil, que apresentou a coletiva do FIG, realizada em Garanhuns em 10 de julho. Fúlvio foi gestor de eventos da Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru de 2017 a 2021, na gestão de Raquel Lyra no município.
Desenhada na sua atual formatação em 2011, a Secult-PE tem por finalidade e competência promover e executar a política cultural do Estado; promover ações para mobilizar o apoio técnico necessário à produção cultural; fomentar e promover a arte brasileira fundamentada nas raízes da nossa cultura; e executar a política de preservação e conservação da memória do patrimônio histórico, arqueológico, paisagístico, artístico, documental e cultural do Estado.
Confira na íntegra a carta entregue pelo secretário de Cultura, Silvério Pessoa, à governadora Raquel Lyra:
Governadora Raquel Lyra,
Hoje as minhas primeiras palavras são de despedida e gratidão.
Agradeço a confiança pelo convite para o honrado cargo de secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, posição que com dedicação ocupei nos últimos meses. Como em todos os ciclos da vida, no entanto, chegou o momento de encerrar essa jornada: sem dúvidas, tempo de aprender, tempo de semear as bases de uma política cultural mais múltipla e democrática no nosso Estado.
Despeço-me do cargo com o sentimento de dever cumprido e a certeza de ter dado voz a quem muitas vezes está à margem do processo, valorizando nossos artistas e suas mais variadas expressões e linguagens inseridas também nas culturas das periferias em todo o Estado.
Estruturar e fomentar a política cultural de um Estado tão rico e diverso como Pernambuco não é tarefa simples, mas tenho a convicção que contribui com o processo. Nesse período, trazer à tona o debate sobre a pedagogia da cultura e a multiculturalidade e riqueza da cultura periférica, através do “Fala, Periferia”, que lançamos em abril, são exemplos de ações estruturadoras que por certo renderão bons frutos.
Implantamos com a Secretaria de Educação o projeto de alfabetização dos mestres e mestras da Zona da Mata e promovemos muitas escutas através do “Secult de Andada”, percorrendo quase 1.500 km visitando e me reunindo com aqueles que têm dificuldades em obter acesso ou qualquer tipo de apoio.
Estruturamos a execução da Lei Paulo Gustavo e fomos o primeiro estado do Nordeste e um dos primeiros estados do Brasil a ter o plano de ação aprovado e os recursos liberados.
O olhar para as diferenças e particularidades de cada linguagem esteve presente no nosso cotidiano, refletindo a construção das ações de uma política cultural forte e pulsante, marcada pela valorização dos artistas pernambucanos.
Premissas que também marcam a organização do 31º Festival de Inverno de Garanhuns, que se inicia nesta sexta-feira (21), com a presença dos nossos talentos, acompanhados de tantos outros nomes da cena artística e cultural do nosso país.
Decidi dedicar meu tempo agora para minha carreira e, também para a docência, pois como artista e professor sinto falta dos palcos e da sala de aula.
Agradeço ao time da Secretaria, que esteve junto comigo nesta jornada, desejando muito sucesso e novas conquistas para os que seguem na missão de mudar Pernambuco.
Por fim, agora como artista e pernambucano, seguirei na torcida e sempre à disposição, em outros palcos, em defesa da nossa cultura.